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Fortaleza x Cuiabá: modelos de gestão distintos, mas que trazem resultados

Enquanto clube cearense descarta virar empresa, novato da Série A vê modelo consolidado e de referência para outras instituições

30 ago 2021 - 10h59
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Fortaleza e Cuiabá se enfrentam pelo Brasileirão nesta segunda-feira (30), na Arena Castelão, no compromisso com modelos distintos de gestão nas duas equipes, porém com resultados que brilham os olhos dos dois torcedores.

Confronto desta segunda (30) será na Arena Castelão (Rodrigococafoto/Ag. Corinthians)
Confronto desta segunda (30) será na Arena Castelão (Rodrigococafoto/Ag. Corinthians)
Foto: Lance!

Praticamente desde o início da competição na parte alta da tabela onde ocupa o terceiro lugar com 32 pontos, o Leão do Pici descarta virar empresa, pelo menos por enquanto. Já o Auriverde, que disputa pela primeira vez a elite, vê seu projeto de clube-empresa consolidado e servindo como referência para outras instituições.

Apesar de elogiar a aprovação do clube-empresa no Senado, Marcelo Paz entende que esse modelo, hoje, está descartado no Fortaleza.

- Acredito que todos os modelos são sempre bem vindos, desde que tenham boa gestão. Hoje, o Fortaleza não tem a intenção de virar S/A. Temos uma gestão com dirigentes remunerados, planejamento estratégico periódico e profissionais contratados para todos os departamentos. É um clube associativo com modelo empresarial - explicou.

De acordo com a 12ª edição da Análise Econômico-Financeira dos clubes brasileiros de futebol, desenvolvida pelo Banco Itaú, o Fortaleza foi qualificado como um clube de boa gestão. No cenário nacional, sete clubes representaram 62% do total de receitas, e dentro do recorte de 21 times, o clube surgiu em 17º colocado.

- Tem capacidade de entender suas limitações financeiras, o que ajuda na gestão eficiente do caixa, assim, enfrentou a pandemia de forma segura, sem dívidas relevantes, operando dentro do que as receitas permitem. Fechou 2020 com condição acima da média dos clubes brasileiros - apontou o relatório.

Durante a pandemia, o Fortaleza conseguiu lidar com o equilibrio mesmo perdendo milhões em receitas de bilheteria e sócio-torcedor. Em 2020, teve um déficit na casa de 30 milhões, saindo de R$ 120 milhões de receita bruta para R$ 86 milhões. Apesar da redução de custos no departamento de futebol, todo o quadro de funcionários foi mantido.

Há pouco mais de dois anos, o Fortaleza aprovou por unanimidade a remuneração de seus dirigentes, e, na época, o presidente Marcelo Paz deixou claro que essa medida fazia parte do processo de profissionalização do clube. Após isso, foram qualificados todos os departamentos e uma ampla reforma do centro de treinamento, tudo isso refletindo em vitórias também dentro de campo.

- Cada clube sabe o que é melhor para ele, e com certeza o modelo de S/A pode ser um salto considerável para algumas instituições, pois pode atrair o investidor e usar esse dinheiro de imediato. Mas tudo vai depender de uma boa gestão - acrescentou.

Já o Cuiabá viu no modelo de sociedade anônima a chave para o sucesso. De forma meteórica, chegou pela primeira vez à Série A em 2021 e vem fazendo um campanha considerada surpreendente, chegando 20 pontos na classificação e tendo batido, nas duas últimas rodadas, Athletico-PR e Palmeiras.

O atual modelo de gestão do clube, dono de vários acessos e domínio estadual, surgiu por meio da família Dresch, proprietária da Drebor, empresa fabricante de materiais e tecnologias para recapagem de pneus, fundada em 1989.

A empresa se aproximou do clube em 2003 para ser patrocinadora da equipe dois anos depois de o time ser fundado em 2001 por Luís Carlos Tóffoli, o Gaúcho, ex-atacante de Flamengo, Palmeiras e Grêmio que faleceu no ano de 2016 vítima de câncer de próstata. Em 2009, a família Dresch comprou o Cuiabá e a responsabilidade das áreas administrativas e do futebol está nas mãos de Cristiano e de seu irmão, Alessandro Dresch, presidente do clube.

- A transformação dos clubes em empresa é um processo sem volta e no qual estamos há décadas atrasados quando olhamos para o que ocorre na Europa e Estados Unidos. O modelo atual, de associação, é comprovadamente falido e para isso basta ver a situação de vários grandes clubes do futebol brasileiro. O Cuiabá é constituído como sociedade empresária há vários anos e, por isso, pode-se dizer que é um dos precursores deste movimento que agora tende a ganhar força - opina Eduardo Carlezzo, advogado especializado em direito desportivo.

Na Europa, é válido dizer que 90% dos times das primeiras divisões das cinco principais ligas já adotam o modelo de clube-empresa. No Brasil, apenas Cuiabá e Red Bull Bragantino já possuem esse sistema consolidado.

- Ambos são fundamentais para o desenvolvimento do futebol profissional. Como em qualquer empresa, o patrimônio investido pelos sócios responde pelas falhas da gestão. Esse é o maior incentivo para eficiência. O clube pode pensar em abrir capital e atrair investimentos com segurança jurídica, enquanto clubes associativos têm muita dificuldade para planejamento de médio e longo prazo pela instabilidade de eleições periódicas em que compromissos da gestão anterior muitas vezes são descumpridos sem nenhuma grande consequência, além do aumento da fila de credores - complementa Pedro Trengrouse, advogado e especialista em gestão esportiva pela FGV.

Lance!
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