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Incêndio em boate no Rio Grande do Sul deixa 232 mortos e 116 feridos

27 jan 2013 - 17h40
(atualizado às 18h13)
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Um incêndio em uma boate da cidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, deixou 232 mortos, a maioria por asfixia, e mais de 116 feridos, na segunda maior tragédia deste tipo na história do Brasil.

Este balanço revisa o anterior, de 245 mortos e 48 feridos.

"O número de óbitos é de 232. Destes, 120 são homens e 112,mulheres, a maioria asfixiada", disse à AFP o subcomandante do Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar, Rois Tavares.

"Todos os corpos foram retirados do interior da boate, que está sendo isolada para investigação", acrescentou o subcomandante.

O incêndio começou de madrugada, quando centenas de pessoas se encontravam na boate Kiss, em sua imensa maioria jovens desta cidade universitária. A fumaça se espalhou rapidamente, segundo testemunhas, e a falta de saídas impediu a evacuação de muitas pessoas.

Como a única saída havia sido trancada pelos seguranças, as pessoas entraram em pânico e houve tumulto.

Os corpos foram levados em caminhões ao Centro Esportivo Municipal, onde as famílias se reuniram para reconhecer as vítimas.

"É o momento mais difícil", disse à AFP o subsecretário de Saúde do município, Julio Nunes, que explicou que Santa Maria é uma cidade universitária "que reúne muitos jovens, e um dos pontos de encontro era esta boate".

Um dos sobreviventes, o dentista Mattheus Bortolotto, relatou o pânico que viveu: "Foi horrível. Perdi um amigo muito próximo. As saídas de emergência eram insuficientes. Perdi de vista meu amigo na confusão", contou ao canal de TV Band News.

"Uma moça morreu em meus braços. Senti seu coração parar de bater. Só havia visto isso no cinema", descreveu.

"As barreiras metálicas utilizadas para organizar as filas de espera para entrar na boate bloquearam a evacuação. As pessoas tropeçavam, caíam. Ajudei a levantar as barreiras. Os bombeiros também se intoxicaram com a fumaça. Os que estavam no fundo da boate ficaram presos", acrescentou.

"Gritamos: 'fogo, fogo!', mas a segurança manteve a porta fechada. Umas cinco ou seis pessoas derrubaram os seguranças e abriram a porta à força. Era a única saída", contou Murilo de Toledo, estudante de medicina de 26 anos, outro sobrevivente.

Uma vez do lado de fora, o jovem passou a ajudar os amigos. "O fogo era muito forte, queimava e sufocava, não podíamos entrar. Agarramos quem podíamos e jogamos para fora da boate,cheguei a agarrar alguém pelos cabelos para poder tirar de lá de dentro", declarou à rádio CBN.

"Havia um monte de gente, um em cima do outro. Houve gente que entrou no banheiro achando que era a porta de saída, e, uma vez lá, não conseguiu mais sair. Desmairam e morreram lá mesmo", relatou.

Este é o segundo incêndio com muitos mortos na história brasileira, depois que o fogo em um circo deixou 533 mortos em Niterói, Rio de Janeiro, em 1961, lembraram autoridades.

Jovens sobreviventes, com o rosto enegrecido pela fumaça, e familiares de vítimas aguardavam com angústia a identificação das vítimas na porta do Instituto Médico-Legal de Santa Maria.

A polícia pediu aos familiares que levassem fotos dos jovens para facilitar a identificação, e pediram à população que doasse sangue.

Segundo o comandante dos bombeiros locais, o incêndio foi desatado por causa de um sinalizador utilizado por um membro da banda de rock que se apresentava no estabelecimento. "Isso acabou gerando a tragédia", afirmou Guido de Melo.

Já o comandante do corpo de bombeiros do Rio Grande do Sul, Moisés da Silva Fuchs, disse que o alvará de funcionamento da boate Kiss, concedido por sua corporação, está vencido desde agosto de 2011.

"A banda estava no palco e começou a usar fogos. De repente, pararam o show e apontaram o sinalizador para o teto. Aí começou o fogo, era leve, mas, em questão de segundos, ganhou força", relatou Michele Pereira, que sobreviveu à tragédia.

Usando marretas, pessoas abriram buracos nas paredes da boate para facilitar os trabalhos de resgate e a saída da forte fumaça que tomou conta do local.

Santa Maria, com 262 mil habitantes, está situada a 300 km de Porto Alegre, e boa parte de sua população é formada por estudantes universitários. A festa na boate havia sido organizada por estudantes da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)

"Tememos que a maioria das vítimas seja de estudantes nossos" comentou o vice-reitor da UFSM, Dalvan Reinert. A Universidade suspendeu as aulas até quarta-feira.

A prefeitura também decretou 30 dias de luto, e formou uma equipe de ajuda psicológica para atender aos familiares das vítimas.

A presidente Dilma Rousseff encurtou sua viagem ao Chile, onde participou da cúpula de países latino-americanos e europeus, e viajou diretamente a Santa Maria.

"Neste momento de tristeza, estamos juntos", disse Dilma, visivelmente emocionada.

"Hoje não há uma família, um pai ou uma mãe, que não esteja sofrendo", declarou, por sua vez, a ministra de Direitos Humanos, Maria do Rosário, que se encontra no cenário da tragédia.

O governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, também visitará a região, depois de ter conversado com a presidente e recebido apoio.

Países da região, como Chile e México, enviaram suas condolências, e a Argentina anunciou que enviará um estoque de pele ao Brasil para ajudar as vítimas de queimaduras.

A tragédia de Santa Maria recorda o incêndio ocorrido na discoteca República Cromañón, de Buenos Aires, em 30 de dezembro de 2004, que deixou 194 mortos e 1.432 feridos.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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