Capitã da Seleção, Fabiana cita ódio a bloqueio e braçadeira
É possível que uma meio de rede odeie bloquear? Não só é possível, como aconteceu com uma das melhores jogadoras do mundo: Fabiana Claudino, titular absoluta da Seleção Brasileira feminina de vôlei.
Com 1,93m, "Fabizona" é o terror das atacantes adversárias e uma das principais armas do técnico José Roberto Guimarães para a temporada 2010 de seleções, que começa nesta sexta-feira com o Grand Prix e tem o Campeonato Mundial do Japão, entre outubro e novembro, como auge.
"Tem uma coisa que eu me cobro muito que é o bloqueio. Antigamente, eu odiava. Se eu pudesse só atacar, eu atacava... Mas foi com o Bernardinho que eu fui começando a gostar - ele me colocava para treinar tanto bloqueio que eu saía chorando da quadra. Também passei a observar muito o Gustavo e me espelhar nele", conta. "Falta tanta coisa para mim... Quero ser campeã olímpica de novo. Também pretendo continuar aí na Seleção até 2016, mas não depende de mim, depende se vão me querer aqui", completa, rindo.
De perfil discreto, mas personalidade marcante, Fabiana pode se considerar a jogadora mais querida da Seleção. Ou pelo menos aquela na qual as outras atletas mais confiam: em maio deste ano, Zé Roberto decidiu encerrar a era das levantadoras com a faixa no braço e abriu votação direta e secreta para a função. Dos 15 votos possíveis, ela ganhou 11 - os restantes ficaram com sua companheira de quarto nas concentrações, a oposto Sheilla.
"Ser capitã significa muito para mim. Fico feliz de ter recebido a confiança do time todo. São poucas as pessoas que possuem a chance de ser capitã da Seleção Brasileira. Eu vislumbrava isso, mas não imaginava que seria agora. Fiquei surpresa quando vi tantos votos. Me dou bem com todo mundo, mas na hora ali... O Zé fez a votação de repente", explica Fabiana, detalhando seu perfil. "Eu sou muito tranquila, não sou de ficar gritando em quadra, mas sim de chegar e falar sobre o que precisa com as outras jogadoras. É mais ou menos como a Fofão. Eu também gosto muito de vibrar e conto com a ajuda das meninas mais experientes aqui, como a Sheilla."
E Fabiana pretende usar a amizade com a também mineira para liderar o Brasil rumo à conquista do último título importante que falta ao país no vôlei feminino: em 15 edições realizadas desde 1952, o máximo que as brasileiras conseguiram no Mundial foram os vice-campeonatos em 1994 e 2006 - este último, aliás, parte de uma incômoda série de "quases" que taxou a equipe de "amarelona" e só terminou com o ouro na Olimpíada de Pequim, em 2008.
A central, 25 anos, pediu mais respeito com as pratas conquistadas pelos atletas brasileiros. "Com a medalha de ouro olímpica eu tirei das costas o peso de todo o nosso trabalho, de ser taxada desde 2004. Foi um alívio, pois o grupo montado em 2005, sempre batia na trave e não conquistava os títulos. Querendo eu não, sempre tem pressão, mas aquele era um novo grupo. Eu acho que as críticas eram injustas, pois só a gente sabe o que passamos. Não éramos segundas porque queríamos. Mas eu valorizo todas as medalhas que ganho, seja prata ou bronze, pois eu sei o que fiz para estar ali. O Brasil tem que aprender a valorizar o segundo lugar."
Falou ainda sobre o cansaço provocado pelo modo de disputa do Grand Prix e por sua polêmica transferência do Unilever para o Vôlei Futuro, que surpreendeu até o técnico Bernardinho, com quem treinou desde os 18 anos no Rio.
"Ela disse que queria jogar no exterior. Eu respeitei. Não podia lutar contra um sonho. Fabiana era a minha prioridade. Não abriria mão dela. Em nenhum momento soube da vontade dela em ficar no país, por isso nem abri negociação. Se tivesse me falado, faria de tudo para mantê-la na equipe. Chegaria a abrir mão de parte do meu salário, caso fosse necessário", afirmou o treinador, chateado.
Fabiana alega que a proposta do time de Araçatuba foi surpreendente e a decisão de permanecer no país tem a ver com a tendinite que possui no ombro direito. Ela também garante que não tem ressentimento de Bernardinho, apesar de ter ficado chateada com as declarações dele.