A divulgação do estudo completo do Projeto Genoma nesta segunda-feira abre uma série de novas questões para a ciência. O estudo revela que os humanos têm menos genes que o previsto — apenas duas vezes mais que as moscas e 300 a mais que os ratos. "Agora, temos que aprender a usá-lo para compreender a biologia do organismo", comentou David Galas do Applied Life Science. Barbara Jasny, uma das editoras da revista científica Science, completou: "Resta compreender como tão pequeno número de genes pode fazer uma mosca ou uma pessoa". Do outro lado da mesa, já existem opiniões divergentes como a do especialista francês Jean Michel Claverie, também da Science: "A complexidade do organismo humano não se explica pela maior quantidade de genes", afirmou à AFP. "A maior diferença entre o homem e a mosca é a complexidade de nossas proteínas", acrescentou o norte-americano David Baltimore.
Várias questões ainda permanecem sem respostas no âmbito da genética, admitiu Craig Venter, um dos principais pesquisadores do Projeto Genoma. Os cientistas ignoram a função de aproximadamente 40% dos genes, segundo ele.
A partir de agora, os pesquisadores e as empresas têm pela frente um desafio mais instigante ainda do que o mapeamento do código humano: o estudo das proteínas. Esta especialidade, batizada como "proteômica", tem como objetivo identificar fins terapêuticos entre centenas de milhares de proteínas encontradas no homem.
Uma análise aprofundada do nosso patrimônio genético mostra especialmente que há muitas áreas quase desertas, com poucos genes, agrupados principalmente em lotes, e pistas de troca de genes com bactérias.
O genoma também possui um grande número de variações, mais de duas milhões têm importância para pesquisas médicas especializadas. Estas mudanças sutis, designadas "polimorfismos mononucleotídicos" ou "SPN", distingüem os indivíduos. "Elas desempenham um papel na predisposição a todo tipo de doenças como diabetes, mal de Alzheimer e influenciam na forma como nossos corpos reagem a um medicamento", explicou Aravinda Chakravarti, da revista científica Nature.
"A investigação nesta área teve um crescimento enorme", afirmou Stanley Fields, do Howard Hughes Medical Institute em Seattle, nos Estados Unidos. Venter, por exemplo, é um dos que não têm dúvidas sobre o significado e os benefícios potenciais da descoberta: "Terá um impacto enorme sobre a humanidade porque ajudará a nos mostrar que não somos o centro do universo biológico".
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