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Escola de Fotógrafos Cegos mostra novas formas de ver o mundo

Desenho nas costas, moldura e echarpe: entenda as técnicas que ajudam a explicar os conceitos da fotografia a alunos que não enxergam

20 set 2022 - 05h00
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Manoel, cego de nascença, fotografa a partir da cena que o professor desenha em suas costas
Manoel, cego de nascença, fotografa a partir da cena que o professor desenha em suas costas
Foto: Reprodução

Doze pessoas formam a primeira turma da Escola de Fotógrafos Cegos, projeto em andamento no Espírito Santo. Entre os alunos está o jornalista, radialista e youtuber Manoel Peçanha Nascimento, 53 anos.

"Eu escolho um local e um objeto. O professor que está me acompanhando desenha, com a ponta dos dedos, nas minhas costas a cena que está na minha frente. Assim eu vou construindo na mente o que quero fotografar", explica ele, que é cego de nascença.

O desenhar nas costas é um dos recursos usados pela equipe de seis professores, entre os quais está a encenadora, cineasta e videoartista Rejane Arruda, que criou a metodologia do projeto.

Descrição e tato

"A gente descreve tudo para eles. Na aula de hoje, estava tentando transmitir o que é uma imagem borrada. Pedi que eles que imaginassem minha mão ocupando diferentes posições no ar, e essas posições se unindo por um traço. Aí expliquei que o diafragma da câmera abre e fecha em velocidade mais lenta", conta Rejane, que já havia trabalhado com cegos em teatro e dublagem.

O tato é parte importante no processo de entender a imagem
O tato é parte importante no processo de entender a imagem
Foto: Divulgação

Para transmitir o conceito de zoom, Rejane providenciou uma moldura de quadro, para representar o quadro da máquina fotográfica, e posicionou, no centro dela, uma echarpe sua toda enrolada, como se fosse um ponto. Daí colocou os alunos para sentirem onde estava o objeto e todo o espaço livre em volta dele. Depois desenrolou a echarpe de maneira a ocupar mais espaço na moldura. Conseguiu assim explicar o conceito de abrir e fechar o zoom.

Aulas teóricas e práticas

O curso da Escola de Fotógrafos Cegos é dividido em oito módulos, com aulas teóricas e práticas. Nessas, eles fotografam na escola com orientação da equipe de professores. Os estudantes também podem levar o equipamento para casa para praticar.

O curso será encerrado com uma exposição de 32 fotografias no Parque Moscoso, em Vitória, em maio de 2023. Patrocinado pela ES Gás, empresa de gás do Espírito Santos, o projeto obteve financiamento via Lei de Incentivo à Cultura Capixaba.

Imagem clicada por Jarlison de Oliveira, um dos alunos da primeira turma da Escola de Fotógrafos Cegos
Imagem clicada por Jarlison de Oliveira, um dos alunos da primeira turma da Escola de Fotógrafos Cegos
Foto: Jarlison de Oliveira

Foto de passarinho

Manoel já tem duas ideias de fotos que quer fazer até o final do curso. Fotografar enquanto anda de bicicleta (sim, ele aprendeu escondido do pai,  depois de alguns tombos) e registrar um passarinho no quintal da sua casa, com quem se comunica via assobios (no dia desta entrevista, feita por telefone, a repórter pôde ouvir a ave respondendo a um assobio do radialista).

"Eu vou conseguir tirar foto dele. Esse é meu objetivo. Quando isso vai acontecer? Não estou preocupado com isso. Quando você faz algo que ninguém fez, você está criando", finaliza ele.

Fonte: Redação Nós
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