Entrevista com Jack Wink, cocriador de Sirocco – novo MOBA quer quebrar padrões
Cofundador da Lunchbox Entertainment revela os bastidores de Sirocco, um MOBA inspirado em mods de Warcraft 3
A indústria dos MOBAs está prestes a receber uma nova proposta ousada com Sirocco, o jogo desenvolvido pela Lunchbox Entertainment. Para entender melhor a trajetória por trás do projeto e os planos do estúdio, conversamos com Jack Wink, um dos fundadores do estúdio, que compartilhou como tudo começou e o carinho especial pela comunidade brasileira.Nossa missão é libertar a criatividade dos mods de Warcraft 3”
Na era dos MOBAs hipercomplexos e fórmulas repetidas, Sirocco surge como um sopro de inovação. Desenvolvido pela Lunchbox Entertainment, o jogo reimagina o clássico mod Battleships de Warcraft 3 com influências de Vampire Survivors, roguelikes e muita personalidade. Conversamos com Jack Wink, cofundador do estúdio e principal mente por trás de Sirocco, sobre a criação do jogo, os desafios da indústria e, claro, o carinho pela comunidade brasileira.
Game On - Antes da Lunchbox Entertainment e do desenvolvimento de Sirocco, como foi sua trajetória nas áreas criativa e tecnológica? Quando surgiu a ideia de transformar essa paixão em um estúdio independente de games?
Jack Wink - Foi uma jornada intensa. Fundamos a Lunchbox Entertainment há cerca de quatro anos – eu, meu melhor amigo Arik Torkelson e meu irmão Max. Nenhum de nós tinha experiência formal em desenvolvimento de jogos. Não sabíamos programar, criar assets 3D, nada técnico. Achávamos que íamos desistir em alguns meses. Mas tínhamos bastante experiência com mods divertidos em Warcraft 3, e o Max vinha do Twitch e da Loaded, o que nos conectou com gente da indústria.
Sempre voltávamos ao mod Battleships. Ele desafiava muitas convenções de jogos como Dota e League. Achávamos que alguém acabaria fazendo uma versão moderna... mas ninguém fez. Então, no dia 1º de janeiro de 2021, decidimos tentar.
O caminho foi cheio de obstáculos. Tivemos que aprender tudo do zero. Mas nossa paixão por design de jogos e mods de Warcraft 3 nos trouxe até aqui. Acreditamos que algumas das mecânicas mais inovadoras dos games estão escondidas nesses mapas personalizados. Com Sirocco, queremos trazer essa criatividade para um público maior e repensar o que é um MOBA.
Game On - O público brasileiro é extremamente apaixonado por MOBAs e jogos competitivos. Vocês têm planos específicos para se conectar com essa comunidade? Já receberam algum feedback do Brasil?
Jack Wink - Com certeza! Sabemos o quanto a comunidade brasileira é apaixonada por MOBAs e competição. Um de nossos artistas de VFX é de São Paulo e compartilha com a gente o entusiasmo da cena local.
Ainda não anunciamos iniciativas oficiais, mas estamos procurando formas de nos conectar com jogadores do Brasil e espalhar a palavra. Se tiverem ideias, estamos ouvindo! É uma comunidade que queremos muito alcançar e apoiar.
Game On - O mod Battleships de Warcraft 3 é uma grande inspiração. Como foi transformar essa base em um jogo moderno, sem perder a essência?
Jack Wink - Não foi simples. Os primeiros testes com quem nunca jogou Warcraft 3 mostraram que muitas mecânicas originais eram confusas. Algumas lembravam muito League ou Dota, o que não era nosso objetivo. Então partimos do zero, repensando tudo.
Mantivemos três pilares do mod:
Armas automáticas, focando em posicionamento.
Troca de navios durante a partida.
Economia híbrida com recompensas pessoais e em equipe.
Refinamos esses sistemas, eliminamos complexidades desnecessárias e adicionamos novidades para diversificar os estilos de jogo. O resultado é um jogo que honra o original, mas com liberdade e frescor que nem imaginávamos no começo.
Game On - A troca de “heróis” durante a partida é algo inusitado em MOBAs. Qual foi a motivação e como isso afeta o ritmo das partidas?
Jack Wink - Em Sirocco, todos começam como Sampan – nosso navio base. É o único que pode ser usado por mais de um jogador no mesmo time. Conforme você melhora os atributos, desbloqueia novos navios e pode trocar durante a partida.
Isso veio direto do mod original e traz uma evolução dinâmica ao jogo. Diferente de lá, Sirocco não penaliza você por trocar – todos os navios são viáveis a qualquer momento. Isso dá liberdade estratégica. Tem jogador que troca o tempo todo. Outros se apegam ao Sampan e nunca mudam. É parte do charme.
Game On - O jogo mistura elementos de Vampire Survivors, MOBA e roguelike. Como foi equilibrar essas influências?
Jack Wink - Curiosamente, Vampire Survivors “roubou” nossa ideia de armas automáticas, então devolver a gentileza pareceu justo! Mas falando sério: o sucesso de Vampire Survivors nos ajudou a pensar fora da caixa, além do mindset de Warcraft 3.
Incorporamos armas inspiradas nesses jogos e elementos roguelike, como aleatoriedade controlada. Por exemplo, a disponibilidade de navios muda a cada partida, mas vale para os dois times, então continua justo. Isso traz variedade e estratégias novas a cada jogo. O meta nunca fica estagnado.
Game On - Um dos destaques de Sirocco é a ausência de sistemas complexos de itens. Isso foi pensado para tornar o jogo mais acessível ou como crítica aos excessos dos MOBAs tradicionais?
Jack Wink - Os dois! MOBAs tradicionais muitas vezes priorizam conhecimento sobre intuição. Builds fixas, roles e mecânicas como last-hit afastam novos jogadores e limitam a criatividade.
Em Sirocco, queríamos remover essa complexidade herdada e ainda manter profundidade. Tiramos builds obrigatórias e roles fixas. Usamos disparo automático e experiência compartilhada para focar em posicionamento e estratégia emergente. É uma crítica sim, mas também um convite: queremos um jogo que ensina jogando.
Game On - Como foi o processo criativo por trás dos navios e armas? Teve alguma inspiração inusitada?
Jack Wink - Desde o começo, queríamos algo original. Criamos um universo tipo “Duna com barcos”, num futuro distante onde a maior parte da Terra foi submersa. As culturas do jogo vêm das regiões mais altas do planeta.
As Loom Coils, por exemplo, usam Occo, um recurso raro disputado nas partidas. Cada navio é movido por um Heirloom – geradores ultra-raros que só alguns possuem. Criar a lore por trás disso tudo tem sido uma das partes mais divertidas do desenvolvimento.
Game On - O jogo é gratuito e com monetização apenas cosmética. Como vocês veem a sustentabilidade desse modelo, especialmente sendo um estúdio indie?
Jack Wink - Monetização é um tema delicado. Mas achamos um modelo que funciona pra gente e pros jogadores. Dá pra jogar ilimitado e desbloquear todos os capitães apenas jogando. Para quem quiser acelerar, tem o Captain Pass de US$ 15 que libera tudo.
O resto são cosméticos desbloqueáveis com o sistema de crafting. Dá pra jogar, juntar recursos e conseguir skins incríveis sem gastar. O feedback tem sido ótimo. Pode parecer complexo no começo, mas tem bastante profundidade pra quem curte explorar.
Game On - O jogo está em acesso antecipado no Steam e vocês abriram canais diretos com a comunidade. Que tipo de feedback mais importa agora e o que podemos esperar nos próximos meses?
Jack Wink - A comunidade tem sido essencial. Recebemos ótimos feedbacks, mas o mais valioso agora vem dos novos jogadores. Isso mostra como está a experiência de quem entra pela primeira vez.
No curto prazo, vamos lançar o chat opt-in e um novo navio craftável, o Horizon. Depois disso, vem os Captain Pre-loaded Loom Coils, que tornam a escolha do capitão mais impactante desde o início.
Também estamos focados em melhorias gerais, balanceamento e alguns projetos secretos que estamos loucos pra mostrar!
Conclusão
Sirocco é um MOBA diferente, tipo uma homenagem viva à criatividade dos mods de Warcraft 3 e uma aposta ousada de que jogos competitivos não precisam ser barreiras de entrada para novos jogadores. Com carisma, inovação e muita liberdade estratégica, Jack Wink e seu time da Lunchbox Entertainment estão, sem dúvida, navegando por águas promissoras.
