Summit Mobilidade: Estrutura viária pronta ajuda transição para novo modelo
Segundo participantes, instalar mobilidade ativa requer menos investimentos do que os voltados a automóveis
O incentivo à mobilidade ativa e sua implementação não estão necessariamente condicionados a vultosos recursos financeiros, mas principalmente à mudança de mentalidade e de hábitos, de acordo com os participantes do painel Mobilidade Ativa, realizado no último dia 20. "Não é preciso fazer investimentos gigantes para repensar nossas cidades. A estrutura viária já está construída, é aproveitar melhor essa estrutura", afirma o CEO e cofundador da Tembici e embaixador da Mobilidade, Tomás Martins.
Pesquisadora e integrante do Movimento Cidadeapé, Ana Carolina Nunes argumenta que os investimentos para garantir que uma cidade seja acessível e segura para o deslocamento a pé e de bicicleta são menores que os exigidos na melhoria da fluidez do trânsito para carros.
"Com o dinheiro para a construção de um viaduto ou de uma ponte estaiada se consegue consertar calçadas inacessíveis, construir travessias elevadas e ciclovias e 'pedestrianizar' áreas de centro de bairro", diz. Um trabalho nesse sentido foi implementado em Fortaleza, com projetos que incentivam o uso de bicicletas e privilegiam pedestres.
De acordo com o prefeito da capital cearense, José Sarto, há oito anos a cidade tinha cerca de 68 quilômetros de ciclovias, e hoje são quase 400 quilômetros. "Nossa meta para 2024 é atingir 500 quilômetros de ciclovias", comenta.
Atualmente, a superintendente da Autarquia Municipal de Trânsito de Fortaleza, Juliana Coelho, diz que toda a população da cidade mora a até 300 metros de distância de uma ciclovia. "Conseguimos deixar acessível a infraestrutura para bicicleta de uma forma segura, não somente nas áreas prioritárias de renda, mas também na periferia", assegura.
Carro elétrico
Fortaleza também implementou um projeto piloto de frotas sustentáveis com 20 veículos elétricos circulando pelas vias locais por uma tarifa de R$15. O uso disseminado desse tipo de automóvel, que adota energia limpa, ainda tem um longo caminho a percorrer no Brasil.
Segundo a coordenadora do Grupo de Veículos Pesados da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE) e diretora executiva da Eletra, Iêda de Oliveira, o País tem as tecnologias necessárias, mas não avança na questão da eletromobilidade porque o planejamento é falho.
A executiva citou como exemplo a Lei 16.802, de 17/1/2018, da cidade de São Paulo, que prevê a redução de emissão de CO² na frota do transporte coletivo em 50% no período de 10 anos e 100% em 20 anos. "Nós já estamos há três anos sob a vigência da lei e há apenas 20 ônibus elétricos na cidade", afirma. "Tem de monitorar para saber se aquela lei está sendo cumprida, e isso não acontece."
Para Martins, a busca por meios sustentáveis de locomoção deu início aos sistemas de compartilhamento de micromodais, usados para deslocamentos curtos, como bicicletas e patinetes. "Acho que tudo isso é válido dentro do conceito de que precisamos tirar os automóveis das nossas ruas", afirmou.
Estímulo
A mudança de mentalidade para formas sustentáveis coletivas ou compartilhadas de mobilidade ainda está longe, pois 0s incentivos e benefícios são direcionados à indústria automobilística. Estudo do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) aponta que quase R$99,3 bilhões são destinados a incentivos e subsídios no setor de combustíveis fósseis no Brasil, 63,46%, ou seja, mais de R$63 bilhões, foram destinados ao consumo - o que inclui gasolina e diesel.
Para a assessora política do Inesc e integrante do Movimento Nossa Brasília, Cleo Manhas, a desigualdade na infraestrutura é o maior problema da mobilidade urbana, visto que é feita para os automóveis individuais motorizados.
Segundo Cleo, os problemas podem ser resolvidos com políticas públicas de qualidade que integrem modais e melhorem a estrutura de calçadas para pedestres circularem. "Financiar uma política de transporte público urbano de qualidade e com energia limpa contribuirá para reduzir o número de automóveis individuais motorizados nas cidades e humanizá-las", afirma.