Engolido na reunificação alemã, Dynamo Dresden acena com renascimento
- Dassler Marques
- Direto de Dresden (Alemanha)
Só alguns clubes alemães têm relação realmente íntima com as cidades onde estão localizados. Ao caminhar por Gelsenkirchen, rapidamente se nota que aquela é a terra do Schalke 04. Mas de passagem por Gladbach, não será tão fácil perceber que ali fica o Borussia Mönchengladbach, por exemplo. Quando se está em Dresden, uma das cidades mais marcantes da antiga Alemanha Oriental, é praticamente impossível não perceber que aquele é o berço do Dynamo Dresden, até hoje lembrado como o mais forte representante do oriente alemão no futebol até a queda do Muro de Berlim.
A relação entre o Dynamo e o povo de Dresden é tão forte que, durante o jogo Estados Unidos e Brasil, pela Copa do Mundo de futebol feminino, o público presente ao Glücksgas Stadion repentinamente entoou cantos de homenagem ao próprio clube: "Dy-na-mo, Dy-na-mo", insistiam. Há de se compreender o orgulho elevado: afinal, após cinco anos entre a terceira e o que pode ser chamada de quarta divisão, o clube voltou para a divisão de acesso à Bundesliga, a elite do futebol nacional.
Para a população de Dresden, ver o time forte faz bem à autoestima de quem, em fevereiro de 1945, foi destruída por bombardeios do exército americano. Pouco sobrou, e até o estádio do Dynamo precisou ser reconstruído. Ao longo dos anos, os fãs do clube se acostumariam a assistir a grandes momentos de baixas e reviravoltas, o que só fez crescer esse sentimento de paixão. Pela performance nas arquibancadas, os torcedores se notabilizariam como um dos mais vibrantes do futebol alemão, um reconhecimento que recebem até os dias atuais.
Patrocinado pela Volkspolizei, a polícia da Alemanha Oriental, o Dynamo surgiu poderoso no início dos anos 50 e foi formado por jogadores que pertenciam a outros clubes ligados às forças policiais. Tamanho foi o sucesso, campeão alemão de 1953, que os talentos foram todos levados à capital, onde surgiria o Dynamo Berlin. Em Dresden, anos e anos teriam de se passar para o que o Dynamo fosse forte novamente.
Entre as décadas de 70 e 90, o clube se notabilizou como vencedor, revelador de talentos como o zagueiro Mathias Sammer e a grande referência da Alemanha Oriental em relação ao futebol. Com a queda do Muro de Berlim, entretanto, foi murchando como todos os times do oriente alemão. Prova disso é que, na próxima edição da Bundesliga, em 2011/12, nenhum clube do oriente fará parte da elite. Hansa Rostock e Energie Cottbus, com participações pontuais, foram os mais assíduos na primeira divisão.
O Dynamo Dresden também fez parte desse processo e, desde 1994, passa distante da Bundesliga, o que não o impediu de continuar muito próximo dos torcedores. É praticamente impossível caminhar por Dresden e não notar menções ao clube da cidade espalhadas por todo canto. Conhecidos pelo radicalismo, os fãs mais exaltados são capazes até de pichar muros, por exemplo, quebrando um protocolo de educação tão básico dos alemães.
Atualmente, esse instinto está ainda mais aflorado. Com o terceiro lugar na última temporada da terceira divisão, e uma vitória contra o VFL Osnabrück nos playoffs, o Dynamo Dresden voltou ao campeonato de acesso à elite. Um momento de orgulho e esperança para quem se acostumou a tantos altos e baixos no futebol. Especialmente para uma torcida que nem sempre cobrou vitórias para amar o time.