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Pastora sofre AVC e fica sob os cuidados dos filhos gays: 'Isso é intragável a um homofóbico'

Irmãos contam o que mudou na rotina da família e citam episódios de preconceito

22 mai 2024 - 06h00
(atualizado às 17h40)
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Resumo
Pablo e Vinícius Charife viveram a experiência inesperada de se tornarem cuidadores de sua mãe, após ela sofrer um acidente vascular cerebral (AVC) e ter sequelas irreversíveis. Gays, os irmãos percebem um olhar de surpresa dos homofóbicos pelo cuidado dispensado a genitora.
Pablo e Vinicius Charife com a mãe, Rose Monte Charife
Pablo e Vinicius Charife com a mãe, Rose Monte Charife
Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal / Reprodução/Arquivo Pessoal

Na vida temos muitas surpresas, porém nem sempre estamos suficientemente preparados para encarar cada uma delas. Em 2018, os irmãos Pablo, de 36 anos, e Vinícius Charife, de 28 anos, receberam a inesperada notícia de que sua mãe, Rose Monte Charife, teve um acidente vascular cerebral (AVC) e teria sequelas irreversíveis. “Em um primeiro momento o susto, depois o amor”, conta a dupla.

Gays, eles afirmam que os gestos de procupação e entrega no cuidado com a mãe é um incômodo aos preconceituosos: “Saber que somos gays e damos amor e tudo do bom e do melhor à nossa mãe é intragável a um homofóbico”, diz Pablo. 

Os irmãos tiveram que modificar as suas rotinas e desenvolverem novas habilidades para cuidar da genitora, inclusive abdicando temporariamente de um relacionamento.

“Em uma semana, deixamos a função de filho, e passamos a ser chefe de casa e cuidadores. Passamos a ter responsabilidade sobre uma pessoa, o que era inédito para nós”, conta Pablo, que é influenciador digital, em Rio Branco, no Acre. “Ninguém nos deixa pronto para enfrentar os desafios, e a gente vai aprendendo com o tempo. Hoje, conhecemos desde o colchão ideal até a melhor pomada, passando pelo iogurte que auxilia no funcionamento do intestino”.

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Além do aprendizado, é necessário organização, pontua Vinícius ao explicar sobre a rotina. O caçula afirma que há na porta da geladeira da casa um calendário com o plantão de 24 horas que cada um faz aos sábados. Eles se revezam e se adaptam àquela que é a “prioridade” da família. 

Dentre as dificuldades elencadas pela dupla, está o cuidado constante e prolongado, pois a mãe, segundo eles, é um “bebê grande”. 

“Quando um bebê nasce, ele tem fases muito difíceis no primeiro, segundo, terceiro mês. Porém o bebê vai crescendo e aprendendo a andar, falar, e, enfim, descobrindo o mundo. Essa é a forma natural, a pessoa vai se desenvolvendo, mas, no nosso caso, a gente cuida de um bebê em um corpo de adulta, que não se desenvolve”, esclarece.

Pablo Charife com sua mãe antes de sofrer o acidente
Pablo Charife com sua mãe antes de sofrer o acidente
Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal / Reprodução/Arquivo Pessoal

Sexualidade e barreira religiosa

Além dos desafios no cuidado com a mãe, os irmãos precisam encarar o preconceito contra sua orientação afetiva sexual. Rose é pastora e teve dificuldade de aceitar a orientação sexual do primeiro filho, quando ele se assumiu. Atualmente, os irmãos dizem que ela demonstra um certo desconforto e angústia com a situação, mas por não poder participar e apoiar os seus filhos na vivência de sua sexualidade.

Já acerca da religiosidade, há algumas rusgas. Nenhum dos dois frequentam a igreja e afirmam que há um certo olhar discriminatório entre os religiosos para com eles.

“Desde os quatro anos, eu acompanhava minha mãe na igreja. Era uma liderança e ficava sentado mais no púlpito, do que junto à assembleia. Não me converti, nasci convertido praticamente. E hoje eu tenho muitos questionamentos espirituais sobre a concepção e definição de Deus”, partilha Vinícius que estudou jornalismo. 

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“Falar sobre isso é difícil. Eu cresci dentro da estrutura eclesiástica e assumir que não tenho mais aquela fé, é como ‘sair do armário’. Nesse caso, eu não saí, mas quebrei o armário, e continuo quebrando”, conta.

”Tive a aceitação da minha mãe, mas, deixo bem claro, que a igreja nunca me aceitou”, pontua o caçula Vinicius. “Hoje, minha experiência com o transcendente está ligada à arte, ainda gosto muito de ouvir algumas bandas do universo gospel”.

Atualmente, os dois irmãos contam que seus projetos de vida estão condicionados a mãe e aos cuidados a ela dispensados. Para eles, “não é possível fazer mudanças muito drásticas ou planos muito longos, pois ela precisa da gente”. “Algumas coisas vamos poder fazer somente quando ela descansar, enquanto isso vamos vivendo felizes, juntos e usufruindo da presença amorosa dela”, diz Vinícius.

Fonte: Redação Terra
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