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Dona do "Alecrim Baiano", ativista Deborah Pataxó ecoa as lutas dos povos originários

Ela, que é autista e LGBTQIA+, luta pela saúde mental e soberania alimentar da população indígena

4 dez 2023 - 05h00
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Deborah Pataxó é editora, cozinheira e graduada em Direito e Gastronomia
Deborah Pataxó é editora, cozinheira e graduada em Direito e Gastronomia
Foto: Reprodução/Instagram/@alecrimbaiano

"Alimentação é Revolução" e "O Futuro é Ancestral" são duas das frases que a ativista indígena Deborah Pataxó escolheu para sua descrição no perfil no Instagram e, depois de uma hora de conversa, é possível perceber que são questões que efetivamente regem sua vida.

Editora, cozinheira e graduada em Direito e Gastronomia, Deborah ganhou notoriedade ao criar o perfil "Alecrim Baiano" no Instagram durante a pandemia para compartilhar uma de suas paixões: alimentação. 

"Me formei em Direito e, no final do curso, me apaixonei pela gastronomia, então meu TCC acabou sendo sobre direito humano à alimentação adequada. Eu entendo a gastronomia como uma ferramenta social, a alimentação como um direito básico", dispara a criadora de conteúdo de 29 anos. 

"O perfil no Instagram começou do tédio e da necessidade de uma rotina, algo fundamental para mim ,como é para muitos autistas", conta ela, que recebeu o diagnóstico já adulta. Além do Transtorno do Espectro Autista (TEA), Deborah vive com TDAH, o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade. 

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"O diagnóstico foi um divisor de água na minha vida que respondeu muitas questões", aponta lembrando que, para chegar até ele, contou com uma ajuda essencial: uma psicóloga, que assim como ela é indígena.  

"Ela compreendia as questões culturais, comportamentais, entendeu que tinham algumas questões minhas que precisavam ser investigadas e também que, como indígena, vamos ter outras formas de lidar com a crise, que pode ser soprando um rapé, acendendo uma fogueira. Eu vou buscar na minha cultura e nas tradições do meu povo formas de lidar", explica. 

Atualmente, Deborah segue com o acompanhamento de profissionais especializados em TEA e TDAH, mas sem deixar de lado suas origens. "Quando interajo socialmente, com muitas pessoas e por muito tempo, fico em um estado de não verbalizar, interagir, um pouco febril. Já entendo e consigo me acolher. O diagnóstico é muito libertador, sei que tem pessoas que têm medo de procurar [ter um diagnóstico], mas é sobretudo uma forma de autocuidado", aconselha. 

Deborah reforça ainda a importância do cuidado da saúde mental da população indígena citando um levantamento da Fiocruz em conjunto com Universidade de Harvard publicado na conceituada revista cientifica "The Lancet Regional Health - Americas" que aponta que a taxa de suicídio entre indigenas é três vezes maior do que em outras populações no país. 

O diagnóstico também teve um peso ancestral. "Minha avó também tinha questões de saúde mental e era chamada de 'Maria Lelé'. Morreu negligenciada, de diabetes, porque o olhar para saúde indígena é defasado. De certa forma, meu diagnóstico tirou um peso não só de mim, é uma resolução para gerações. E, sabendo como me cuidar, vou passar isso para as próximas gerações". 

Alimento e afeto

Vivendo em Alcobaça, extremo sul da Bahia, cidade onde nasceu e morou até os 12 anos, Deborah se dedica à alimentação, mais especificamente às lutas da soberania alimentar para povos indígenas. "Para nós, é uma questão ligada ao direito ao território, e também aos lagos, mares. É sobre se alimentar com o que tem relação com a própria cultura, sobre o colher, plantar, caçar, sobre não ter o território ameaçado e envenenado", denuncia. 

"Hoje até tem programas assistenciais, mas aquela, de uma cesta básica comum, com produtos industrializados e ultraprocessados, não de acordo com aquele território. É importante lembrar que nós, indígenas, temos organismo diferente dos brancos. Por aqui, diabetes mata muito porque historicamente temos uma alimentação com pouco açúcar, presente apenas em frutas e leguminosas", explica citando os dados de diabetes entre Xavantes publicados em uma pesquisa da Unifesp e da USP.

Do tempo distante da cidade natal, viveu no Rio de Janeiro e, pouco antes do retorno, em São Paulo, mais especificamente em Osasco. E fez isso por amo. É na cidade paulista que vivia a namorada Bruna Suirãnhy Kariú. 

"A gente se conhecia do Twitter (atual X) e seguíamos vários parentes. Ela é do povo Kariú Kariri e toda família é do Piauí, mas nasceu em Osasco. Quando a gente começou a conversar, ela estava com passagem comprada para a Bahia, mas era Porto Seguro, que fica distante três horas horas daqui. No fim, veio e ficou quase um mês aqui. Em seguida, eu me mudei para São Paulo para morarmos juntas, bem emocionada", conta rindo. 

Depois de alguns meses, o retorno para Alcobaça foi natural. O casal conta com o apoio da comunidade, mais aberta à diversidade. "Cada povo se organiza de uma forma. O povo Pataxó tem uma juventude muito atuante, com lideranças bissexuais, gays, lésbicas, trans. Ttem que ser uma pauta dentro da comunidade, mesmo todos esses conceitos e termos tendo sido importados e vindo com os colonizadores é uma forma que a gente se afirma para somar na luta", conta ela. 

E é diante dessa realidade, de uma mulher indígena, LGBTQIA+, com TEA E TDAH que Deborah vai lutando, informando e conscientizando sobre a pluralidade dos povos indígenas e suas realidades. Para o próximo ano, aguarda o retorno do fomento da Lei Paulo Gustavo, que visa fortalecer a cultura no país para viabilizar o projeto do programa  "Jokanas", uma série audiovisual onde vai cozinhar ao lado de outras mulheres indígenas.

8 mulheres indígenas que são símbolo de resistência 8 mulheres indígenas que são símbolo de resistência

Fonte: Redação Nós
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