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Campeão do 'Ilhados com a Sogra' cita 'colapso' na família por transição de gênero: 'Faltava um pedaço de mim'

Miguel Filpi, que integrou o time da 'Família Kashiura' no reality show, conversou com o Terra no Dia Nacional da Visibilidade Trans

29 jan 2025 - 05h00
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Participante do ‘Ilhados com a Sogra’ diz que se afastou dos pais por um ano após decidir por transição:

Quem vê o sorriso largo do influenciador digital Miguel Pasqualetto Filpi, de 31 anos, não imagina o que ele viveu anos antes da sua transição de gênero, enquanto ainda descobria sua verdadeira identidade.

Natural de Araraquara, no interior de São Paulo, Miguel venceu o reality show Ilhados com a Sogra 2  ao lado da ex-namorada Camila Kashiura e da ex-sogra Celina Kashiura. O nome do analista de dados ganhou repercussão na mídia após a estreia do programa da Netflix.

No entanto, Miguel já era conhecido nas redes sociais por criar conteúdo sobre transição de gênero, relacionamentos e seu dia a dia como um todo. Em conversa com o Terra, ele refletiu sobre o Dia Nacional da Visibilidade Trans, que é nesta quarta-feira, 29, e contou detalhes da sua transição, família, relacionamentos e participação no reality show.

"É uma data de mix de sentimentos para mim. Ao mesmo tempo que tenho essa sensação positiva, esperançosa, sei que ainda temos muito chão e muita luta pela frente. É uma mistura de luta e celebração, mas sempre mais luta. Eu não entendo qual é a ameaça de pessoas trans e travestis. As pessoas já sabem que somos minoria, então, qual é a questão?", declarou.

Miguel Filpi ganhou repercussão na mídia nacional após participar do reality show 'Ilhados com a Sogra 2'
Miguel Filpi ganhou repercussão na mídia nacional após participar do reality show 'Ilhados com a Sogra 2'
Foto: Arquivo Pessoal/Cedido ao Terra

Como foi a transição de gênero de Miguel Filpi?

Aos 24 anos, Miguel Filpi entendeu que sua identidade de gênero não era àquela com a qual ele havia sido designado ao nascer. "Eu vivi 24 anos da minha vida, eu não vou dizer miserável, porque eu tive partes muito felizes da minha infância. Mas eu não era completamente feliz. Eu fazia tudo pela metade, faltava sempre um pedaço de mim, em tudo que eu fazia", contou.

Antes de transicionar, Miguel se assumiu para os pais como mulher cisgênero lésbica. "Eu tive que me reconhecer para eles duas vezes. A primeira foi quando assumi minha sexualidade, quando eu era mais novo, antes da transição. Na época, era como uma mulher lésbica. Não foi também uma grande emoção. Pai e mãe, às vezes, têm projeções nos seus filhos. Eles imaginam uma coisa para o futuro dos seus filhos. Quando aconteceu a segunda vez, eu tinha 24 anos", explicou.

Inicialmente, os pais do criador de conteúdo não receberam muito bem a notícia da transexualidade. Além da preocupação com o preconceito da sociedade, havia também o cuidado para compreender o que era uma transição.

"Quando eu entendi que a minha identidade de gênero era aquela, e que não tinha mais como voltar atrás, e eu dividi isso com ela [mãe], foi bem difícil. Teve uma quebra monumental da expectativa dela. Ela falou: 'Não! Como assim?'. Vendo de fora, houve um mix de preocupação. Sabemos o mundo que a gente vive. A preocupação dela do preconceito, da violência, das pessoas realmente terem uma questão comigo", relembrou.

Influenciador digital conversou com o Terra sobre transição de gênero
Influenciador digital conversou com o Terra sobre transição de gênero
Foto: Arquivo Pessoal/Cedido ao Terra

Relação com a família

Segundo Miguel, por mais que ele tivesse dado vários sinais aos pais, eles ainda não haviam percebido quem, de fato, o jovem era. Depois do "choque" recebido pelos pais, Miguel procurou a terapia e tanto o pai quanto a mãe foram buscar mais informações sobre transição de gênero.

"Para eles, era uma coisa do nada. Para mim, foi a vida inteira vivendo com isso. Quando eu me encontrei nesse lugar, para mim foi: 'Não existe escolha, isso aqui sou eu. Estou avisando apenas, seguindo com isso, vai ser meu processo'. Eles também ficaram preocupados com a parte hormonal e física. Meu pai é médico, então ele entrou muito em 'colapso' com a medicina, com a biologia", relatou.

Para Miguel, o ponto crucial foi ver que seus pais estavam se esforçando para buscar mais informações sobre o tema. Além de verem vídeos sobre o assunto, eles ouviram também médico, mães e pais de pessoas transexuais. O influenciador reconheceu que chegou a pensar que não teria mais o convívio e o amor dos pais, mas, com o tempo, o relacionamento entre eles foi se alinhando.

"Quando fui pra terapia, comecei a entender que existiria a possibilidade de eu realmente não ter mais meus pais, de eles me rejeitarem. A gente ficou separado mais ou menos um ano, até eu decidir fazer minha mastectomia, que foi um momento muito simbólico. Eu dependia um pouco deles ainda na parte financeira, mas eles nunca abriram mão, sempre me ajudaram. Era a forma deles mostrarem que estavam lá", recordou. 

A mastectomia, que é o procedimento para retirada das mamas, foi marcada para o dia do aniversário da mãe de Miguel. O que para alguns pode soar como afronta, foi, na verdade, uma maneira de mostrar aos pais que o processo era "para valer". 

Miguel Filpi trabalha como analista de dados e tem planos para gerar conteúdo nas redes sociais
Miguel Filpi trabalha como analista de dados e tem planos para gerar conteúdo nas redes sociais
Foto: Arquivo Pessoal/Cedido ao Terra

"Minha mãe me acompanhou em todas as consultas. Foi o começo de uma reconciliação, e eu queria que eles fizessem parte desse processo. Ela me ajudou da forma que conseguiu. Esteve comigo o tempo todo, sofreu comigo. Nosso vínculo hoje é muito melhor. Amo estar perto deles, a gente convive muito mais e nossas conversas são mais profundas"

A família de Miguel foi orientada fazer uma sessão em grupo antes do início da transição. Na época, eles falaram tudo o que pensavam sobre a transexualidade. No entanto, com o passar do tempo, o respeito deu lugar ao medo.

"Eles me respeitam, me aceitam como filho deles. Não posso impor a forma como eu quero que eles se sintam. Mas a nossa convivência família está perfeita e a nossa relação melhorou absurdamente. Conflitos do dia a dia continuamos tendo, porque continuamos sendo uma família, e é supernormal", afirmou. 

Preconceito nos relacionamentos

Questionado pelo Terra sobre se já viveu algum tipo de preconceito vindo das famílias de ex-namoradas, Miguel disse que o problema sempre esteve presente em alguns namoros, tanto antes da transição quanto depois.

"Antes da transição, algumas famílias não queriam me ver, nem saber da minha existência. Depois de transição, acabei até conhecendo a mãe de uma ex-namorada, foi super educada e me tratou bem, mas, em conversas com a minha ex, ela falava algumas coisas. Então eu percebi que era mais velado", disse.

Sobre a relação com a família da ex-esposa, Camila Kashiura, Miguel revelou que desde sempre manteve uma boa relação com todos. "A família dela foi a primeira que me abraçou como nunca. É difícil descrever o amor que senti na família da Camila. Por um momento, eu me senti cis. Eu falei: 'É isso aqui? Uma relação cis heteronormativa?'", brincou.

Miguel também contou que, frequentemente, é abordado por pais e mães que querem entender mais sobre a transexualidade de seus filhos. "Acho que só quem faz parte de uma minoria consegue entender que esses momentos são valiosos. Eu desejaria que todas as famílias fossem iguais a da Camila, mas eu tenho esperança. Eu sinto que muitas mães estão se abrindo pra isso. Eu estou vendo uma abertura maior dos pais, e acho que isso deve a referências positivas."

E quais os planos para o futuro?

De fato, Miguel reconheceu que furou uma "bolha" após sua estreia em Ilhados com a Sogra 2. Agora acumula mais de 300 mil seguidores somente no Instagram, já fechou parcerias publicitárias e tem aparecido mais nas redes sociais. 

O plano, agora, é aproveitar esse alcance para levar maior conhecimento aos seguidores. "Meus projetos, para este ano, envolvem construir uma comunidade de transição de gênero nas redes sociais, para batermos 'esse papo'. Quero fomentar projetos sociais relacionados à transição. Quero trabalhar com a internet e, obviamente, trazer mais conteúdos para esta comunidade como um todo", revelou.

O influenciador digital, que também mantém um vínculo CLT na área de análise de dados, contou que vai precisar se organizar entre os trabalhos para iniciar esses projetos em plataformas digitais.

"Eu quero trazer uma boa referência. Eu quero ser uma boa referência para nossa comunidade. Vamos ter mais vídeos, palestras, quero muito participar de mais conversas, como TED Talks, por exemplo", finalizou.

Fonte: Redação Terra
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