Habitantes de Murmansk denunciam obsessão pelo segredo
Segunda, 21 de agosto de 2000, 10h34min
Para os habitantes de Murmansk, no norte da Rússia, a tragédia dos 118 marinheiros do Kursk se deve em grande parte a condutas próprias da Guerra Fria, das quais a Rússia pós-soviética ainda não soube se livrar. Nesta localidade, em que se dá como fato consumado a morte de todos os tripulantes do submarino nuclear, muitos criticam em alta voz as autoridades civis e militares, por seu "culto ao segredo", que teria causado a morte dos marinheiros do Kursk. A tese do governo e da alta hierarquia militar, segundo a qual a maioria dos tripulantes morreu nos primeiros minutos da catástrofe, no dia 12 passado, inspira desconfiança entre os habitantes desta cidade portuária. A maioria prefere a versão de um complô das autoridades, o que explicaria o atraso em anunciar o acidente e solicitar ajuda internacional. Sacerdote local e ex-oficial da Marinha, Andrei Amelin resumiu ontem o sentimento geral com as seguintes palavras: "A vida é mais importante que o segredo. Se (as operações de resgate) tivessem começado antes, muitas vidas poderiam ter sido salvas". Uma aposentada comparou o caso do "Kursk" com o de Chernobil: "Por que escondem os acidentes graves do povo? Aconteceu a mesma coisa com a catástrofe de Chernobil", lamentou. As autoridades soviéticas demoraram em 1986 duas semanas para revelar a explosão do reator nuclear, tendo finalmente admitido que a nuvem radiativa havia atingido a maior parte da Ucrânia e o oeste da Rússia. Na seção de cartas para a direção do jornal Polarnaya Pravda, um leitor lembra o caso do submarino Komsomolets, que se incendiou no mar de Barents em 1989, afirmando que a tripulação o proibiu de enviar uma mensagem de socorro. Quarenta e duas pessoas morreram na catástrofe. O fato de que o mar de Barents foi um cenário importante da Guerra Fria entre norte-americanos e soviéticos e que ainda hoje serve de vez em quando para exercÃcios discretos das duas Armadas, dá credibilidade à hipótese de que as considerações militares predominaram sobre a vida dos marinheiros na gestão da crise. Até a chegada ao local, ontem, das equipes britânicas e norueguesas de resgate, as autoridades só tinham permitido o acesso ao setor de alguns poucos jornalistas slecionados e também controlaram estritamente as imagens destinadas à difusão na imprensa internacional. As poucas imagens do Kursk difundidas ontem pelas emissoras ocidentais de televisão podem constituir uma preciosa informação para um potencial inimigo, estmaram setores tradicionalistas do Exército. Além disso, as autoridades militares fizeram todo o possÃvel para impedir aos meios de comunicação acesso à s famÃlias dos marinheiros, isolando-as em um povoado a 80 km de Murmansk. Leia mais: » Encontrados restos de outro submarino perto do Kursk » Encontrado o primeiro cadáver de tripulante do Kursk » Tristeza e raiva tomam conta da Rússia » Rússia pede ajuda à Noruega para recuperar corpos » Noruegueses vão continuar ajudando no resgate » Comando militar russo confirma que não há sobreviventes » Equipe norueguesa declara tripulação do Kursk morta » Putin já sabia da morte da maioria dos tripulantes » Rússia dará US$ 54 mil para vÃtimas do submarino » Minissubmarino inglês não será usado no resgate do Kursk » Mergulhadores conseguem abrir escotilha do submarino russo » Rússia pede oficialmente intervenção britânica » Principais notÃcias sobre o submarino nuclear russo » Principais acidentes de submarinos nucleares » Brasil prepara submarino nuclear » Veja a animação
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