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Mãe de usuária de drogas denuncia superlotação de hospital

30 mai 2017 - 17h05
(atualizado às 17h05)
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A família da usuária de drogas Letícia Junqueira, de 33 anos, internada no pronto-socorro psiquiátrico do Hospital Santa Marcelina, no Itaim Paulista, zona leste paulistana, buscava hoje (30) um espaço com melhores condições para ela. Segundo a mãe, Roseli Faleiros, de 51 anos, Letícia está dormindo em uma maca no chão do hospital desde sábado (27), por causa da superlotação.

Letícia procurou junto com a família o Centro de Apoio Psicossocial Álcool e Drogas (Caps AD) na Rua Helvetia, no final da tarde do último sábado. A unidade foi inaugurada emergencialmente na sexta-feira (26) em um contêiner na área onde ficava o chamado fluxo da Cracolândia, concentração de usuários de drogas na Luz, região central da capital paulista. Após a operação policial feita na semana passada, a maior parte das pessoas que ocupavam o local se deslocou para a Praça Princesa Isabel, a menos de 500 do ponto original.

Usuários de drogas se concentram na Praça Princesa Isabel, após ações de desocupação da Cracolândia
Usuários de drogas se concentram na Praça Princesa Isabel, após ações de desocupação da Cracolândia
Foto: Agência Brasil

Os psiquiatras de plantão no contêiner encaminharam Letícia para o hospital. Segundo a mãe da dependente química, durante a conversa, profissionais do local garantiram que Letícia seria levada a uma clínica com quarto individual. "Eles enganaram a gente", protestou Roseli ao voltar ao Caps para procurar orientação.

No hospital, Roseli criticou a superlotação, com macas no chão, além da falta de higiene. "Não tive coragem de usar o banheiro." Segundo ela, não havia água quente para banho na instituição.

Com problemas com o uso abusivo de drogas desde a adolescência, Letícia passou, segundo a mãe, por diversas internações, a primeira quando tinha 19 anos. "A gente enganou ela, levou como se fosse para um passeio", relata Roseli sobre como a filha foi colocada contra a vontade em uma instituição pela primeira vez.

Ao longo dos anos, Letícia passou por outras desintoxicações voluntariamente. "Quando ela sentia que estava muito ruim, ela ia para lá, ficava 30 dias e melhorava", lembrou a mãe.

Alternativas à internação

Segundo a psicóloga e militante da Frente Antimanicomial Marília Fernandez, há outras formas de desintoxicação além da internação. Alguns Caps oferecem, de acordo com a especialista, o chamado acolhimento integral, quando o paciente permanece na instituição, mas pode sair quando quiser. "Para desintoxicar, passar um período de crise. Evita que o sujeito vá para a internação em hospital geral", explica.

Na avaliação de Marília, a conduta no caso de Letícia parece ter sido correto, com o encaminhamento dela a um pronto-socorro especializado. No entanto, os serviços de saúde sofrem, de acordo com ela, uma precarização sistemática. "Estamos passando por um problema muito grave de saúde. Foram congeladas as verbas do SUS [Sistema Único de Saúde] e o governo de São Paulo não financia a rede de atendimento psicossocial", criticou a ativista ao relacionar os problemas de atendimento à falta de recursos.

A prefeitura de São Paulo informou que desde o último dia 21, quando foi realizada a megaoperação policial na Cracolândia, foram feitas 4,5 mil abordagens a usuários e quase 3 mil encaminhamentos para a rede de assistência. O balanço da administração municipal contabiliza ainda 76 internações voluntárias.

A prefeitura não respondeu às reclamações da família de Letícia sobre as condições de internação até a publicação desta reportagem.

Agência Brasil Agência Brasil
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