Giba comenta vida na Polônia e se esquiva sobre novo código disciplinar do doping
Ícone da seleção, ele também fala do trabalho na Federação Internacional de Voleibol (FIVB)
Considerado um dos maiores jogadores de vôlei da história, Giba atualmente mora na Polônia e afirma não pensar em voltar tão cedo para o Brasil. Em entrevista ao Estado, o ex-jogador comenta sobre o seu trabalho na Federação Internacional de Voleibol (FIVB), relembra o próprio caso de doping e se esquiva sobre o novo código disciplinar da Agência Mundial Antidoping (Wada, da sigla em inglês).
Recentemente, o Estado informou que o código disciplinar da Wada prevê que, a partir de 2021, atletas não serão mais suspensos por doping em caso de drogas de uso social, como maconha e cocaína. Você concorda com essa decisão?
Peço desculpas, mas não falo sobre isso. Hoje eu represento uma instituição e até ter algo em nossas reuniões, não tenho como comentar porque não sei a posição de nada. Hoje não sou o Giba. Represento a Federação Internacional de Voleibol, então, não posso falar até ter algo concreto da minha instituição.
Neste mês você participou de uma reunião da FIVB na Suíça. Por lá, discutiram o novo código da Wada?
A minha reunião na verdade era única e exclusivamente voltada para os atletas. Tenho de ir lá para fazer o calendário do ano que vem e como as coisas vão acontecer na temporada. Isso não é o meu departamento. Não teve absolutamente nada. Fizemos apenas o calendário de 2020. Temos outra reunião em janeiro e talvez lá vamos ter algum conhecimento a respeito de todo esse processo.
Anos depois do seu exame antidoping testar positivo para o uso de maconha, sua visão sobre o assunto mudou?
Foi o que falei desde a coletiva de imprensa em 2003. Eu levantei a mão e disse: "Errei". Eu sei que eu sou uma figura pública, sou um espelho para muita gente. Foi depois disso que vi realmente o que era o Giba para as pessoas e sabia que não poderia errar novamente. Falo abertamente. Foi um divisor de águas, onde soube quem eu era e o que eu representava para uma nação que acompanha o vôlei. Antes disso, não tinha essa visão porque ainda era muito moleque, não só no esporte, mas na vida. Depois, entendi e vim crescendo ao longo do tempo para entender. E isso sempre falei. Agora em questão esportiva é outra coisa que vai ser discutida no começo do ano que vem e eu também pretendo falar disso depois. Até agora, não foi discutido nada, então não tenho nada para dizer.
Como está o seu trabalho na FIVB?
Continuo falando com os atletas, vendo o que é melhor e o que não é. Sou uma ponte entre a Federação Internacional de Vôlei, que sempre foi vista como uma instituição que os atletas não tinham condições de chegar. Hoje eles têm voz comigo e com a comissão inteira.
Como avalia o trabalho do Renan Dal Zotto na seleção brasileira?
O Renan foi o meu técnico em 1996. Posso dizer que os resultados estão aí. Acho que a minha geração acostumou muito mal o Brasil em só ganhar. Então, segundo lugar para o brasileiro no vôlei não tem muito valor, mas deveria ter. Continuo achando que o trabalho dele está maravilhoso. Os atletas que estão lá, a maioria deles, eu tive a oportunidade de jogar e de passar a experiência que ganhei ao longo de todos esses anos e tenho certeza de que são pessoas de bom caráter e que lutam pela bandeira do Brasil.
O que espera do Brasil nos Jogos Olímpicos de 2020?
Espero estar na final de novo. Se vai ser campeão de novo é outra coisa. Mas espero que eles estejam na final.
Você está morando na Polônia. Por qual motivo mudou de país?
Tenho o projeto do "Gibinha" no Brasil e fui convidado por uma empresa polonesa para vir trabalhar aqui. Estou aqui desde junho do ano passado. Aceitei o desafio. Hoje a empresa infelizmente resolveu mudar para o handebol, mas os projetos que fiz e as escolas que visitei continuam me convidando para voltar, então estou bem tranquilo com isso. A sementinha foi plantada.
O projeto social na Polônia rendeu frutos?
Diante de todos os trabalhos de caridade que fiz, acabei recebendo um prêmio no último dia 16 de dezembro com o presidente do país, o primeiro ministro e com a primeira-dama na categoria "caridade". Para se ter uma ideia, fiquei na frente do Robert Lewandowski, que é o Neymar da Polônia. Realmente todo esse trabalho que fiz durante os últimos oito meses visitando escolas foi bem bacana.
Qual é a grande diferença entre o Brasil e a Polônia?
Tem uma diferença muito grande principalmente em casos como assédio sexual, abuso de crianças e tudo relacionado a drogas. Tudo isso é muito mais pesado aqui. Até porque o projeto funciona em locais de risco. Na Polônia, a escola vai das oito da manhã até às quatro da tarde e no período em que as crianças ficariam na rua elas estão praticando esporte. Aqui o esporte é levado muito a sério, as escolas públicas parecem as escolas particulares no Brasil. As pessoas conseguem ver a Polônia como um local para visitar, mas deveriam começar a olhar com outros olhos. É um país muito desenvolvido e que está em crescimento e que ainda possui muitas oportunidades.
Como é a sua rotina?
Eu faço visitas nas escolas e falo com as crianças. O mais importante é o seguinte: caridade. Não é uma coisa que tenho lucro financeiro. É como o "Gibinha" no Brasil. Aqui, eu trabalho para divulgar o voleibol e o meu negócio principal é como presidente da comissão dos atletas mundiais na Federação Internacional de Vôlei. Faço muito mais home office porque tem os relatórios de quando falo com os jogadores e pelo menos duas vezes por semana essas visitações nas escolas para manter o projeto vivo e mostrar que realmente o esporte pode tirar as crianças da rua, das drogas e da rotina de violência nas grandes cidades.
E as relações familiares?
Está tudo ótimo. Continuo vendo os meus filhos regularmente. Eles estão morando na Romênia. Fica até mais perto para vê-los daqui da Polônia.
Pensa em voltar para o Brasil?
Eu não sei. Hoje eu acho que não voltaria. Não tenho nenhuma proposta de trabalho no Brasil. Na Europa, estou com uma oferta e uma demanda de visitação em federações. Através da Federação Internacional, fui para a Eslovênia, Marrocos... Eu sou meio que um embaixador também deles, então aqui está tudo mais perto. Do Brasil você faz um voo e demora, por exemplo, 12 horas. Por isso, eu também escolhi a Polônia para viver, é um país central.