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Analistas divergem sobre estratégia de Dilma de rebater denúncia de revista

24 out 2014 - 17h29
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A presidente Dilma Rousseff, do PT, resolveu dedicar o penúltimo programa de seu horário eleitoral para refutar acusações feitas pela revista Veja de que ela e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva saberiam do esquema de corrupção que teria sido montado na Petrobras para desviar dinheiro para o PT, PMDB e PP.

Segundo analistas políticos ouvidos pela BBC Brasil, o objetivo de Dilma ao mencionar a reportagem é provavelmente minimizar seu impacto e neutralizar o uso pelo candidato Aécio Neves no último debate, na noite da sexta-feira.

Ao falar sobre o caso em rede nacional, porém, a presidente também assumiria o risco de provocar o efeito contrário: ou seja, amplificar o impacto das denúncias.

Na propaganda eleitoral, Dilma acusou Veja de tentar influenciar os resultados da votação de domingo e disse que vai processar a revista.

"Gostaria de encerrar a minha campanha de outra forma. Mas não posso me calar diante desse ato de terrorismo eleitoral articulado pela revista Veja e seus parceiros ocultos", diz a presidente.

"Todos os eleitores sabem da campanha sistemática que essa revista move há anos contra Lula e contra mim, mas dessa vez ela excedeu todos os limites (...) Como das outras vezes e em outras eleições, Veja vai fracassar em seu intento criminoso. A única diferença é que dessa vez ela não ficará impune. A Justiça livre desse país seguramente vai condená-la por este crime."

Procurada pela BBC Brasil, a Veja disse, por meio de seu departamento de Relações Corporativas, que não vai se pronunciar sobre as declarações e a ameaça de processo da presidente.

"Evidentemente há uma preocupação da campanha de Dilma com o impacto dessas denúncias, senão elas não teriam sido levadas para o programa", diz Ricardo Ismael, professor do departamento de Sociologia e Política da PUC Rio.

"Mas, ao falar sobre o tema, e adotando um tom tão duro, Dilma também arrisca levar para o debate nacional algo que ainda não estava em pauta - já que a revista não chega em muitas porções do país. Ou mesmo colocar na agenda uma discussão sobre liberdade de expressão."

Segundo Ismael, a campanha de Dilma provavelmente avaliou esses riscos. "E eles pesaram que, ainda assim, era melhor responder às denúncias do que ficar calada", diz.

O cientista político Rafael Cortez, da Consultoria Tendências, acredita que a estratégia pode ser bem-sucedida.

"O pior cenário para um candidato ocorre quando ele não se pronuncia sobre um tema relevante", diz. "O PT está se antecipando ao uso que Aécio pode fazer dessas denúncias no debate para minimizar seu impacto."

Para os dois analistas, é pouco provável que as denúncias da Veja tenham um impacto significativo na votação de domingo.

"O leitor da revista em geral já vota em Aécio e o governo parece já ter tido sua resiliência testada nesse caso do escândalo da Petrobras", afirma Cortez. "Não parece haver na reportagem um fato novo contundente a ponto de virar o jogo."

Denúncias

A revista baseia suas denúncias em um suposto depoimento dado a Polícia Federal (PF) e ao Minsitério Público pelo doleiro Alberto Youssef, que seria responsável por "lavar" no exterior os recursos desviados da Petrobras.

Yousseff foi preso na operação da PF conhecida como Lava-Jato, juntamente com o ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa.

"O Planalto sabia de tudo", teria dito o doleiro à PF, segundo a Veja. "Mas quem no Planalto", teria perguntado o delegado. "Lula e Dilma", teria respondido o réu.

Na reportagem, a revista diz que Yousseff não pode mentir para não perder os benefícios da chamada "delação premiada" - esquema no qual a Justiça concede reduções penais a acusados em troca de informações que levem a outras condenações.

Mas ela admite que "o doleiro não apresentou - e nem lhe foram pedidas - provas do que disse".

Ao jornal O Globo, o advogado de Youssef, Antonio Figueiredo Basto, se disse surpreso. "Eu nunca ouvi nada que confirmasse isso (que Lula e Dilma sabiam do esquema de corrupção na Petrobras). Não conheço esse depoimento, não conheço o teor dele. Conversei com todos da minha equipe e nenhum fala isso. Estamos perplexos e desconhecemos o que está acontecendo. É preciso ter cuidado porque está havendo muita especulação", falou.

A campanha de Aécio Neves soltou um comunicado dizendo que "ingressará com Representação Criminal perante a Procuradoria Geral da República requerendo o aprofundamento das investigações".

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