Fentanil: uso indiscriminado faz com que droga seja a que mais mata nos EUA

A droga que mais mata nos Estados Unidos foi apreendida pela primeira vez com traficantes no Brasil. Derivado da morfina, o fentanil é um opioide sintético que, usado de forma legalizada, serve como anestésico para cirurgias, mas o uso indiscriminado da droga pode levar à morte. 

Segundo reportagem do Fantástico, da TV Globo, exibida no último domingo, 19, a apreensão aconteceu pela primeira vez no Brasil e foi feita pela Polícia Civil do Espírito Santo. A ação chamou a atenção das autoridades policiais americanas, já que a overdose pelo fentanil se tornou um grande problema nos EUA.

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Após a droga ser encontrada com traficantes brasileiros, dois agentes americanos foram para o Espírito Santo para acompanhar as investigações. De acordo com a polícia, o dono da droga não é um traficante que domina pontos de vendas em periferias das cidades, e sim um fornecedor desse traficante. A investigação aponta ainda que o fentanil possa estar sendo utilizado para "batizar" outras drogas.

De acordo com o médico Jedson Nascimento, que é diretor de Defesa Profissional da Sociedade Brasileira de Anestesiologia, o uso indiscriminado do fentanil --quando não é usado por um profissional e de forma terapêutica-- pode causar morte e, não à toa, se tornou uma das drogas que mais mata nos Estados Unidos.

Segundo o médico, o fentanil é um opioide sintético derivado da morfina que tem efeito terapêutico e já é usado no mundo desde 1970, mesmo período em que começou a se discutir os problemas ligados ao vício, bem como o uso ilícito da droga. 

"Indivíduos inescrupulosos passaram a utilizar ou fazer contato com essa droga de forma ilícita, porque é uma medicação de uso controlado, como a morfina. E sempre que existe um apelo por conta de ilicitude, passa a se ter uma visão demonizada de uma medicação", explica o médico, que lamenta a demonização do remédio. "É uma pena que isso esteja acontecendo, porque é uma droga de uso comum, já existe o uso há muitos anos, e, neste momento, a gente continuará usando o fentanil, porque ele tem sua utilidade."

Nascimento conta que é necessário que a droga sempre seja manejada por um médico, uma vez que os efeitos adversos podem ser fatais. "Se usado de forma indiscriminada, é um medicamento que traz depressão respiratória. Ou seja, se você tomar o medicamento, pode parar de respirar e até desencadear uma morte cerebral. O grande problema dos opioides, particularmente o fentanil, é o fato de que ele traz parada respiratória. Tem gente que morre dormindo, sem conseguir respirar, é a chamada overdose de drogas. É por isso que uma pessoa que é submetida a essa droga vai para um respirador, até que o efeito da droga encerre", conta.

O fentanil é frequentemente usado em cirurgias cardíacas, por exemplo, em que é necessário abrir o peito do paciente e fazer com que o coração pare por algum tempo. "Esse indivíduo acorda como se nada tivesse acontecido porque várias drogas contribuíram para que ele entrasse num estado de permissibilidade ou num estado vegetativo e o indivíduo não sofresse durante esse período. Uma das drogas usadas é o fentanil", exemplifica o médico.

Usado de forma correta, como destaca Nascimento, o fentanil não traz prejuízos à saúde. O médico também defende que não haja demonização da droga devido ao mau uso feito por pessoas que acabam tendo o acesso ao fentanil sem a devida permissão.

"O problema é que qualquer droga derivada de opioide tem risco de adicção [vício]. Então uma coisa é o indivíduo fazer o uso por vício, e outra é o uso terapêutico. Nós não podemos demonizar a droga para uso terapêutico, mas devemos combater o uso da droga de forma ilícita. Desde a década de 1970 se discute o uso ilícito de fentanil. Hoje, está havendo uma verdadeira epidemia do fentanil e por isso tem chamado a atenção. Mas é aquela história, se você usar a medicação adequadamente, não haverá problemas", finaliza.