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Por que o futebol ainda reproduz a violência de gênero?

Podcast Papo de Mina debate casos de agressão e as dificuldades das mulheres que atuam na arbitragem do futebol

18 abr 2022 - 08h00
(atualizado às 15h25)
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A cabeçada sofrida pela assistente de arbitragem Marcielly Netto, durante as quartas de final do Campeonato Capixaba, completou uma semana. Neste período, mais de cinco mil outras mulheres foram agredidas.

Esses são dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, divulgados em 2019, que apontam que a cada dois minutos, uma mulher é vítima de violência doméstica no Brasil, e por dia, 180 são vítimas de estupro.

Treinador da Deportiva Rafael Soriano deu cabeçada na assistente Marcielly Netto - mais um caso de agressão contra a mulher
Treinador da Deportiva Rafael Soriano deu cabeçada na assistente Marcielly Netto - mais um caso de agressão contra a mulher
Foto: Reprodução

As imagens do caso viralizaram, a situação se tornou pública, com apelo midiático, e o agressor - o técnico da Desportiva Ferroviária, Rafael Soriano, já recebeu uma punição, ao menos na esfera esportiva. O treinador foi suspenso preventivamente pelo Tribunal de Justiça de Desportiva do Espírito Santo (TJD-ES) por um mês, com a possibilidade de pegar um gancho de 180 dias no total.

Mas quantas milhares de mulheres são vítimas dessa violência e não conhecem seus direitos, têm medo de denunciar ou não chegam a ter essa possibilidade? 

O ambiente do futebol apenas segue reproduzindo as violências que o gênero feminino já sofre fora das quatro linhas. Essa é a discussão que segundo episódio da nova temporada de podcasts do Papo de Mina traz, com a participação de Renata Ruel, ex-bandeirinha e comentarista de arbitragem dos canais esportivos da Disney, e Danila Ramos, árbitra do quadro da Federação Paulista de Futebol.

Renata Ruel diz que hoje, como comentarista, recebe ainda mais críticas do que quando estava em campo
Renata Ruel diz que hoje, como comentarista, recebe ainda mais críticas do que quando estava em campo
Foto: ESPN

“Uma mulher quando ela é agredida no futebol, e não é a primeira vez - a gente tem que deixar isso claro - não é só no futebol, no futsal já aconteceu também, choca ainda mais”, destaca Renata. Ela aponta ainda sobre o ambiente hostil e insalubre do futebol, e que acaba sendo “naturalizado”. 

“A violência não faz parte de nada na vida, muito menos do futebol. Falta punição mais grave”, ressalta.

Danila Ramos, que também já sofreu ameaças dentro de campo, endossa o pedido por mais punição, e cita o caso do treinador da Desportiva. “180 dias e daqui a pouco está aí, fazendo outra cagada dessas. É inadmissível o que nós estamos vivenciando", diz

Mais sobre o caso

A cabeçada do técnico Rafael Soriano contra a bandeirinha Marcielly Netto ocorreu no domingo, 10 de abril, durante o intervalo da partida entre Desportiva Ferroviária e Nova Venécia, válida pelas quartas de final do Campeonato Capixaba.

Irritado com a arbitragem, que encerrou a primeira etapa do jogo antes da Desportiva cobrar o escanteio que tinha a seu favor, o treinador invadiu o gramado no intervalo, e partiu para cima da assistente, agredindo verbalmente, antes de desferir o golpe. 

Após o ocorrido, ele negou a agressão, ameaçou processar Marcielly e argumentou que a bandeirinha estava “querendo se aproveitar de uma situação porque é mulher".

O clube, porém, demitiu Soriano logo após a partida, e o Tribunal de Justiça de Desportiva do Espírito Santo já o suspendeu preventivamente por um mês, mas a punição pode ser ainda maior, segundo Eduardo Xible Salles Ramos, presidente da corte, que definiu o ato como “criminoso” e de “extrema gravidade”.

Papo de Mina
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