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Pai de Pablo, vítima do incêndio, desabafa: 'É muito descaso, falta muita sensibilidade ao Flamengo'

Wedson esteve na CPI dos Incêndios, responsável pela investigação dos grandes incêndios que atingiram o Estado nos últimos meses. Tragédia completa um ano neste sábado

7 fev 2020 - 15h30
(atualizado às 15h33)
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Nesta sexta-feira, a um dia da tragédia no Ninho do Urubu completar um ano, uma sessão da CPI dos Incêndios, responsável pela investigação dos grandes incêndios que atingiram o Estado nos últimos meses, foi realizada nesta sexta-feira, na Alerj, na qual os deputados ouviram familiares e representantes de vítimas da tragédia que matou dez atletas das divisões de base do Flamengo, além de representantes do clube e órgãos responsáveis pela perícia e investigação, como IML e Corpo de Bombeiros.

Um dos familiares presentes foi Wedson Cândido, pai de Pablo Henrique, vítima fatal, que não poupou críticas ao Flamengo e à maneira com que o clube trata parentes dos jovens que partiram na tragédia do CT.

- É muito triste o desinteresse do Flamengo, sabe? O clube virou as costas totalmente. Não há um telefonema, uma palavra amiga, não procura para nada. Não há contato com eles. É um dor que não cessa, não passa, saudade demais, algo que não vai passar fácil. Esse ano de 2019 foi maravilhoso (para o Flamengo)... eles ganharam títulos, troféus, e o que nós ganhamos? Tristeza, vazio no coração. Eles ganharam a Copa Libertadores, nós ganhamos um caixão. Eles foram para o Mundial, e nós fomos rezar, pedir aos nossos anjos para nos confortar - disse Wedson, completando:

- A homenagem maior eu não vou ter na minha vida. O meu filho sonhava em jogar em um Maracanã cheio, lotado. Tudo que ele fazia, gravava e mandava para mim. Não dormia sem me ligar, falava se treinava bem ou não. Infelizmente, hoje é só a dor. É como eu falo para todo mundo: a Justiça, para pobre, não existe. Ela vira as costas. Quem dera se a gente tivesse o "Q.I." que o Flamengo que tem. A minha esposa, por exemplo, teve que largar o serviço de cozinheira por causa de depressão. Eu era motorista, e hoje estou proibido de dirigir. Eu tomo 12 medicamentos por dia, ela toma oito. Isso é vida de pai? Isso é o que eu queria para o meu filho? Jamais.

Emocionado, com a voz embargada e atencioso com a imprensa presente, Wedson também desabafou quanto ao quesito financeiro, alvo de debates por conta do imbróglio indenizatório.

- Dinheiro nenhum paga a vida do meu filho. A vida não tem preço. A gente que é pai costuma falar "meu filhinho" até quando adulto, casado, vai ser sempre o "nosso filhinho".

- Tenho vontade de saber se os dirigentes, vice-presidentes, presidente do Flamengo têm filho. Qual que é o valor do filho deles para eles? Dinheiro nenhum paga. É muito descaso, falta muita sensibilidade ao Flamengo. É o que eu fico falando com a minha esposa: eu não quero que o clube fique me bajulando todo dia, mas dá um telefonema, um bom-dia, como a gente está passando. É para a gente interagir, o que nunca tivemos. Amanhã, completa um ano. Recebi da Gabriela lá em fevereiro, março, para conversarmos a respeito dos documentos deles.

Por fim, o pai de Pablo contou sobre a tatuagem que fez no antebraço com a imagem do filho, que era zagueiro e faleceu aos 14 anos. A família, em tempo, é natural de Mineiro de Oliveira, cidade a cerca de 150km de Belo Horizonte.

- Um mês de acontecido eu fiz essa tatuagem, mas ela não doeu tanto quanto dói no meu peito, coração, saudade. Aqui eu tenho certeza que ele estará sempre do meu lado, é um jeito de carregar ele comigo. A mãe dele fez uma com o nome dele no braço. Vai nos sustentando no dia a dia. Não é fácil, só Deus para ter dó de nós.

Pablo estava no Fla desde agosto de 2018 (Foto: Arquivo pessoal)

Wedson Cândido, pai de Pablo Henrique, exibe a tatuagem em homenagem ao filho (Foto: Matheus Dantas/Lance!)
Wedson Cândido, pai de Pablo Henrique, exibe a tatuagem em homenagem ao filho (Foto: Matheus Dantas/Lance!)
Foto: Lance!
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