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Tragédia em Santa Maria

Após tragédia, universidade inglesa leva alunos da UFSM para missão

O convite foi feito pelo vice-chanceler da universidade depois do incêndio na Boate Kiss, que matou 241 pessoas em janeiro em Santa Maria

15 mai 2013 - 22h27
(atualizado às 22h35)
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A Universidade de Montfort, na Inglaterra, levará 10 estudantes da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), no Rio Grande do Sul, para uma missão acadêmica na cidade de Leicester, onde a instituição é sediada, com todas as despesas pagas. O convite foi feito pelo vice-chanceler da universidade, Dominic Shellard, depois do incêndio na Boate Kiss, que matou 241 pessoas em janeiro em Santa Maria.

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Os estudantes que participarão do intercâmbio foram sorteados na manhã desta quarta-feira na UFSM. Mais de 5,9 mil acadêmicos se inscreveram – cerca de 20% do total de matriculados na universidade. 

“Entendemos que a oportunidade deveria ser oferecida a todos os alunos, de cursos presenciais e educação à distância”, disse o reitor, Felipe Müller, que acompanhou o sorteio. Em inglês, ele agradeceu à Universidade de Montfort pela oportunidade. O sorteio foi transmitido via multiweb e acompanhado por representantes da instituição britânica.

Universidade já ofereceu missões para japoneses atingidos por tsunami

A Universidade de Montfort costuma oferecer missões acadêmicas para universidades de cidades atingidas por tragédias em todo o mundo. A oportunidade disponibilizada à UFSM também foi oferecida a instituições de cidades japonesas atingidas por tsunamis, por exemplo. 

O estudante do 4º semestre de Zootecnia Silvandro Tonetto de Freitas, 23 anos, ficou sabendo que havia sido um dos sorteados por mensagem de celular enviada por uma amiga. Mas só vibrou mesmo quando certificou-se que seu nome estava entre os 10 primeiros. “Fiquei muito faceiro. Sempre é bom conhecer novas culturas”, afirmou.

Os alunos sorteados terão até 20 de maio para confirmar participação na missão e até 21 de junho para apresentação dos documentos necessários à viagem, que será realizada de 15 a 23 de outubro. O grupo de alunos deverá ser acompanhado pelo reitor. A universidade inglesa irá custear as despesas aéreas e de hospedagem. O translado até o aeroporto de Porto Alegre e o seguro internacional serão bancados pela UFSM. 

Incêndio na Boate Kiss

Na madrugada do dia 27 de janeiro, um incêndio deixou 241 mortos em Santa Maria (RS). O fogo na Boate Kiss começou por volta das 2h30, quando um integrante da banda que fazia show na festa universitária lançou um artefato pirotécnico, que atingiu a espuma altamente inflamável do teto da boate.

Com apenas uma porta de entrada e saída disponível, os jovens tiveram dificuldade para deixar o local. Muitos foram pisoteados. A maioria dos mortos foi asfixiada pela fumaça tóxica, contendo cianeto, liberada pela queima da espuma.

Os mortos foram velados no Centro Desportivo Municipal, e a prefeitura da cidade decretou luto oficial de 30 dias. A presidente Dilma Rousseff interrompeu uma viagem oficial que fazia ao Chile e foi até a cidade, onde prestou solidariedade aos parentes dos mortos.

Os feridos graves foram divididos em hospitais de Santa Maria e da região metropolitana de Porto Alegre, para onde foram levados com apoio de helicópteros da FAB (Força Aérea Brasileira). O Ministério da Saúde, com apoio dos governos estadual e municipais, criou uma grande operação de atendimento às vítimas.

Quatro pessoas foram presas temporariamente - dois sócios da boate, Elissandro Callegaro Spohr, conhecido como Kiko, e Mauro Hoffmann, e dois integrantes da banda Gurizada Fandangueira, Luciano Augusto Bonilha Leão e Marcelo de Jesus dos Santos. Enquanto a Polícia Civil investiga documentos e alvarás, a prefeitura e o Corpo de Bombeiros divergem sobre a responsabilidade de fiscalização da casa noturna.

A tragédia fez com que várias cidades do País realizassem varreduras em boates contra falhas de segurança, e vários estabelecimentos foram fechados. Mais de 20 municípios do Rio Grande do Sul cancelaram a programação de Carnaval devido ao incêndio.

No dia 25 de fevereiro, foi criada a Associação dos Pais e Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia da Boate Kiss em Santa Maria. A associação foi criada com o objetivo de oferecer amparo psicológico a todas as famílias, lutar por ações de fiscalização e mudança de leis, acompanhar o inquérito policial e não deixar a tragédia cair no esquecimento.

Indiciamentos

Em 22 de março, a Polícia Civil indiciou criminalmente 16 pessoas e responsabilizou outras 12 pelas mortes na Boate Kiss. Entre os responsabilizados no âmbito administrativo, estava o prefeito de Santa Maria, Cezar Schirmer (PMDB). A investigação policial concluiu que o fogo teve início por volta das 3h do dia 27 de janeiro, no canto superior esquerdo do palco (na visão dos frequentadores), por meio de uma faísca de fogo de artifício (chuva de prata) lançada por um integrante da banda Gurizada Fandangueira.

O inquérito também constatou que o extintor de incêndio não funcionou no momento do início do fogo, que a Boate Kiss apresentava uma série das irregularidades quanto aos alvarás, que o local estava superlotado e que a espuma utilizada para isolamento acústico era inadequada e irregular. Além disso, segundo a polícia, as grades de contenção (guarda-corpos) existentes na boate atrapalharam e obstruíram a saída de vítimas, a boate tinha apenas uma porta de entrada e saída e não havia rotas adequadas e sinalizadas para a saída em casos de emergência - as portas apresentavam unidades de passagem em número inferior ao necessário e não havia exaustão de ar adequada, pois as janelas estavam obstruídas.

Já no dia 2 de abril, o Ministério Público denunciou à Justiça oito pessoas - quatro por homicídios dolosos duplamente qualificados e tentativas de homicídio, e outras quatro por fraude e falso testemunho. A Promotoria apontou como responsáveis diretos pelas mortes os dois sócios da casa noturna, Mauro Hoffmann e Elissandro Spohr, o Kiko, e dois dos integrantes da banda Gurizada Fandangueira, Marcelo de Jesus dos Santos e Luciano Augusto Bonilha Leão.

Por fraude processual, foram denunciados o major Gerson da Rosa Pereira, chefe do Estado Maior do 4º Comando Regional dos Bombeiros, e o sargento Renan Severo Berleze, que atuava no 4º CRB. Por falso testemunho, o MP denunciou o empresário Elton Cristiano Uroda, ex-sócio da Kiss, e o contador Volmir Astor Panzer, da GP Pneus, empresa da família de Elissando - este último não havia sido indiciado pela Polícia Civil.

Os promotores também pediram que novas diligências fossem realizadas para investigar mais profundamente o envolvimento de outras quatro pessoas que haviam sido indiciadas. São elas: Miguel Caetano Passini, secretário municipal de Mobilidade Urbana; Belloyannes Orengo Júnior, chefe da Fiscalização da secretaria de Mobilidade Urbana; Ângela Aurelia Callegaro, irmã de Kiko; e Marlene Teresinha Callegaro, mãe dele - as duas fazem parte da sociedade da casa noturna.

Fonte: Terra
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