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'Não são só médicos e enfermeiros': o pedido por visibilidade ao trabalho de maqueiros no combate à covid-19

Com fotos nas redes sociais, filhos dos profissionais que movem e carregam pacientes pedem reconhecimento do trabalho dos pais. 'Todos se arriscam igualmente e todos merecem ser reconhecidos.'

26 abr 2020 - 14h48
(atualizado em 27/4/2020 às 17h15)
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Antônio Soares, de 57 anos, não tem muita habilidade com smartphones, muito menos com as redes sociais. Mas, na última semana, ele gastou alguns bons minutos lendo comentários direcionados a ele.

Foto: BBC News Brasil

"Obrigada pelo trabalho."

"Todo o meu respeito."

"Gratidão."

Os comentários eram relacionados a uma foto postada por seu filho, João Soares, um estudante de Direito de 30 anos, que mostrava o pai vestido com todos os equipamentos de proteção, no hospital onde trabalha em Mossoró, no sertão do Rio Grande do Norte.

Ele estava pronto para mais um dia no combate à pandemia de coronavírus. Até a quinta-feira (23/4), a cidade potiguar tinha 110 casos da doença e oito óbitos registrados, segundo o boletim mais recente da Secretaria de Saúde do Estado.

"Sempre senti orgulho da minha profissão, mas dessa vez eu senti ainda mais. Os hospitais não são só médicos e enfermeiros. São também copeiros, recepcionistas, limpeza, manutenção".

Antônio trabalha há 37 anos em hospitais, 20 deles como maqueiro, carregando e movendo pacientes que chegam ou que já estão internados.

O seu trabalho, agora mais conhecido após a publicação que viralizou no Twitter, inspirou relatos de filhos desses profissionais que trabalham em unidades de saúde.

A ideia, diz João, era adicionar outras profissões ao rol daquelas que estão sendo homenageadas com a hashtag #ProfissionaisdeSaúde.

"Claro que os médicos e enfermeiros são importantíssimos, não negamos isso. Mas todos se arriscam igualmente e todos merecem ser reconhecidos", completa.

Não há dados disponíveis sobre a quantidade de maqueiros contaminados ou afastados por causa da covid-19. Porém, alguns relatos se espalham nas redes sociais.

A Secretaria de Saúde do Rio de Janeiro compartilhou uma homenagem de colegas a um maqueiro que morreu com a doença, na capital fluminense.

No Ceará, fotos de um profissional do maior hospital público de Fortaleza também foram compartilhadas após ele falecer em decorrência do coronavírus.

Primeiro da linha de frente

Rosinaldo da Conceição, de 47 anos, diz estar na "frente da linha de frente no combate ao coronavírus".

Maqueiro há 15 anos em um hospital municipal de Itaboraí, no Rio de Janeiro, ele é o primeiro a ter contato com muitos pacientes que chegam à unidade. Vai ao carro ou à ambulância, coloca a pessoa na maca e, às vezes, até a carrega no colo.

A foto de Rosinaldo vestido para trabalhar também ganhou compartilhamentos no Twitter após a publicação feita por sua filha, Brunna Soares, de 20 anos. "Orgulho é a palavra que me define hoje", dizia.

A imagem havia sido enviada pelo maqueiro à família, preocupada em casa, para mostrar que estava "tudo bem".

"Eu chorei quando vi a foto dele, todo orgulhoso trabalhando. Eu acho que esses profissionais precisam ser homenageados", disse Brunna.

Com problema na coluna e diabetes — uma doença que o coloca no grupo de maior risco de ter complicações da covid-19 —, Rosinaldo diz que não vai deixar de trabalhar, ainda mais durante uma pandemia.

"Eu tenho muito amor pelas pessoas. Quando você vê uma pessoa entrar doente, sem conseguir andar ou respirar direito, e ela sai andando, não tem preço."

"Fiquei muito feliz e emocionado pelo reconhecimento da minha filha e das pessoas. Quando se fala em saúde, não se fala quem está ali por trás — e, no meu caso, à frente — de médicos e enfermeiros", ressalta.

Nova rotina

Com contato direto com os pacientes, a pandemia de coronavírus mexeu com a rotina dos maqueiros.

Ao chegar do trabalho, Antônio Soares nem entra em casa. Vai para o quintal, onde tem um balde com desinfetante lhe esperando. Limpa os equipamentos, dá banho na moto e só então vai encontrar a família.

Em Itaboraí, Rosinaldo já falou para filha que não vai atender mais ligações ou responder mensagens no horário de trabalho. "[O aparelho] é fonte de contaminação", diz.

Para arrumar forças, os dois profissionais dizem que tomam o que fazem como missão. "Não tenho medo, eu tenho que ajudar os outros que precisam de mim", diz Antônio.

E, agora, eles também se apegam ao apoio que vem de desconhecidos na internet. "Eu achei incrivelmente revigorante receber tantas mensagens de carinho", diz João.

"É gratificante quando nos consideram e nos aplaudem como profissionais de saúde", finaliza Rosinaldo.

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