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Ex-goleiro de Corinthians e Seleção encerra carreira aos 27

Ex-Corinthians e Avaí surpreendeu ao se aposentar dos gramados aos 27 anos e, ao LANCE!, contou como leva a vida sem a badalação do mundo da bola

14 dez 2017 - 11h39
(atualizado às 11h58)
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Renan se aposentou do futebol
Renan se aposentou do futebol
Foto: Lara Mota / LANCE!

Na semana em que completou 27 anos, o goleiro Renan (ex-Avaí e ex-Corinthians) anunciou a aposentadoria, surpreendendo justamente por abandonar a profissão ainda jovem. Morando em Santa Catarina, ele tem levado uma vida sem badalação e distante da realidade do futebol, que ele vivia desde as categorias de base. O LANCE! foi até Itapema, a 60 km da capital Florianópolis para ouvir Renan e ver de perto a nova vida do agora ex-goleiro, que continua com as mãos calejadas, mas de tanto trabalhar na construção civil.

De boné e chinelo de dedo, Renan anda pela praia cumprimentando a todos, dá pra ver o quanto é bem quisto. A vida é pacata, ele sequer tem redes sociais. A cidade tem 60 mil habitantes, número que aumenta muito na temporada de veraneio. E é nesse clima que Renan escolheu viver quando parou de jogar.

"Eu posso falar que se encerrou um ciclo que eu considero vitorioso, dez anos como profissional. Hoje eu me considero um aposentado, um construtor, estou na construção civil agora junto com a minha família e é vida que segue. Eu acho que tudo tem um começo, meio e fim e que o meu fim no futebol chegou", revela.

A tranquilidade com que ele encara o fim da carreira de goleiro impressiona. E a pergunta que fica é se o futebol deixou mágoas irreversíveis a ponto de ele querer deixar a profissão.

"Todo mundo tem mágoa no futebol. Você é retirado do time em um momento em que você acha que está bem e o treinador acha que você está mal, mas eu não tenho mágoa de nenhum treinador. Às vezes a gente fica um pouco triste, mas eu aprendi uma coisa: a gente não erra, a gente aprende", completa.

Renan surgiu nas categorias de base do Avaí. No profissional, teve um desempenho que despertou o interesse de grandes clubes e rendeu a ele inclusive uma convocação para a Seleção Brasileira. O técnico era Mano Menezes e o plano era levar Renan para a Olimpíada de Londres em 2012.

Foi Mano quem o indicou ao Corinthians e ele chegou como grande promessa na posição. Já sob o comando de Tite, foram apenas três jogos com a camisa do clube paulista: derrota para o Cruzeiro (0x1), derrota para o Avaí (3x2) e vitória contra o América MG (2x1). A torcida não perdoou o desempenho abaixo do esperado e começou aí um ciclo de empréstimos que só terminou quando o contrato de cinco anos com o Corinthians acabou.

Em clubes do interior, Renan viveu um outro lado do futebol, com salários atrasados, falta de estrutura e de apoio. "Tem muita coisa errada no futebol. Hoje o futebol brasileiro está pagando por isso, é só ver televisão. A gente vai se decepcionando, isso foi me desgastando, se tornou cansativo e chegou em um ponto em que eu não aceitava mais tanta ilusão e tanta mentira".

A última vez em que entrou em campo foi pelo Tigres, do Rio de Janeiro, onde fez 13 partidas em 2016. Parar foi um processo amadurecido ao longo deste ano.

A vida fora do futebol

Mãos de goleiro são sempre judiadas, mas as de Renan têm marcas pouco comuns à profissão, adquiridas recentemente, na nova função que ele exerce como construtor civil. O dia para ele começou na obra, amarrando as ferragens do novo prédio que estão erguendo.

"Eu cuido da parte burocrática da obra, mas quando tem que por a mão na massa a gente põe, não tem problema nenhum, sem medo, sem vergonha nenhuma, porque eu admiro as pessoas que trabalham o dia todo debaixo do sol. Eu sou um cara vencedor, porque eu consigo ficar o dia todo trabalhando como servente de pedreiro na obra. Corto ferro, amarro, faço massa, estou aprendendo ainda... (risos) ponho um tijolinho às vezes, estou em fase de aprendizado", revela com um sorriso de contentamento no rosto. A empresa familiar está crescendo aos poucos. Renan trabalha ao lado do pai e do irmão, empreendendo nas cidades da região.

O filho Bernardo tem cinco anos e nasceu quando ele estava emprestado ao Estoril de Portugal. O menino não tem muitas lembranças do pai em ação, mas Renan se orgulha do que tem para mostrar. "Ele de vez em quando pede: papai, você não vai jogar? Aí a gente explica que o papai está em outro ramo. De vez em quando ele pega umas fotos e umas camisas e pergunta, aí eu vou na internet e mostro pra ele. E ele gosta de futebol, qual criança que não gosta? Mas vai ficar guardado e com certeza ele vai colocar no YouTube um dia e dizer: esse era meu pai".

A única saudade que Renan tem é dos amigos. "Sinto falta da concentração, das amizades, de treinar.. eu gostava muito de treinar, eu era o primeiro a chegar e o último a sair em todo clube que eu passei, então a gente sente falta daquela resenha, mas agora é outra rotina né, é vida nova. Nós estamos no final do ano, é começar 2018 com o pé direito e trabalhar, esquecer futebol um pouquinho. Falta a gente vai sentir quando ligar a televisão e ver o Maracanã cheio ou ver a Ressacada lotada como a gente via aqui em Santa Catarina. Mas isso faz parte, vai ficar guardado na memória de todos que me acompanharam e na minha e da minha família, não vou esquecer tudo o que eu vivenciei no futebol".

A postura é corajosa, nem sempre esse término se dá de maneira tranquila. Renan mudou de ares e de vida, está claramente mais leve e feliz e deixa como recado um agradecimento, e a lição de que existe vida fora do futebol. "Agradeço a todos que sempre me apoiaram. Só tenho que agradecer tudo o que deu certo no futebol, tudo o que deu de errado, não me arrependo de nada -, afirma. E completa: - Hoje eu estou tranquilo, de bem comigo mesmo e com a minha família. E quando a gente está próximo da família, as coisas acontecem naturalmente e fica tudo certo".

Lance!
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