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"Bolsonaro ganhou as eleições e temos que amargar", diz Lula em Berlim

10 mar 2020 - 20h29
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Em ato público na capital alemã, ex-presidente reafirma que não apoia impeachment de Bolsonaro e acusa EUA de estarem por trás de sua prisão e da queda de Dilma. Petista também critica opositor venezuelano Juan Guaidó.Durante um ato público em Berlim, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou nesta terça-feira (10/03) as políticas do atual governo, mas se posicionou contra o impeachment de Jair Bolsonaro. O petista acusou ainda os Estados Unidos de estarem por trás de sua prisão e lançou críticas ao líder opositor venezuelano Juan Guaidó.

Ato em Berlim fez parte da agenda de 12 dias que Lula está cumprindo pela Europa
Ato em Berlim fez parte da agenda de 12 dias que Lula está cumprindo pela Europa
Foto: DW / Deutsche Welle

"Duvido que em algum momento o Bolsonaro acreditou quer seria presidente da República, porém, ele ganhou as eleições e agora teremos que amargar porque sabemos que o mandato é de quatro anos ", afirmou Lula, arrancando gritos de "fora Bolsonaro" da plateia.

"Não sou daqueles que ficam torcendo para que governos eleitos deem errado, porque quem paga o pato, quando dá errado, é o povo mais humilde e mais pobre", acrescentou.

Falando num espaço de eventos lotado, com capacidade para 500 pessoas, o ex-presidente criticou as políticas do atual governo, a contenção de gastos e falta de investimentos públicos para impulsionar a economia diante da atual crise.

"Um país que não tem investimento em ciência, tecnologia, educação e cultura é um país que não quer efetivamente democracia e liberdade", ressaltou Lula, destacando que as nações mais justas dos mundo são aqueles que possuem os Estados mais fortes.

Lula afirmou ainda que o Brasil enfrenta uma política de destruição da democracia, que descreveu como "uma sociedade em movimento buscando conquistar mais direito para todos". "O Brasil não precisa de mais golpe, o Brasil precisa de mais democracia. Temos que ir para rua exigir que esse governo respeite os direitos da sociedade e cumpra os compromissos com a educação".

Durante seu discurso de quase 40 minutos, Lula falou de sua prisão, agradeceu o apoio que recebeu neste momento e acusou - sem apresentar provas - os Estados Unidos de estarem por trás da sua prisão e do impeachment de Dilma Rousseff.

"O golpe que sofremos tem muito a ver com os interesses americanos pelo petróleo", afirmou. "Tenho certeza que nos meus processos tem o braço do Departamento de Justiça dos Estados Unidos, fomentando e incentivando o que aconteceu no Brasil e na tentativa de eleger um picareta como [Juan] Guaidó presidente da Venezuela".

Lula criticou ainda o apoio do governo da Alemanha ao oposicionista venezuelano. Em janeiro de 2019, Guaidó foi declarado presidente interino da Venezuela pelo Assembleia Nacional do país após a reeleição de Nicolás Maduro. A vitória de Maduro ocorreu num pleito criticado pela comunidade internacional e repleto de acusações de fraude e intimidação de eleitores. O líder oposicionista foi reconhecido por mais de 50 países.

Em Berlim, Lula afirmou que Maduro foi eleito democraticamente e que se alguém quisesse derrubá-lo deveria fazê-lo nas urnas.

O meio ambiente também foi citado durante o discurso. Segundo o ex-presidente, é preciso debater a questão ambiental e o uso dos recursos do planeta para um mundo mais justo. Ao falar sobre a Floresta Amazônica, voltou a criticar o governo.

"A Amazônia não é da França, não é internacional, é do Brasil, portanto, o país precisa exercer a soberania sobre a floresta, mas com um governo democrático, e não troglodita como este. Um governo que saiba que a riqueza da biodiversidade da região pode ser estudada por cientistas do mundo inteiro para resolver problemas da humanidade, sobretudo, na área da saúde", destacou.

Em tom de campanha, o ex-presidente citou as políticas dos governos do PT, arrancando aplausos da plateia. Lula voltou a criticar a imprensa, acusando os meios de comunicação de disseminar o que chamou de ódio e mentiras contra o PT por "não suportarem as políticas de inclusão social" dos governos petistas.

"Não consigo compreender o ódio que está estabelecido entre a sociedade. Perdemos o sentido da humanidade, do humanismo, da solidariedade e da compaixão. O ódio tomou conta do nosso país", disse.

Ao final do discurso, o ex-presidente foi ovacionado pela plateia e recebeu presentes de vários apoiadores.

O ato em Berlim faz parte da agenda de 12 dias que Lula está cumprindo pela Europa. A primeira parada do ex-presidente foi na França. Em Paris, o petista recebeu o título de cidadão honorário da cidade numa cerimônia na prefeitura da capital francesa, além de se reunir com os ex-presidentes do país François Hollande e Nicolas Sarkozy, com quais conversou sobre o avanço da extrema direita.

Na França, ao lado da ex-presidente Dilma Rousseff e do ex-candidato do PT à Presidência Fernando Haddad, Lula se encontrou ainda com o economista o Thomas Piketty e com o líder do partido França Insubmissa e ex-candidato à Presidência do país, Jean-Luc Mélenchon.

De Paris, Lula seguiu para Genebra onde participou de uma reunião com Conselho Mundial de Igrejas (CMI), que reúne representantes de mais de 120 países. O encontro teve como tema a desigualdade social. Ele ainda se encontrou com o diretor-geral da Organização Mundial do Trabalho (OIT), Guy Ryder.

Em sua última parada, na Alemanha, Lula se reuniu com líderes políticos, entre eles, os co-presidentes do Partido Social-Democrata (SPD), Norbert Walter-Borjans, e da legenda A Esquerda, Bernd Riexinger, além do deputado social-democrata Martin Schulz, que o visitou na prisão em Curitiba.

Em Berlim, o petista também participou de uma conferência de sindicalistas e se encontrou com a ex-ministra alemã da Justiça Herta Däubler-Gmelin.

Essa foi a segunda viagem internacional do ex-presidente desde que ele deixou a prisão em novembro do ano passado, após 580 dias de encarceramento, depois de o Supremo Tribunal Federal (STF) mudar seu entendimento sobre o cumprimento de penas após condenação em segunda instância. Em meados de fevereiro, o ex-presidente foi recebido pelo papa no Vaticano.

Lula foi condenado no caso do tríplex no Guarujá em primeira instância em 2017, pelo então juiz Sergio Moro, e teve sua condenação confirmada em segunda instância no ano seguinte. Ele começou a cumprir a pena em 7 de abril de 2018 na carceragem da Polícia Federal em Curitiba. Em abril de 2019, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) manteve a condenação, mas reduziu a pena de 12 anos e um mês de prisão para 8 anos, 10 meses e 20 dias.

O ex-presidente ainda foi condenado em segunda instância a 17 anos, um mês e dez dias de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro no caso do sítio de Atibaia. Ele nega as acusações e recorre de ambas as decisões. Ele argumenta que é alvo de uma perseguição política.

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