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Raí e Ceni: as semelhanças em busca da retomada de um São Paulo forte

Um ano depois de apresentar Rogério Ceni como técnico do São Paulo, o presidente Leco anunciou Raí como diretor executivo de futebol do clube. Semelhanças são notáveis

11 dez 2017 - 06h36
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No dia 8 de dezembro de 2016, o presidente Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco, apresentava o ídolo Rogério Ceni como técnico do São Paulo. Exatamente um ano depois, o cartola do Tricolor repetiu o gesto e, desta vez, deu as boas-vindas ao também ídolo Raí como diretor executivo de futebol do Tricolor. Multicampeões vestindo as cores do clube do Morumbi, o ex-goleiro e o ex-meio-campista apresentaram ideia muito similares em seus respectivos retornos para o local que os consagrou como jogadores.

Raí e Rogério Ceni posam para foto na Florida Cup do ano passado, torneio vencido pelo Tricolor (Foto: Rubens Chiri/SPFC)
Raí e Rogério Ceni posam para foto na Florida Cup do ano passado, torneio vencido pelo Tricolor (Foto: Rubens Chiri/SPFC)
Foto: Lance!

O LANCE! comparou as duas primeiras entrevistas de Raí como gestor do departamento de futebol do São Paulo com alguns dos pronunciamentos dados por Ceni em seus primeiros meses como comandante e encontrou algumas semelhanças interessantes. Embora haja diferenças, a busca é uma só: fazer com que o Tricolor retome o caminho dos títulos.

Amor pelo São Paulo acima de tudo

Quando foi convocado por Leco para assumir o São Paulo, Rogério Ceni confessou que chegou a pensar sobre o convite. Na ocasião, até citou uma conversa que teve com o treinador Slaven Bilic, na época no West Ham, da Inglaterra, como determinante para agarrar a oportunidade que lhe fora oferecida.

- Meu coração disse que se o São Paulo me chama, eu jamais poderia recusar. A profissão de técnico não se traz somente em relação ao conhecimento, mas sim à gestão de pessoas, disse Ceni

Não muito diferente de seu ex-companheiro de time, Raí optou pelo mesmo caminho e consultou algumas pessoas mais próximas assim que ouviu a proposta de Leco. O ídolo tricolor pediu alguns conselhos para amigos de confiança e chegou a ser orientado para não assumir o cargo neste momento. O coração, claro, falou mais alto.

- Quando você tem uma transição dessas existe um receio com as pessoas que gostam de você. Elas te parabenizam, desejam boa sorte e coragem. Tem os dois lados de parabenizar pelo desafio, pela iniciativa de querer. E, ao mesmo tempo, sabem que não é uma missão fácil. É uma responsabilidade grande, mas confesso que receber esse carinho é algo muito bom, disse Raí em evento no último sábado, no Morumbi.

Clima favorável

Um dos valores que Ceni sempre acreditou e passava aos seus comandados era a relação de honestidade com o elenco. O atacante Gilberto foi um exemplo disto. O jogador começou a temporada muito bem, sendo o artilheiro da equipe. No entanto, Ceni o chamou e o informou que estava em busca de um outro centroavante, que viria a ser o argentino Lucas Pratto. Mesmo no banco de reservas, Gilberto não reclamou e nunca fez corpo mole, muito pelo contrário.

- Quando você é sincero, nem sempre você vai agradar, mas acredito na meritocracia. Precisamos ter um grupo forte e numeroso e vou tratar os atletas como homens. Desse jeito, você nunca terá problemas, será sempre correto com todos, ressaltou o Mito em seu retorno ao clube do Morumbi.

Por ter uma função administrativa, o trato de Raí com o elenco e comissão técnica não terá a mesma dinâmica que tinha com Ceni. Apesar da diferença significativa, o bicampeão da Copa Libertadores (1992 e 1993) disse acreditar na construção de um ambiente saudável para que o São Paulo volte a ter o protagonismo de outrora.

- Todos sabem que o futebol envolve riscos e resultados. Uma das minhas principais qualidades foi construir ambiente harmônico. Os jogadores que estão aqui tender a render muito mais se construirmos um ambiente favorável. O São Paulo, nos últimos anos, teve uma série de problemas extracampo, alertou Raí.

Identidade de jogo

Uma das características mais marcantes de Rogério Ceni era a necessidade de criar uma identidade de jogo para todo o clube. Não raro o treinador falava dos garotos da base e da necessidade dos times de Cotia adotarem o mesmo estilo de jogo do profissional, que precisava ser ofensivo e vistoso, afim de honrar a história vitoriosa do clube.

- Prefiro ter preocupações com meu time jogando sempre para frente, para o ataque. Futebol não é ciência exata, às vezes não ganha quem cria mais, cruza mais, finaliza mais, declarou Ceni no dia 21 de fevereiro, logo após o triunfo diante do São Bento, por 3 a 2, no Paulistão.

Assim que chegou ao São Paulo, Raí se prontificou a trabalhar para criar uma identidade de jogo para o clube. De acordo com o cartola, já houve um contato com Dorival Júnior para alinhar o trabalho que será feito ao longo da próxima temporada e a conversa agradou ambos. Na prática isto significa que o Tricolor certamente buscará um estilo de jogo ofensivo ao longo de 2018.

- O São Paulo precisa construir uma identidade de jogo, de estilo. Não está muito longe do que o Dorival acredita. Nesse começo de temporada e trabalho, já vamos construindo, junto com a comissão técnica, um estilo próprio de jogo e que tenha a ver com história, torcida e cultura vitoriosa do clube. O São Paulo tem de criar essa identidade baseada nesse histórico, mostrar qual estilo e característica quer ter como clube de futebol, cravou Raí.

Trabalho em equipe

Ciente do tamanho do desafio que lhe aguardava, Ceni recorreu a dois europeus para lhe auxiliarem em sua nova empreitada. O goleiro-artilheiro trouxe o inglês Michael Beale, que estava no Liverpool, e o francês Charles Hembert, que havia prestado serviços para a CBF em ocasiões anteriores. A ideia era bem clara: trabalhar em grupo para minimizar os erros e colher os melhores resultados possíveis.

- Vou montar uma equipe de trabalho muito boa. Vamos fazer o máximo para ter um elenco mais forte. Será um desafio preocupante e, ao mesmo tempo, fascinante. Coisas pequenas não trazem emoção. Foi o que me trouxe de volta aqui. Vim aqui em busca da glória, cravou Ceni em sua apresentação.

Embora ainda não tenha sinalizado se trará, ou não, pessoas para lhe auxiliar em seu novo desafio, Raí demonstrou que a crença é a mesma de Rogério: unir as qualidades de todos os que trabalham no clube para ajudar o Tricolor.

- Primeiro de tudo, preciso fazer esse estudo do que existe e conhecer um pouco mais da função. Tem o elenco que vai chegar, a comissão técnica e, pouco a pouco, vamos ver onde cabe uma peça ou outra. Mas, sem dúvida nenhuma, vamos fazer uma avaliação e trazer pessoas que possam ajudar o São Paulo, disse.

Busca pelo conhecimento

Embora este tópico não tenha relação direta com as entrevistas de ambos, é importante para traçar o perfil de ambos e entender a competitividade alta e a gana de fazer com que o São Paulo cresça no cenário nacional e retome a soberania na América do Sul.

Tricampeão brasileiro (2006, 2007 e 2008) com o São Paulo, Rogério Ceni fez um curso na Federação Inglesa e conheceu o método de trabalho de alguns treinadores de renome internacional, como Jorge Sampaoli, atual técnico da Argentina e bicampeão da Copa América com o Chile (2015 e 2016), e Claudio Ranieri, campeão da Premier League com o modesto Leicester (2015/2016).

Por sua vez, Raí construiu uma trajetória de sucesso como empreendedor social e empresário após pendurar as chuteiras. Ao lado do ex-companheiro Leonardo criou a Fundação Gol de Letra, que atende centenas de jovens em condição de vulnerabilidade em São Paulo e também no Rio de Janeiro. Além disso, o ex-maestro virou palestrante e atua em outros projetos.

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