Bionic Bay é uma carta de amor aos games – Conversamos com o criador Juhana Myllys
Tivemos a chance de conversar com Juhana Myllys, criador do jogo e fundador do estúdio Mureena, que compartilhou com a gente sua trajetória,
Em meio ao mar de jogos retrô e plataformas 2D, Bionic Bay chama atenção com sua atmosfera melancólica, mecânicas originais e um visual que é ao mesmo tempo moderno e nostálgico. Criado por uma equipe enxuta, mas cheia de personalidade, o game traz uma experiência surpreendente para fãs de jogos como Inside, Another World e até Oddworld.
Game On - Antes de mergulharmos em Bionic Bay, você poderia nos contar um pouco sobre você? Quem é Juhana fora das telas e o que o levou ao mundo do desenvolvimento de jogos?
Moro na Finlândia, em uma pequena cidade chamada Lohja. Me formei em Design Industrial, mas nunca senti realmente paixão por isso, então tentei a sorte criando jogos. Faço isso desde 2007.
Game On - Bionic Bay tem uma atmosfera e uma jogabilidade muito distintas, que parecem nostálgicas, mas inovadoras. Como surgiu a ideia do jogo? Comparações com clássicos como Another World, Flashback e Inside fazem sentido para você?
Joguei videogames a vida toda e acho que todos os jogos que joguei tiveram algum impacto em mim. Provavelmente os mais impactantes foram o primeiro Oddworld para PS1 e Half-Life 2. Mas, com certeza, jogos como Another World, Inside e Kentucky Route Zero, só para citar alguns, me inspiraram. Mas os jogos em geral são apenas uma pequena parte de onde vem a inspiração. Filmes, arte, fotografia e a vida cotidiana são de onde surgem muitas ideias.
Game On - Quais foram alguns dos maiores desafios que você enfrentou durante o desenvolvimento — seja tecnicamente ou criativamente?
Acho que é o nível geral de detalhes em cada parte do jogo. Quando você começa a fazer qualquer coisa — design, arte ou design de níveis — você gradualmente começa a entendê-lo melhor e a ver cada vez mais coisas que poderiam ser melhoradas. E em Bionic Bay nunca paramos só nisso: estamos a menos de uma semana do lançamento e ainda estamos aprimorando o jogo.
Game On - A mecânica de "Troca" é incrivelmente única e abre possibilidades criativas para o movimento. Como essa ideia surgiu?
Foi originalmente uma ideia do nosso programador Xiaofong Huang. Inicialmente, achei que se encaixaria bem no jogo 2D baseado em física que eu estava planejando. Fizemos um protótipo, ficou divertido e começamos a levar Bionic Bay a sério.
Game On - Quais jogos retrô tiveram um grande impacto em você enquanto crescia, tanto como gamer quanto como desenvolvedor?
Minha primeira lembrança como jogador foi com Super Mario Bros. no NES. Depois disso, joguei muito Commodore 64, Amiga 500, Game Boy etc. Mas o maior impacto veio com o primeiro PlayStation: Oddworld: Abe’s Oddysee, Tomb Raider e Metal Gear Solid me marcaram profundamente — e ainda marcam.
Game On - O estilo visual do jogo é impressionante. Foi influenciado pela estética retrô ou você se inspirou em outras fontes, como filmes, quadrinhos ou arte?
Sim, sempre busco inspiração em muitas fontes. Jogos, claro, mas para Bionic Bay, especialmente os filmes de Roger Deakins tiveram muito impacto. O uso que ele faz das cores, luz e sombra é incrível.
Game On - No seu site, você menciona trabalhar sozinho ou em equipes muito pequenas. Como foi desenvolver Bionic Bay com uma equipe compacta e colaborar com a Mureena?
Fundei a Mureena com a ideia de estar sempre sozinho na empresa, mas criar jogos em colaboração com outras pessoas. Funcionou muito bem com Bionic Bay. Somos três pessoas trabalhando em tempo integral. Eu cuido da arte e marketing, e o pessoal da PsychoFlow Studios, em Taipei, cuida da programação e da parte técnica. Nossas responsabilidades não se sobrepõem, então tudo correu bem.
Game On - Quanto tempo levou para ir do conceito inicial ao produto final?
No primeiro ano, não conseguimos trabalhar em tempo integral. Mas já tínhamos arte suficiente e um editor de níveis funcional para seguir adiante. Desde então, foram quase quatro anos de trabalho até o lançamento. Qualidade leva tempo!
Game On - De qual aspecto de Bionic Bay você mais se orgulha?
Do fato de termos criado uma experiência que nunca para de surpreender. O jogo lança ideias novas do início ao fim.
Game On - Como tem sido o feedback dos jogadores até agora? Algo te surpreendeu?
O feedback tem sido muito positivo. Quase positivo demais, eu diria! Talvez isso tenha nos surpreendido um pouco.
Game On - Houve algum comentário — bom ou ruim — que realmente te chamou a atenção?
Sim. Alguém comentou: “Gostei do jogo e nem gosto de jogos de plataforma”. Foi ótimo ouvir isso!
Game On - Há algum segredo ou easter egg no jogo que os jogadores ainda não descobriram?
Estamos prestes a incluir segredos ocultos no jogo. Ainda não recebemos muito feedback sobre isso.
Game On - Houve algo que você amou, mas teve que cortar da versão final do jogo?
Com certeza. Algumas ideias legais que nunca foram totalmente concretizadas... mas talvez no futuro!
Game On - Você já está pensando no seu próximo projeto? Pode dar uma prévia de algo?
Tenho vários conceitos e ideias, mas como estive totalmente focado em Bionic Bay nos últimos anos, ainda não me aprofundei neles. Mas sim, continuarei criando.
Game On - Que conselho você daria a aspirantes a desenvolvedores independentes que tentam criar seu próprio jogo?
É como a regra da escrita: “Escreva sobre o que você conhece”. Então, se for criar algo, faça algo que você realmente goste e conheça. Existem muitos jogos e desenvolvedores incríveis por aí. Para se destacar, você precisa estar na sua melhor forma.
Game On - Para quem ainda não experimentou, por que os jogadores deveriam dar uma chance a Bionic Bay?
Passei 80 horas criando um recurso que só aparece uma vez no jogo. Ele tem um milhão de pixels. Bionic Bay é feito desses momentos únicos.
Game On - E, por fim, você gostaria de enviar uma mensagem aos seus fãs — especialmente aqueles da comunidade brasileira que ama indie e retrô?
Sou um garoto dos anos 80 e joguei videogame a vida toda — e que jornada tem sido! 2D, 3D, PC, SNES, Sega, PlayStation, Nintendo 64, GameCube, C64, Amiga 500, PSP, Game Boy, Xbox 360, iPad... a lista é longa. Bionic Bay é uma carta de amor de alguém que realmente ama jogos. Então, com o lançamento de Bionic Bay... você já sabe o que fazer!
Considerações finais
Com seu estilo artístico marcante, mecânicas inovadoras e alma retrô, Bionic Bay promete conquistar os fãs de jogos de plataforma — e deixar uma marca nos corações de quem valoriza experiências criativas e autorais. A estreia está marcada para o dia 17 de abril, e já dá pra sentir que vem coisa grande por aí.
Fica aqui nosso agradecimento a Juhana Myllys pela conversa, e claro, nosso convite: vá atrás dessa pérola indie. Porque em um mundo de fórmulas repetidas, Bionic Bay é um sopro de originalidade.