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A 'árvore da morte', a mais perigosa do mundo segundo o livro dos recordes

19 jun 2016 - 18h27
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Placa alerta sobre perigo: "É uma das árvores mais perigosas do mundo".
Placa alerta sobre perigo: "É uma das árvores mais perigosas do mundo".
Foto: Gary Price / Flicker via freeforcommercialuse.org / BBC News Brasil

Dizem que, quando os conquistadores chegaram, vários deles se intoxicaram ao comer seus frutos.

Falam que os indígenas usavam a árvore para tortura, amarrando pessoas a seu tronco e deixando-as ali para que sofressem quando chegasse a chuva.

Contam que, além disso, os nativos envenenavam suas flechas com sua seiva.

E que até que foi o motivo da morte do espanhol Juan Ponce de León, o primeiro governador de Porto Rico, que recebeu uma flechada em uma batalha quando tentou conquistar a costa da Florida, em 1521.

É difícil comprovar que esses fatos realmente tenham acontecido, mas o que se diz das propriedades científicas da "árvore da morte" já foi provado.

Ponce de León, na terra que batizou de La Florida e que quis conquistar.
Ponce de León, na terra que batizou de La Florida e que quis conquistar.
Foto: CREATIVE COMMONS / BBC News Brasil

A temida planta cresce em paisagens idílicas e pode alcançar grandes alturas.

Seus galhos às vezes repousam sobre a areia e te convidam a descansar sobre sob sua sombra ou se proteger da chuva ou do sol.

Seus frutos, muitos parecidos com maçãs, são cheirosos, doces e saborosos.

Mas ela tem a duvidosa honra de estar registrada no livro dos recordes, o Guiness Book, como a árvore mais perigosa do mundo.

Como seu nome diz

Hippomane mancinella. Esse é seu nome científico.

Segundo o Instituto de Ciências de Alimentos e Agricultura da Flórida, nos Estados Unidos, Hippomane vem das palavras gregas hippo, que significa "cavalo", e mane, que deriva de "mania" ou "loucura".

O filósofo grego Teofrasto (371a.C.-287a.C.) nomeou assim uma planta nativa da Grécia após descobrir que os cavalos ficavam loucos ao comê-la. E o pai da taxonomia moderna, o sueco Carl Linneo, deu o mesmo nome à nociva árvore da América.

Mais precisamente, a que é nativa da América Central e das ilhas do Caribe e cresce da costa da Flórida até a Colômbia - em alguns lugares, sua presença é alertada por cruzes vermelhas e placas.

Árvore da morte

Esse é um dos seus nomes conhecidos, usado por quem convivem com ela. Também é conhecida como Mancenilheira da Areia ou Mancenilheira da praia - mas árvore da morte é o apelido que melhor descreve a realidade.

Sua seiva leitosa contém forbol, um componente químico perigoso. Só de encostar na árvore, sua pele pode ficar horrivelmente queimada.

Refugiar-se debaixo dos seus galhos durante uma chuva tropical também pode ser desastroso, porque até a seiva diluída pode causar uma erupção cutânea grave.

Sombra da árvore pode te convidar para um descanso, mas ficar embaixo dela é perigoso
Sombra da árvore pode te convidar para um descanso, mas ficar embaixo dela é perigoso
Foto: Reinaldo Aguilar / Flicker via freeforcommercialus / BBC News Brasil

Queimar essas árvores também é uma má ideia. A fumaça pode cegar temporariamente e causar sérios problemas respiratórios.

Mas, apesar dos efeitos desagradáveis, o contato da pele com esta árvore não é fatal. A ameaça real vem de sua pequena fruta redonda.

Comer este fruto, que parece uma pequena maçã, pode causar vômitos e diarreia tão severos que desidratam o corpo até um ponto em que não há mais cura.

Tanto assim?

A radiologista britânica Nicola Strickland experimentou estes efeitos em 1999 ao passar férias com uma amiga na ilha caribenha de Tobago.

Como boa cientista, ela descreveu o que acontece ao British Medical Journal, para que outros cientistas soubessem o tamanho desta ameaça.

Ela começa contando como, em uma manhã, "encontramos uma dessas idílicas praias desertas... areia branca, palmeiras balançando, o mar turquesa."

Então, viu as frutas verdes que "aparentemente haviam caído de uma árvore grande".

"Mordi a fruta e achei agradavelmente doce. Minha amiga fez o mesmo. Um pouco mais tarde, notamos um gosto estranho e picante na boca, que virou ardência e dor, com uma pressão na garganta."

"Os sintomas pioraram nas duas horas seguintes até que não conseguíamos mais comer alimentos sólidos, pois a dor era insuportável. A sensação era de ter um grande nó abstruindo a garganta."

Por sorte, oito horas mais tarde os sintomas orais começaram a melhorar, mas os gânglios linfáticos ficaram muito sensíveis.

"Nossa experiência provocou um genuíno terror e incredulidade entre os locais. Tal é a reputação do veneno da fruta", diz.

"Uma só mata 20 pessoas"

Histórias do tipo não são novas, é claro.

John Esquemeling, autor de um dos mais importantes livros de consulta sobre pirataria no século 17, "Os corsários da América" (1678), escreveu sobre sua experiência com a árvore "chamada mancenilheira , a árvora da maçã anã", quando esteve na ilha La Española, compartilhada entre o Haiti e a República Dominicana e conhecida por ter abrigado o primeiro assentamento europeu na América no fim do século 15.

"Um dia, quando estava extremamente atormentado pelos mosquitos e ainda ignorante sobre a natureza desta árvore, cortei um galho para me abanar. Meu rosto inchou e se encheu de bolhas, como se estivesse queimado, e fiquei cedo por três dias."

Nicholas Cresswell, cujo diário sobre seus dias nas colônias britânicas na América ficou para história, escreveu sobre a sexta-feira de 16 de setembro de 1774:

"A fruta da mancenilheira tem o aroma e a aparência de uma maçã inglesa, mas é pequena, cresce em árvores grandes, geralmente ao longo da costa. Estão repletas de veneno. Me disseram que uma só é suficiente para matar 20 pessoas."

"A natureza do veneno é tão maligna que uma só gota de chuva ou orvalho que caia da árvore na sua pele imediatamente causará uma bolha. Nem a fruta nem a madeira podem ser usadas, até onde eu sei."

Perigosa, mas útil

Surpreendentemente, talvez, a árvore tem seus usos, segundo o Instituto de Ciências da Agricultura e Alimentos da Flórida.

A mancenilheira da praia é usada para fazer móveis desde a época colonial. Acredita-se que sua seiva venenosa se neutraliza quando seca ao sol. Mas manipular a madeira recém-cortada requer muito cuidado.

Os nativos cobriam suas flechas com o veneno quando iram caçar.

E há documentos que mostram que a borracha da casca já foi usada para tratar doenças venéreas e retenção de líquidos na Jamaica, e as frutas secas foram usadas como diuréticos.

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