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Bush e Gore lutam voto a voto

Domingo, 05 de novembro de 2000, 02h37min
Os americanos vão às urnas depois de amanhã sem saber quem elegerão para suceder ao presidente Bill Clinton na Casa Branca. Depois de quase um ano de campanha, a disputa entre o vice-presidente Albert Gore e o governador do Texas, George W. Bush, chega ao final de forma tão indefinida que não se pode descartar a possibilidade de o resultado vir a pôr em questão o próprio sistema eleitoral usado para selecionar o líder do país mais rico e poderoso do planeta.

É o que provavelmente acontecerá caso o candidato que, na sexta-feira, parecia ter mais chances de receber o maior número de sufrágios nas urnas - o republicano Bush - perca para seu rival democrata no Colégio Eleitoral, o mecanismo que os fundadores do país criaram para referendar a decisão popular e, em duas ocasiões, no passado, produziu o resultado oposto.

Vários cientistas políticos consideram esse desfecho possível por causa da forma como o apoio aos dois candidatos distribuiu-se geograficamente pelo país, com Bush à frente na maioria dos Estados, mas Gore em posição de vantagem num conjunto menos numeroso de Estados maiores, que têm o grosso dos votos no Colégio Eleitoral.

Empate no Colégio - Na sexta-feira, estimativas feitas pelos comandos das duas campanhas não afastavam sequer a hipótese de a contenda terminar empatada no Colégio Eleitoral e a decisão final ficar com a Câmara de Representantes, conforme manda a Constituição do país.

O panorama das eleições para o Congresso estava igualmente indeterminado. Ao iniciar-se o derradeiro fim de semana antes da votação, as projeções indicavam a possibilidade de os democratas retomarem o controle da Câmara, mas por apenas uma ou duas cadeiras de diferença, num total das 435 que estão em jogo. No Senado, onde se disputam 34 das 100 vagas, os republicanos pareciam estar em condições de reter o comando, mas com uma maioria ínfima, de no máximo um par de cadeiras.

"Qualquer que seja o resultado, governar os EUA nos próximos quatro anos será uma tarefa extremamente difícil, que requererá grande humildade e sabedoria, pois o presidente que sair dessa eleição não terá um mandato político claro, confirmado por uma maioria expressiva, e terá que buscar apoio para seu programa de governo num Congresso dividido ao meio", disse ao Estado Norman Ornstein, do American Enterprise Institute, um dos mais conceituados estudiosos do governo dos EUA.

Perplexidade - É uma perspectiva que deixa perplexos o próprio Ornstein e outros analistas. Afinal, com o país no auge da prosperidade, depois de oito anos de um governo no qual a maioria dos americanos atingiu o Nirvana econômico e os gigantescos déficits fiscais herdados de duas administrações republicanas foram transformados em superávits, era de se esperar que o país premiasse Gore, o candidato da situação.

Reconhecido até por seus adversários como o vice-presidente mais influente e poderoso que o país já teve, Gore é também visto pela maioria dos americanos como o candidato mais experiente e preparado para ocupar a Casa Branca. Um político moderado e porta-bandeira de um partido que nos últimos anos se reposicionoue no centro do espectro político, onde está a maioria dos americanos, o vice-presidente defende também posições mais próximas às dos eleitores em praticamente todos os tópicos de interesse, como a reforma da previdência, educação e saúde.

Por que, então, está ele atracado numa batalha desesperada com um candidato tido como menos qualificado, na qual sua chance de vitória talvez repouse no Colégio Eleitoral, e não nas urnas? Uma resposta, repetida por vários comentaristas nas últimas semanas, foi dada por John Zogby, um especialista em pesquisas de opinião.

"Para muita gente esta eleição é uma peleja entre dois personagens da história de O Mágico de Oz", disse ele. "De um lado, temos Gore, o Homem de Lata, que tem cérebro, mas não tem coração; do outro, temos Bush no papel do Espantalho, um Espantalho simpático, que só tem coração, mas... é melhor eu não terminar a frase."

L. Sandy Maisel, chefe do departamento de Ciência Política do Colby College, no Maine, acredita que o vice-presidente acabará vencendo, com maioria tanto no voto popular como no Colégio Eleitoral - "com 297 votos", arrisca. Ele vê duas explicações para as dificuldades de Gore numa eleição na qual, em tese, deveria destroçar seu oponente.

"Honestamente, eu acredito que Gore é a grande vítima de Bill Clinton", disse ele. "Quando ele concorreu à vice-presidente, em 1992, com Clinton, Gore foi visto e aceitou o papel de escoteiro; parte da tarefa de ser escoteiro é ser leal - e sua lealdade a Clinton o colocou no dilema em que ele se encontra para ganhar a presidência", afirmou Maisel.

"Tendo de escolher entre a lealdade e o que deveria fazer para preservar-se politicamente dos escândalos que marcaram a atual administração, Gore escolheu a lealdade e isso acabou estabelecendo, na cabeça do público, uma ligação entre sua imagem e a de Bill Clinton, que é, de várias maneiras, prejudicial à sua candidatura".

O temor de que esse nexo negativo com o homem de quem é o herdeiro político prejudicasse suas chances levou o candidato democrata a tratar Clinton, seu patrono, como um leproso durante a campanha. Ele não mencionou o presidente mais do que um par de vezes pelo nome, publicitou todos os seus esforços para estabelecer uma clara separação com a Casa Branca e manteve-o distante de seus comícios. Mas, ao estabelecer essa distância, Gore abriu mão da oportunidade de transformar a eleição num referendo sobre oito anos de vacas gordas.

Para Maisel, o outro problema que o vice-presidente tem com os americanos é parecido com o do Homem de Lata de Oz. "Ninguém gosta do tipo que sabe tudo, e gosta menos ainda do tipo que diz que sabe tudo", disse Maisel. "Gore é um desses tipos: ele é extremamente inteligente, mas não consegue não vangloriar-se de sua inteligência - e as pessoas odeiam isso."

Bush, em contraste, é um homem afável como seu pai, o ex-presidente George H. Bush, que Clinton destronou em 1992. É também um sujeito bem-humorado, dono de grande empatia pessoa - em suma, a personificação do boa gente.

Segundo Maisel, sua falta de experiência nas questões da presidência não assusta os americanos, até porque o país já elegeu outros presidentes do mesmo padrão: Harry Trumam era um insignificante senador de Missouri quando compôs a chapa presidencial como vice de Franklyn Roosevelt.

Jimmy Carter era um fazendeiro de amendoim que havia sido governador da Geórgia por apenas quatro anos antes ao chegar à Casa Branca; e o próprio Clinton, governador do acanhado Estado sulista de Arkansas, não tinha qualquer experiência em política externa ao ser eleito.

"O preocupante, no caso de Bush é que, além de ser despreparado, ele não parece especialmente interessado em aprender, em envolver-se no estudo das complexas tarefas do governo, como fizeram outros candidatos em circunstâncias semelhantes", disse Maisel.

Mas o fato de não ter a experiência nem o estofo e a curiosidade intelectual de Gore não impediu o governador do Texas, porém, de mostrar que é um excelente praticante da arte de fazer amigos, influenciar pessoa, angariar fundos para a sua campanha e conquistar votos. "Ele entrou no jogo com uma mão fraca e usou-a de uma forma brilhante para explorar a o desejo de mudança que sempre existe depois que um mesmo partido ocupa a Casa Branca por oito anos e para usar a seu favor o cansaço com o clima de novela e melodrama que os escândalos e processo de impeachment de Clinton deixaram no país", disse Thomas E. Mann, cientista político da Fundação Brookings.

"Ironicamente, dos dois candidatos Bush acabou sendo o que mais lembra o lado atraente Clinton." Em contraste, "Gore não é um político natural ou particularmente atraente, tem alguns maneirismos que são irritantes", disse.

"Mas eu continuo a acreditar que ele vencerá - vencerá a eleição popular por uma margem de 2% a 3% e o Colégio Eleitoral com cerca de 300 votos, por que não creio que os americanos estão prontos para eleger o candidato da oposição num período de bonança e sem que haja um argumento convincente a favor da mudança."

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O Estado de S. Paulo

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