Na final de torneio, peão retorna do hospital e leva título
Elton Cide é um peão de vida simples e que adora contar uma boa história. Aos 32 anos, já venceu o campeonato brasileiro de montaria em touros da PBR (Professional Bull Riders), em 2010, quando se machucou e, ainda no hospital, decidiu voltar à arena para disputar a última etapa. Montou em duas finais do mundial de Las Vegas, nos Estados Unidos, e pretende voltar ao país neste ano para brigar pelo título internacional. Ao Terra, falou sobre momentos inesquecíveis da carreira nos rodeios.
Terra: O que o motivou a seguir a carreira de peão de rodeio?
Elton Cide:
Comecei a montar com 16 anos na fazenda de um amigo, brincando na doma de cavalo. Para nós era a maior delícia montar em um cavalo xucro (difícil de domar). Esse meu amigo (Marco Antônio) falava que um dia eu ia ganhar carro de prêmio no rodeio e que ele queria 10% de tudo. Nunca ganhei nenhum carro (risos).
Terra: Mas e quanto à motivação?
EC:
Tinha um companheiro na minha cidade (Populina-SP) que ganhava um monte de prêmio. Chegava na cidade com carro zero quilômetro e motos. Pensei: um dia eu vou ser igual a ele.
Terra: Aprendeu a montar sozinho?
EC:
No começo, sim. Depois um amigo competidor (Aviner Arco da Silva) deu algumas coordenadas de como parar em cima do touro. Comecei a montar profissionalmente aos 22 anos.
Terra: Como você enfrenta o medo nessas horas?
EC:
Quando você lida com o animal no cotidiano a gente ganha confiança. Para tirar o leite de uma vaca você precisa amansá-la primeiro. Com o boi é a mesma coisa. Quando você começa a montar, aprender a superar seus limites. Hoje eu já tenho o medo controlado.
Terra: Por que seu apelido é "complicado"?
EC:
Porque eu paro (permanece oito segundos em cima do animal) em alguns touros complicados, por exemplo, o Praieiro, da Cia 3B. Em uma competição, ele quase matou um amigo e eu tinha de enfrentar a fera logo em seguida. Coloquei o capacete e disse "seja o que Deus quiser". Do outro lado do brete, o Bentinho (dono do animal), estava segurando um copo de uísque e dizendo que a fivela era dele (a PBR, Professional Bull Riders, premia com dinheiro e uma fivela o melhor touro do ano). Venci a fera. Terminei a prova saindo do touro como se estivesse chegando de pára-quedas, caindo em pé. Ele não acreditou. Jogou o copo para cima e foi embora (risos).
Terra: Esse foi o touro mais complicado que enfrentou?
EC:
O Agressivo (Cia. Paulo Emílio) foi complicado. Quase parei em cima dele. O maior tempo de parada é meu, fiquei 7,3 segundos e pensei que tinha ganhado. Fiquei comemorando na arena e até ataquei o meu chapéu para cima (o animal está invicto nesta temporada).
Terra: Já sofreu muitos acidentes na arena?
EC:
Sou o cara que mais se acidenta e que se recupera mais rápido. Na final do campeonato brasileiro (2010), em Campo Grande (MT), levei uma pancada na cabeça do touro quando fui descer e desmaiei. Acordei ainda na arena e ouvi o locutor falar que meu adversário estava na minha frente. Pensei: "Acabou tudo!". O pessoal da minha cidade viu a cena pela TV e foi para Campo Grande me incentivar. No hospital, acordei às 4 horas da manhã e disse para meu amigo que estava bem para montar no dia seguinte. Voltei e fui campeão.
Terra: Como foi a comemoração?
EC:
Eu voltei "voando" para minha cidade. Até esqueci a mulher (ex-esposa) lá em Campo Grande (ela voltou de ônibus com a caravana). Cheguei em casa, tomei um café na padaria e fui dormir. Quando acordei, tava todo mundo no portão da minha casa, até o prefeito. Colocaram-me em cima de um caminhão e saímos pela cidade com um locutor anunciando o meu título. Depois fizemos um churrasco para comemorar. Teve gente que ficou brava comigo achando que eu não tinha convidado mas, na verdade, eu era o convidado, eles tinham organizado a festa para mim.
Terra: Você conhecia o pessoal que estava na sua festa?
EC:
Estava cheio de gente, a maioria eu não conhecia. Tiramos uma foto. Está lá no Facebook.
Terra: Quem é seu ídolo no esporte?
EC:
Tenho vários ídolos, mas o que eu mais gosto é Rogério Ferreira, um dos ícones do rodeio. O apelido dele é pantera porque ela agarra no touro e não solta mais. Ficou sete meses sem cair dos bois aqui no Brasil.
Terra: Qual seu objetivo para a reta final do campeonato nacional?
EC:
Eu quero parar em um touro invicto, ganhar dinheiro e disputar a final do mundial nos Estados Unidos (são necessários acumular US$ 100 mil para se classificar entre os 40 melhores peões do mundo). Minha meta este ano é fazer mais dinheiro para disputar a final.