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Polícia

Ex-secretário diz que falou com Fleury somente após invasão do Carandiru

Pedro Franco de Campos disse que a presença da polícia na Casa de Detenção era necessária, já que havia registro de mortes entre os presos

30 jul 2013 - 12h02
(atualizado às 17h50)
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<p>Julgamento do Massacre do Carandiru entrou na segunda etapa nesta semana</p>
Julgamento do Massacre do Carandiru entrou na segunda etapa nesta semana
Foto: Fernando Borges / Terra

O ex-secretário de Segurança Pública do Estado de São Paulo Pedro Franco de Campos afirmou nesta terça-feira, no Fórum Criminal da Barra Funda, que só conseguiu falar com o ex-governador Luiz Antonio Fleury Filho após o Pavilhão 9 da Casa de Detenção ter sido invadido pela Polícia Militar no dia 2 de outubro de 1992. A ação terminou com um saldo de 111 mortos, 102 deles a tiros.

Campos foi ouvido na condição de testemunha convocada pela defesa dos 25 réus que atuaram no terceiro pavimento do prédio. Eles são acusados como responsáveis por 73 das 111 mortes. "Quando conversei com o governador, já havia a invasão. Tínhamos a informação de que a briga entre os presos era mais séria do que se imaginava. Não tive nenhuma dúvida (em autorizar a entrada)", disse.

Ele conta que falou por telefone com o coronel Ubiratan Guimarães, chefe da tropa naquele dia, e autorizou a ação. A justificativa dada pelo coronel era a de que a situação era bastante grave. "Havendo a necessidade da entrada, está autorizada a entrada", disse ele ao coronel. "Ele (Ubiratan) usou a expressão 'caótica' (para descrever a situação)", afirmou o secretário.

Campos diz que ao tomar conhecimento do número de mortos, teve a informação de que vários presos haviam sido mortos com golpes de armas brancas. "Fiquei ainda mais tranquilo, certo da necessidade de intervenção."

Julgamento

O segundo dia do julgamento dos 25 policiais militares acusados por 73 das 111 mortes ocorridas em 2 de outubro de 1992, terá ainda mais cinco testemunhas ouvidas nesta terça-feira. Após o depoimento de Pedro Franco de Campos, será ouvido o ex-governador de São Paulo, Luiz Antonio Fleury Filho, além de outra testemunha protegida por sigilo. Outra delas falou antes da presença do ex-secretário.

No fim da tarde, dois vídeos com depoimentos dos desembargadores Ivo Almeira e Luís Augusto San Juan França serão apresentados. Eles prestaram esclarecimentos à Justiça em abril, quando foram julgados os primeiros policiais militares envolvidos no crime.

Nesta segunda-feira, começou a segunda fase do julgamento, iniciado em abril com a condenação de 23 policiais militares - todos integrantes do 1º Batalhão de Choque (a Rota - Rondas Ostensivas Tobias Aguiar). Eles receberam uma pena de 156 anos de prisão, em regime fechado, por conta de 13 das 15 mortes ocorridas no primeiro andar do prédio. Todos recorrem da sentença em liberdade.

Nessa primeira etapa, os policiais receberam a pena mínima para cada homicídio, que é de seis anos, somada a mais seis anos por impossibilitarem a defesa das vítimas. Os 12 anos foram multiplicados pelas 13 mortes para se chegar ao resultado final da sentença. Na ocasião, o júri ainda absolveu três PMs denunciados: Roberto Alberto da Silva, Eduardo Espósito e Maurício Marchese Rodrigues, seguindo recomendação do próprio Ministério Público. A justificativa é que eles não atuaram no 1º andar do pavilhão com a tropa.

Relembre o caso

Em 2 de outubro de 1992, uma briga entre presos da Casa de Detenção de São Paulo - o Carandiru - deu início a um tumulto no Pavilhão 9, que culminou com a invasão da Polícia Militar e a morte de 111 detentos. Os policiais são acusados de disparar contra presos que estariam desarmados. A perícia constatou que vários deles receberam tiros pelas costas e na cabeça.

Entre as versões para o início da briga está a disputa por um varal ou pelo controle de drogas no presídio por dois grupos rivais. Ex-funcionários da Casa de Detenção afirmam que a situação ficou incontrolável e por isso a presença da PM se tornou imprescindível.

A defesa afirma que os policiais militares foram hostilizados e que os presos estavam armados. Já os detentos garantem que atiraram todas as armas brancas pela janela das celas assim que perceberam a invasão. Do total de mortos, 102 presos foram baleados e outros nove morreram em decorrência de ferimentos provocados por armas brancas. De acordo com o relatório da Polícia Militar, 22 policiais ficaram feridos.

Fonte: Terra
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