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Quem foi que disse que futebol é só para quem vê?

Esporte é paixão nacional e com a gente, cerca de 18,6% da população brasileira que tem alguma deficiência visual, não seria diferente

13 dez 2022 - 11h40
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Diversas ferramentas podem ajudar o deficiente visual a curtir jogos de futebol com autonomia
Diversas ferramentas podem ajudar o deficiente visual a curtir jogos de futebol com autonomia
Foto: iStock

Na minha família, todas as crianças que nascem, saem do hospital de uniforme do Flamengo ou vestindo vermelho em homenagem ao nosso time de futebol do coração. Sou a única deficiente visual de toda a minha família, mas isso não foi motivo para que eu fosse segregada dessa paixão que passa de geração em geração e que é alimentada em todos os campeonatos imagináveis.

Tenho memória de ir ao Maracanã desde os três anos com meus tios e primos… Ah, vale ressaltar que fui a primeira neta mulher e consequentemente, a primeira sobrinha, irmã, prima e por aí vai, e isso também não foi impeditivo para me retirarem da roda. Hoje em dia, inclusive, me considero especialista no assunto e entendo muito mais do que muito homem vidente que tem por aí!

A forma como eu consumo/vejo os jogos passou por mudanças ao longo de todos esses anos. No início era através dos olhos de quem estava perto e com tempo fui acrescentando tecnologias que me dessem mais autonomia e que eu pudesse formar a minha própria opinião sobre o que estava rolando dentro das quatro linhas. Passei então a ouvir os jogos pelo rádio, pela TV, tudo isso, claro, sem dispensar os olhos atentos de quem esteja do meu lado. Pode parecer confuso e com muitas vozes ao mesmo tempo, mas eu acredito que é isso que faz a diferença na minha compreensão. Há muitas propagandas, comentários e intervalos nas falas de quem narra ao longo das partidas e são nessas brechas que um elemento vai complementando o outro e fazendo com que eu não perca nenhum detalhe e ainda assim eu acho que sempre falta algo.

Neste ano, houve audiodescrição durante a exibição de todas as partidas da Copa do Mundo, o que facilita muito para nós sabermos, por exemplo, as cores das bandeiras dos outros países e demais detalhes que são importantes para compreendermos o que se passa em campo. A audiodescrição é bem diferente da narração de um jogo e precisa que o profissional também seja criterioso para não confundir quem está ouvindo. A experiência ainda está em seus primeiros passos, mas já é um bom começo para tornar mais acessíveis as transmissões dos jogos daqui pra frente. 

Sou daquelas que compra roupas, bijuterias, enfeita a casa e ama se reunir com a família durante a Copa do Mundo. Gosto de assistir todos os jogos, não só os da Seleção Brasileira, gosto também de opinar nas escalações, fico brava mas entendo também que os jogadores são gente como a gente. Em 2016, tive a oportunidade de fazer uma matéria com a nossa Seleção Paralímpica de Futebol de 5 que, aliás, é pentacampeã mundial e até bati uma bolinha com nossos craques, fiz até um gol (obviamente porque eles deixaram), mas entendi que como jogadora sou uma excelente torcedora!

O futebol é sim uma paixão nacional e com a gente, cerca de 18,6% da população brasileira que tem algum tipo de deficiência visual, não seria diferente. Há quem ame, assim com eu, e há quem não. O que falta são ferramentas que nos considere também como consumidores e apaixonados por essa modalidade.

Fonte: Redação Nós
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