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São Paulo tem primeiro amistoso internacional de rúgbi entre equipes LGBT

O time brasileiro Tamanduás-Bandeira enfrentou o argentino Ciervos Pampas no Clube Atlético São Paulo

23 jun 2019 - 13h35
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SÃO PAULO - "Nós queremos que as pessoas simplesmente nos respeitem, nos aceitem." A frase de Djalma de Oliveira Assunção, um dos integrantes mais antigos do time de rúgbi paulistano Tamanduás-Bandeira, resume o sentimento que predominou durante o amistoso contra o argentino Ciervos Pampas, na manhã deste sábado, 22.

Na véspera da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo, o jogo foi o primeiro em São Paulo de rúgbi internacional entre duas equipes LGBT, compostas por lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros, o que ainda não é cotidiano nos esportes.

De acordo com a organização do evento, o jogo reuniu o primeiro time pró-diversidade sexual da América Latina - o argentino - e o primeiro brasileiro. Criado há sete anos, o Ciervos é uma organização de direitos humanos que tem o rúgbi como ferramenta para enfrentar a homofobia. Já o Tamanduás faz treinos públicos e gratuitos desde 2017, com a intenção de incentivar a prática de esporte e democratizar o acesso ao rúgbi na comunidade LGBT, independentemente de contato prévio com a modalidade.

As duas iniciativas culminaram na partida deste sábado. E, embora a equipe argentina seja mais antiga, foi a brasileira que levou a melhor. O placar terminou em 59 a 7 para o Tamanduás, resultado dos treinos duas vezes por semana.

"Eles fazem esse trabalho ser muito fácil, porque aprendem tudo muito rápido, escutam muito o que eu falo", comemorou a orientadora técnica Isabel Vigneron.

Em campo, as regras do rúgbi são bem diferentes do futebol. A bola oval é conduzida pelas mãos na maior parte do tempo, sendo chutada apenas em momentos específicos. Os passes também são diferentes e só podem ser feitos para o lado ou para trás, com o objetivo de avançar gradativamente pelo campo adversário. Uma vez próximo às traves, o jogador precisa tocar a bola no chão, lance que vale cinco pontos. O chute a gol vale dois.

Embora o Tamanduás tenha dominado praticamente todo o primeiro tempo e sentido pouca pressão no segundo, a partida conseguiu mexer com os cerca de 80 torcedores que acompanhavam a disputa nas arquibancadas do Clube Atlético São Paulo (SPAC).

Apesar de saber pouco do esporte, Clarina Magalhães, gerente de implantação de uma seguradora de smartphones, estava empolgada. "É uma energia sensacional, contagiante, maravilhosa. A gente está cansada de ver sempre as mesmas pessoas, os mesmos homens. Vamos mudar isso, vamos incluir", disse antes de ser arrebatada por um ataque e vibrar com um ponto marcado.

Para Caio Varela, presidente do Ciervos Pampas, a partida não entra para a história apenas por ser a primeira entre equipes estrangeiras, mas também por, na opinião dele, provocar uma transformação na vida dos jogadores. Isto porque a maior parte dos argentinos do time é de origem humilde e nunca havia viajado de avião antes, quanto mais para uma viagem internacional. Vários deles se emocionaram durante e depois do jogo.

Um passado de bullying e discriminação é comum a vários jogadores, o que os afastou dos campos e das quadras desde a infância e adolescência. Assunção diz que sempre ouve que atletas mulheres e gays são "frágeis e não aguentam esportes de contato". "Só queremos ter direito a praticar esportes, ter espaço em todos os lugares e a qualquer momento", afirma.

Machismo e homofobia nos esportes

Demonstrações de machismo e homofobia são recorrentes nos esportes, seja em cantos das torcidas, em relatos de atletas que tiveram medo de ser prejudicados ou que são discriminados, independentemente de serem gays ou não.

Mas a homofobia não está apenas no esporte. Em São Paulo, 51% dos entrevistados pela Rede Nossa São Paulo já vivenciaram ou presenciaram situações de preconceito contra LGBTs em espaços públicos.

Para um dos fundadores do Tamanduás, Allan Alves, durante muito tempo a comunidade LGBT foi excluída do espaço do esporte. Ele defende que ações afirmativas podem ajudar a retomar esse espaço. "Qualquer iniciativa LGBT no esporte é muito importante, porque a gente precisa ser protagonista", diz.

Estadão
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