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Carrasco em 1950, Ghiggia morre no aniversário do Maracanazo

16 jul 2015 - 18h45
(atualizado em 17/7/2015 às 07h46)
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Morreu o homem que, com um chute de perna direita, fez milhões de brasileiros chorarem por anos e mais anos. Alcides Ghiggia, ex-ponta direita uruguaio, faleceu na tarde desta quinta-feira, aos 88 anos, vítima de um ataque cardíaco. Foi ele quem anotou o gol da vitória da seleção celeste sobre o Brasil na partida decisiva da Copa do Mundo de 1950, no Maracanã. Ela, curiosamente, completa aniversário de 65 anos nesta quinta. Ghiggia era o último jogador vivo a ter entrado em campo no confronto que deu o bicampeonato mundial à seleção uruguaia. Agora, todos os protagonistas daquele histórico duelo estão mortos.

Ghiggia foi internado com dores no peito no início desta tarde, em Montevidéu. Horas depois, não resistiu. Ele já havia assustado os uruguaios há três anos, quando sofreu grave acidente de carro, fraturou uma das pernas e teve traumatismo craniano. Foram necessários 20 dias em coma induzido e diversas intervenções cirúrgicas até que a lenda conseguisse se recuperar a tempo de receber algumas homenagens em vida.

Alcides Ghiggia: o homem que tirou o título da Copa de 1950 do Brasil
Alcides Ghiggia: o homem que tirou o título da Copa de 1950 do Brasil
Foto: Dante Fernandez / Getty Images

Coincidentemente, o Maracanazo, como é conhecida a derrota brasileira por 2 a 1 no último jogo da Copa do Mundo de 1950, completa aniversário nesta quinta-feira.

Foi há exatamente 65 anos que o Uruguai chocou o planeta e superou a favoritíssima Seleção Brasileira na frente de 200 mil pessoas, no Rio de Janeiro.

Foi em 16 de julho de 1950 que, para muitos, o Brasil sofreu o revés que o calejou e tornou forte para ganhar cinco títulos mundiais no futebol daí em diante.

Foi em 16 de julho de 2015 que Ghiggia, nome que por décadas e mais décadas foi sinônimo de tristeza e decepção no País do esporte mais popular do planeta, morreu.

Só poderia ser deste jeito.

Ghiggia durante festa de aniversário de 85 anos; ele calou o Maracanã em 1950
Ghiggia durante festa de aniversário de 85 anos; ele calou o Maracanã em 1950
Foto: Dante Fernandez/Latin Content / Getty Images

Alcides Ghiggia ganhou status de lenda do futebol uruguaio em 1950. Foi ele quem marcou um dos gols mais sublimes da história das Copas. Não por causa da beleza, mas sim pelo peso, importância. Ao receber passe na ponta direita aos 34min do segundo tempo, invadir a grande área e arrematar, não tão forte, no canto esquerdo de Barbosa, o ex-ponta-direita não só balançou as redes e provocou o maior silêncio já ouvido no Maracanã, como também cavou um lugar na história.

O gol de Ghiggia foi o da vitória por 2 a 1 do Uruguai sobre o Brasil na última partida do quadrangular final do Mundial daquele ano. A Seleção canarinho atuava diante de quase 200 mil pessoas no estádio mais lendário do futebol e jogava por um simples empate para ser campeã da Copa em casa e pela primeira vez. A festa estava armada. Dias antes, políticos, torcedores e jornalistas já declaravam o País como novo detentor da Taça Jules Rimet, até porque o time verde e amarelo era mais técnico que o uruguaio.

Ghggia amarra chuteira de seu pé direito; foi ele quem fez o Brasil chorar em 1950
Ghggia amarra chuteira de seu pé direito; foi ele quem fez o Brasil chorar em 1950
Foto: Bob Thomas/Popperfoto / Getty Images

Para facilitar a situação brasileira, Friaça abriu o placar na partida decisiva da Copa, no início do segundo tempo. Só uma virada impediria os festejos do País naquele 16 de julho de 1950. E ela aconteceu. Schiaffino empatou aos 21min, após assistência de Ghiggia, e o próprio ponta direita foi o responsável por fazer o segundo, já perto do fim do jogo. O gol deu o segundo título mundial ao Uruguai (campeão também em 1930) e arruinou a carreira de Bigode e Barbosa, brasileiros acusados de terem falhado no lance.

O lateral esquerdo não percebeu a subida de Ghiggia nas suas costas, e o goleiro hesitou em fechar o ângulo, deixando a bola escapar por baixo de suas mãos. O chute rasteiro era inesperado por Barbosa, que se adiantou rumo ao centro da grande área prevendo novo cruzamento a Schiaffino, como na jogada do empate celeste. 

Não aconteceu. O atacante chutou, fez o gol, deu o título mundial ao Uruguai e transformou Barbosa em um dos maiores vilões da história do futebol brasileiro. Para muitos, o arqueiro só se libertou das críticas depois de morto, mais precisamente quando a Seleção Brasileira conseguiu perder por 7 a 1 para a Alemanha, na semifinal do Mundial de 2014.

Ghiggia já foi inúmeras vezes homenageado no Uruguai
Ghiggia já foi inúmeras vezes homenageado no Uruguai
Foto: Dante Fernandez/Latin Content / Getty Images

Alcides Edgardo Ghiggia nasceu em 22 de dezembro de 1926, em Montevidéu. Ele começou a carreira no modesto Atlanta, já aos 20 anos de idade, mas só começou a se tornar conhecido no poderoso Peñarol, clube para o qual se transferiu em 1948. No ano seguinte, foi campeão uruguaio invicto e cavou, ao lado de mais cinco companheiros de equipe, convocação à Copa de 1950. A base daquele Peñarol era formada por craques como Máspoli, Obdulio Varella, Schiaffino, Míguez e Vidal - um timaço!

No Mundial do Brasil, Ghiggia, nome mais modesto do setor ofensivo do Peñarol, fez quatro gols (um em cada jogo) e se tornou herói nacional ao superar Barbosa na decisão do Maracanã. Depois disto, conquistou ainda os campeonatos uruguaios de 1951 e 1953 com o clube carbonero e acabou vendido à Roma. Na equipe da capital italiana, ficou oito anos e ganhou somente um título de expressão: o da Taça das Cidades com Feiras, espécie de embrião da Copa da Uefa e posterior Liga Europa.

Em 1961, Ghiggia foi negociado com o Milan e finalmente conseguiu ser campeão italiano. Porém, participou pouco da campanha, tendo atuado apenas quatro vezes e encerrado a competição sem balançar as redes. Ghiggia ainda jogou pela seleção italiana em 1957, mas não disputou outras Copas do Mundo - em 1954, a Roma não o liberou para o Mundial da Suíça, e, em 1958, a Itália não se classificou. Ghiggia também sequer fez mais gols pelo Uruguai desde aquele anotado sobre Barbosa. Incrível, não?

Alcides Ghiggia foi um dos maiores ídolos da história da seleção uruguaia
Alcides Ghiggia foi um dos maiores ídolos da história da seleção uruguaia
Foto: Bob Thomas/Popperfoto / Getty Images

O ágil atacante ainda voltou ao Uruguai em 1962 para defender o Danúbio, já em fim de carreira. A aposentadoria aconteceu somente seis anos depois, quando Ghiggia tinha 42 de vida. Longe do futebol, o ídolo trabalhou como funcionário de um cassino em Montevidéu ao lado de Obdúlio Varela e ganhou condições financeiras de se manter até o fim da vida.

Desde então, o ex-jogador teve como maior emoção da vida uma homenagem recebida no Maracanã. Em 2009, ele se tornou o centésimo jogador da história a imortalizar a marca dos pés na calçada da fama do estádio. Dono da medalha de Ordem de Mérito da Fifa, Ghiggia se emocionou na ocasião e fez uma declaração ao País que, 59 anos antes, havia posto a chorar: "nunca pensei que seria homenageado no Maracanã, estou muito emocionado. Meus sinceros agradecimentos ao público. Agradeço profundamente. Viva o Brasil!".

Viva você, Ghiggia! Descanse em paz.

Ghiggia marcou seus pés na calçada da fama do Maracanã em 2009
Ghiggia marcou seus pés na calçada da fama do Maracanã em 2009
Foto: Celso Pupo/Foto Arena/Latin Content / Getty Images
Morte de Ghiggia: relembre homenagem ao jogador no Maracanã:

Fonte: Terra
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