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De boi de raça a animal de zoo, os 'passageiros' exóticos: elefanta chega a SP esta 4ª

Desde 2015, Viracopos realizou 1.854 operações de exportação com cargas vivas ; desembarque de animal de 3,6 toneladas terá operação especial

16 out 2019 - 05h11
(atualizado às 05h26)
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CAMPINAS - Quando a elefanta Ramba, de 3,6 toneladas, desembarcar no aeroporto de Viracopos, nesta quarta-feira, 16, ela não será o primeiro "passageiro" diferente a descer de um avião no local. O aeroporto de Campinas já recebeu, nos últimos cinco anos, 904 embarques com cargas vivas - de animais de zoológico a bois e cavalos de raça, passando por suínos, ovos férteis e pintinhos com genética diferenciada. Frutas, sementes e flores também chegam ou saem do aeroporto com frequência.

Cargas vivas são 3% do total importado e 5% das exportações. No ano passado, 241 mil toneladas de cargas passaram pelo terminal.

"Por aqui passa de tudo: girafa, cavalos, búfalos, bois de raça, suínos, pintinhos. É a principal porta de entrada e saída (pelo ar) do agronegócio brasileiro", afirma Marcelo Mota, diretor de operações de Viracopos.

Elefante, porém, é a primeira vez. Vinda do Chile, Ramba desembarca em Viracopos por volta das 6h30, e depois será levada, por terra, ao Santuário dos Elefantes, organização sem fins lucrativos, na Chapada dos Guimarães (MT), que cuida de animais resgatados do cativeiro.

A elefanta Ramba, após o resgate, no Chile. Ela era usada em apresentações circenses no país.
A elefanta Ramba, após o resgate, no Chile. Ela era usada em apresentações circenses no país.
Foto: Santuário de Elefantes/Divulgação / Estadão

A operação especial para receber o animal, que tem 53 anos e já foi vítima de maus-tratos, deve levar seis horas, desde a chegada da aeronave (um Boeing 744) até a liberação da importação. Além de 30 funcionários, serão usados equipamentos como guindastes, de até 30 toneladas, empilhadeiras e trator.

Em geral, as cargas vivas são de animais com genética superior ou que vão participar de competições internacionais. Em 2016, alguns cavalos de provas de hipismo chegaram ao aeroporto para participar dos Jogos Olímpicos, no Rio. Desde 2015, o terminal de Viracopos realizou 1.854 operações de exportação com cargas vivas. Naquele ano, o local foi palco de uma operação especial para exportar 194 cabeças de gado vivo para o governo de Senegal, que queria aprimorar a genética dos bovinos locais com animais brasileiros. Além disso, quase toda semana há exportação de material genético de aves - ovos férteis ou pintinhos - para outros continentes e para vizinhos da América do Sul.

"Além de ser o principal exportador de frango do mundo, o Brasil se tornou uma plataforma de exportação de material genético e é um mercado muito promissor", diz Ariel Mendes, diretor da divisão de aves da Associação Brasileira de Proteína Animal, lembrando que cerca de 10% do frango produzido ao redor do mundo tem genética brasileira.

Em 2018, o Brasil exportou 793 toneladas de pintinhos e 10.957 toneladas de ovos férteis.

Por dia, chegam em Viracopos de 13 a 15 aviões cargueiros, com os mais variados itens de segmentos como automotivo, farmacêutico, mecânico e de tecnologia, entre outros.

"Recebemos desde turbinas de avião, maquinário pesado para linhas de produção, peças para indústria automotiva, pigmentos de tinta, até produtos adquiridos pela internet no exterior. Tudo que você puder imaginar", afirma Mota.

Diferentemente de Guarulhos, o terminal recebe mais cargas em aviões especializados.

Há 17 anos, Viracopos é o aeroporto responsável por receber os equipamentos para a realização do Grande Prêmio de Fórmula 1 do Brasil. No ano passado, foram 600 toneladas de produtos, entre os carros de corrida dos pilotos, materiais de segurança e objetos para montar a estrutura das equipes, em operação que durou três dias e envolveu mais de 50 pessoas.

Conforme a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), o Brasil transportou 470 mil toneladas de cargas por aviões em 2018 - patamar próximo ao de 2010. A principal rota de cargas é Guarulhos-Manaus - ligando o principal mercado consumidor da América Latina a uma importante região produtora de eletroeletrônicos.

O transporte de cargas aéreas é indicado para produtos de alto valor agregado como eletrônicos, itens refrigerados e perecíveis, medicamentos e até órgãos e tecidos humanos doados por famílias de pessoas que morreram, já que há uma "corrida contra o tempo" nesses casos. No ano de 2018, as empresas de aviação transportaram 8,7 itens para transplantes que foram feitos no Sistema Único de Saúde (SUS). Esse tipo de transporte é gratuito desde 2001.

Segundo Adalberto Febeliano, vice-presidente da Modern Logistics, empresa atuante no mercado de cargas e logística, o ramal aéreo tem potencial para crescer no Brasil. "Poderia ser muito maior. Em países com dimensões parecidas com o Brasil - como Canadá, Austrália e Estados Unidos -, a participação do mercado aéreo de cargas chega a 3%, enquanto aqui é 0,4%", afirmou. "Temos ligações entre as principais cidades do país, mas, na nossa avaliação, os volumes ainda são pouco significativos."

"É um mercado que varia muito conforme as mudanças na atividade econômica. Com a melhoria na economia, certamente pode subir", afirmou Flávio Pires, presidente da Associação Brasileira de Aviação Geral (Abag), lembrando que nos últimos anos o mercado perdeu parte do dinamismo por conta da deterioração econômica do País.

Estadão
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