Folhas não descarta volta, mas critica handebol brasileiro
Um dos principais nomes do handebol brasileiro, o armador central Alexandre Folhas deixou as quadras no início de dezembro, com a conquista da Liga Nacional pelo Pinheiros. Marido da jogadora de vôlei Paula Pequeno, o atleta optou por acompanhar a esposa na Rússia, onde ela joga atualmente, mas não esqueceu o handebol. Tanto que ainda pensa em um retorno ao esporte, nem que seja como dirigente.
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"Entendi aquele jogo como o fim de um ciclo, mas tomei todo o cuidado para não dizer que se tratava de uma despedida. Hoje, posso dizer que o handebol não é a minha prioridade, mas de repente eu posso voltar ao Brasil e querer jogar de novo", disse o atleta. "Estou com 34 anos, mas tenho muita saúde. Tenho medo de sentir falta da adrenalina", afirmou.
Vivendo do outro lado do mundo, Alexandre agora se dedica a uma empresa de marketing esportivo, a MVP Sports, que tem como clientes a própria Paula, além da meio de rede Adenízia, do Sollys/Osasco e da seleção brasileira. O foco na nova carreira minimiza a saudade das quadras, mas Folhas não descarta procurar um time local pelo menos para manter a forma - a Rússia é uma das forças da modalidade no mundo, já tendo conquistado dois títulos mundiais (1993 e 1997) e um olímpico (2000).
"De repente, posso ser um jogador de fim de semana", disse o atleta. "Joguei sem parar por 24 anos e não estou achando tão ruim não ter mais aqueles compromissos de horário e responsabilidade...", disse. A única hipótese completamente descartada é um retorno à seleção brasileira. "Estou desanimado com a situação. O handebol não cresce, vivemos na estagnação. Não concordo com muita coisa que vejo", afirmou Folhas, citando o fim da equipe adulta do São Caetano. "Tenho dez amigos que estão desempregados e receberam este aviso por e-mail".
Apesar de ser um dos esportes mais praticados nas escolas brasileiras, o handebol normalmente só tem a atenção do público em época dos Jogos Pan-Americanos, torneio no qual os atletas verde-amarelos venceram as três últimas edições no feminino e as duas últimas no masculino. Resultados que são uma ilusão, avalia Folhas.
"Claro que é bom ganhar na América, mas isso não se converte em melhorias para os atletas", disse o central, citando os baixos salários como fator para que os jogadores busquem outras carreiras, prejudicando assim sua própria preparação e, consequentemente, a competitividade do time nacional. "Depois, temos que escutar que vamos para fora fazer excursão, mas a verdade é que atleta chega hoje na Europa e passa vergonha. A diferença de nível técnico é gritante, por mais que você se esforce", afirmou.
Também não convence Folhas o argumento utilizado pelos dirigentes do handebol brasileiro, para quem a prova do desenvolvimento da modalidade no País é o fato de o Brasil estar perdendo cada vez de menos das principais seleções do planeta. "O próprio Jordi Ribera (ex-técnico da seleção masculina) falava que entre perder de pouco e ganhar tem um grande abismo. Se eles derem uma acelerada no jogo, começam a fazer um monte de gol no Brasil", afirmou.
Apesar do discurso crítico, Folhas não quer bater de frente com a atual gestão da Confederação Brasileira de Handebol, presidida por Manoel Luiz Oliveira. "Queria sentar com ele e ver até onde eu posso ajudar. O handebol é a minha paixão", afirmou Alexandre. "Talvez eu não saiba quais são as dificuldades que ele passa, pois é fácil falar. Talvez ele tenha argumentos e me convença que este é o melhor que se pode fazer pelo handebol. Se aí as ideias não forem de acordo, eu posso virar oposição", disse.