A Polícia Federal realizou uma operação nesta terça-feira, em três Estados - Goiás, São Paulo e Rio de Janeiro -, contra a construtora Delta - que, segundo as investigações, desviou R$ 300 milhões em recursos públicos para 19 empresas de fachada. Agentes da PF apreenderam três carros de luxo do empresário Fernando Cavendish, ex-dono da Delta, na casa onde ele mora, na avenida Delfim Moreira, no Leblon, zona sul do Rio de Janeiro.
<a data-cke-saved-href="http://www.terra.com.br/noticias/infograficos/batismo-de-fogo/" href="http://www.terra.com.br/noticias/infograficos/batismo-de-fogo/">Os nomes “inusitados“das operações policiais</a>
"A princípio, são bens adquiridos com dinheiro ilícito", afirmou o superintendente regional da PF/RJ, delegado Roberto Cordeiro. A Operação Saqueador cumpriu 20 mandados de busca e apreensão em endereços comerciais e residenciais.
Cavendish não estava em casa quando os agentes chegaram. A PF afirmou que, além dos carros, também foram recolhidos R$ 350 mil em dinheiro (em todos os mandados), além de documentos e computadores que poderão ser usados como provas dos desvios de recurso público federal, estadual e municipal.
"Está sendo feito um exame pericial em todo o material coletado, e a investigação está em curso", afirmou o delegado Tacio Muzzi, responsável pela investigação no Rio de Janeiro.
"Já se materializou que a sede social (das empresas de fachada) não é compatível com o montante de recursos ,e os sócios não apresentam o perfil de gente que movimenta tal volume de dinheiro nessas contas. A maior parte das empresas nunca teve funcionário registrado. Tudo isso denota que essas empresas são de papel", completou Muzzi.
Os desvios até agora comprovados ocorreram entre os anos de 2007 e 2012, quando teve início a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) no Congresso Nacional, que investigou a ligação do bicheiro Carlinhos Cachoeira com empresários e políticos. A partir dos dados repassados pela CPI é que ocorreu o aprofundamento das investigações.
Não está descartada a participação de entes públicos, embora o delegado responsável tenha esclarecido que "os mandatos cumpridos hoje não envolvem nenhum político". "A investigação ainda está sendo aprimorada", afirmou Muzzi. A PF estipula um prazo de 30 dias para que o trabalho de perícia do material apreendido seja concluído.
Se comprovado o desvio de dinheiro público, os envolvidos, incluindo o empresário Fernando Cavendish, responderão pelos crimes de lavagem de dinheiro, peculato, corrupção ativa e passiva e formação de quadrilha. À tarde, por meio de nota oficial, a Delta Construções se defendeu das acusações e se colocou à disposição para todo e qualquer esclarecimento:
"A Delta Construções foi surpreendida pela operação policial de busca e apreensão realizada na manhã desta terça-feira (01/10), uma vez que encontra-se em recuperação judicial, homologada em janeiro de 2013 pelo juízo da 5ª Vara Empresarial do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Toda movimentação financeira e contábil da empresa é acompanhada e fiscalizada pela Justiça, Ministério Público e administrador judicial Deloitte Touche Tohmatsu. A Delta afirma que todos os esclarecimentos serão prestados às autoridades competentes, contribuindo de forma plena com a investigação."
Nos últimos anos, tem chamado a atenção da opinião pública o luxo ostentado por criminosos presos pela polícia. Nas grandes operações da Polícia Federal, por exemplo, é comum ver carros de luxo - como Ferraris e Porsches - apreendidos, seja por estarem com a documentação irregular ou por terem sido comprados com dinheiro sujo. O Terra selecionou mais de 30 supercarros apreendidos nos últimos 4 anos, que, juntos, valem mais de R$ 10 milhões. Veja o "salão do automóvel do crime":
Foto: Divulgação
Em abril de 2009, a alfândega apreendeu no porto de Santos (SP) sete carros de luxo importados ilegalmente. Entre os veículos estava um Ford Mustang GT500 Shelby 200, ano 2008, avaliado em R$ 305 mil
Foto: Divulgação
Na mesma apreensão, foi recolhido um Porsche Cayenne 2008, com valor estimado em R$ 319 mil
Foto: Divulgação
Um segundo Porsche Cayenne 2008, avaliado em R$ 319 mil, também foi apreendido
Foto: Divulgação
Uma Mercedes-Benz C200 Kompressor, ano 2009, com placas do Paraguai, foi apreendida na mesma ação da Receita Federal. O veículo estava avaliado em R$ 150.900
Foto: Divulgação
Um crossover Infiniti FX35, no valor de R$ 140 mil, estava no lote apreendido pela Receita
Foto: Divulgação
Automóvel Dodge Charger SE Plus, modelo 2008, foi estimado em R$ 160 mil. Carro foi importado ilegalmente em abril de 2009
Foto: Divulgação
Em setembro de 2009, a PM localizou, em Itatiba (SP), um automóvel Mercedes-Benz SLK 200, avaliado em R$ 202,9 mil, que pertenceria ao traficante Gelson Gomes, o Gelsinho, integrante do Primeiro Comando da Capital (PCC)
Foto: Divulgação
Durante a Operação Maranello, desencadeada em setembro de 2009 em Mato Grosso, a PF apreendeu um Porsche Boxter pertencente a um suspeito de tráfico de drogas. O carro estava avaliado em R$ 319 mil
Foto: PF / Divulgação
Na mesma operação, foi apreendido um Chevrolet Corvette, com valor estimado em R$ 294.747,00
Foto: PF / Divulgação
Uma Ferrari F430 Spyder F1 pertencente a um suspeito de tráfico de drogas, no valor de R$ 1.136.590,00, também foi apreendida na Operação Maranello
Foto: PF / Divulgação
Os suspeitos também eram donos de uma Mercedes-Benz SLK 200, avaliada em R$ 202.900
Foto: PF / Divulgação
Em maio de 2010, Éder de Souza Conde, conhecido como Beira-Mar do Paraná, foi preso pela PF, acusado de chefiar uma quadrilha de tráfico de drogas. Na sua garagem, foram encontrados um Porsche Boxter (R$ 319 mil), uma BMW X5 (R$ 299.550) e uma BMW 318i (R$ 103.630)
Foto: PF / Divulgação
A Receita Federal leiloou, em junho de 2010, 50 veículos apreendidos no porto de Santos. Entre os automóveis estava uma Lamborghini Murciélago 2008, avaliada em R$ 1,2 milhão
Foto: Receita Federal / Divulgação
Também foi a leilão uma Ferrari F430 Spyder F1, com valor estimado em R$ 1.043.347,00
Foto: Receita Federal / Divulgação
Uma Ferrari 360 Modena F1, avaliada em R$ 676.519, também foi incluída no leilão
Foto: Receita Federal / Divulgação
Em setembro de 2010, a Receita Federal fez novo leilão de veículos, desta vez em São Leopoldo (RS). Entre os mais de 40 carros leiloados estava um Pontiac Solstice conversível, ano 2007, avaliado em cerca de R$ 130 mil
Foto: Receita Federal / Divulgação
No mesmo leilão estava um Porsche Cayenne, de R$ 319 mil, importado irregularmente
Foto: Receita Federal / Divulgação
Hummer H3, com valor estimado em R$ 190 mil, tinha lance mínimo de R$ 20 mil
Foto: Receita Federal / Divulgação
Alfa Romeo 159 importada ilegalmente podia ser arrematada por R$ 30 mil. O automóvel estava avaliado em R$ 168 mil
Foto: Receita Federal / Divulgação
Veículo raríssimo no Brasil, Alfa Romeo Brera apreendida pela Receita tinha lance mínimo de R$ 25 mil. Seu valor estava estimado em R$ 170 mil
Foto: Receita Federal / Divulgação
Em maio de 2011, a Polícia Civil de Minas Gerais prendeu uma quadrilha especializada em roubo de veículos de luxo em Belo Horizonte. Entre os veículos roubados estava um Volvo XC60, avaliado em R$ 155.125
Foto: Divulgação
A Polícia Civil identificou, em agosto deste ano, uma quadrilha que roubava, clonava, adulterava e receptava veículos de luxo em São Paulo. Entre os itens apreendidos estava uma Range Rover com placas clonadas, avaliada em R$ 282 mil
Foto: Polícia Civil / Divulgação
Em menos de um mês, a Receita Federal apreendeu em Belo Horizonte (MG) duas Ferraris Testarossa com placas idênticas, ambas na cor vermelha. O primeiro automóvel, avaliado em R$ 300 mil, foi apreendido no dia 28 de julho de 2011
Foto: Receita Federal / Divulgação
A segunda Ferrari, também avaliada em R$ 300 mil, foi apreendida 13 dias depois
Foto: Receita Federal / Divulgação
A Polícia Federal (PF) realizou uma operação no dia 24 de novembro de 2011 para desarticular uma quadrilha suspeita de cometer fraudes bancárias através da internet. Com os suspeitos, foram apreendidos nove veículos, incluindo um Porsche 911 Turbo Coupé, avaliado em R$ 625 mil
Foto: PF / Divulgação
Em agosto de 2012, a Receita Federal apreendeu em Curitiba (PR) dois Camaros conversiveis e uma Ferrari California, avaliados em R$ 1,6 milhão
Foto: Receita Federal / Divulgação
A Polícia Civil de Santa Catarina apreendeu, em setembro de 2013, um BMW 650i, avaliado em R$ 200 mil, que havia sido furtado no RJ. Com motor de V8, existem apenas seis unidades do modelo rodando no Brasil
Foto: Polícia Civil / Divulgação
Durante a Operação Esopo, que investigou fraudes no Ministério do Trabalho, a Polícia Federal apreendeu, no início de setembro de 2013, um conversível Saturn Sky, pertencente a um dos membros da quadirlha
Foto: Polícia Federal / Divulgação
Desencadeada pela PF em 19 de setembro de 2013, a Operação Miqueias apreendeu diversos carros de luxo, incluindo uma Ferrari 458 Spider
Foto: Elza Fiuza / Agência Brasil
Ferrari apreendida está avaliada em mais de R$ 1,9 milhão
Foto: Elza / Agência Brasil
Lamborghini Gallardo e Chevrolet Corvette também estão entre os carros de luxo apreendidos na Operação Miqueias
Foto: Elza Fiuza / Agência Brasil
Compartilhar
Publicidade
Proximidade com Sérgio Cabral
Cavendish também foi tema do noticiário nacional por sua proximidade com o governador Sérgio Cabral, quando a mulher do empresário, Jordana Kfouri, morreu num acidente de helicóptero no litoral sul da Bahia. No mesmo voo, estava a namorada de um dos filhos de Cabral, que também morreu.
O episódio apenas foi o início da apuração da proximidade do poder público estadual com a Delta, detentora de vários contratos com recursos públicos na gestão Cabral. O governador, inclusive, reviu sua postura ao confessar, na época, que já havia usado o transporte aéreo oferecido pela empresa.
Meses depois, imagens de um jantar anterior à tragédia realizado no principado de Monte Carlo em que aparecem o governador e o empresário com suas respectivas esposas vieram a público e terminaram de deixar evidente a proximidade dos dois. A partir desse episódio, junto com a impopular postura do governador diante do caso da greve dos bombeiros, Sérgio Cabral tornou-se o principal alvo das manifestações populares no Rio de Janeiro. Pesquisa nacional do Ibope colocou o peemedebista como o governador mais mal avaliado do País.