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Uefa mudará regras de controle financeiro e novo regulamento pode consolidar hegemonia inglesa

Entidade vinculará gastos às receitas dos clubes e mudará nome do novo formato, se afastando do termo Fair Play Financeiro

23 mar 2022 - 15h10
(atualizado às 15h10)
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As maiores mudanças no controle financeiro do futebol europeu não chegarão a criar tetos salariais no estilo que acontece nos Estados Unidos para restringir os gastos dos clubes e, em vez disso, vão decretar regras que dificilmente impedirão os clubes mais ricos do continente de comprar os melhores jogadores e ganhar os troféus mais cobiçados.

A Uefa passou mais de um ano conversando com um grupo de clubes de elite sobre um novo modelo para substituir suas chamadas regras de Fair Play Financeiro, o mecanismo de controle de custos que há uma década busca limitar as despesas como parte de um esforço para promover a competição.

A entidade do futebol europeu finalmente conseguiu um modelo substituto. Os gastos dos clubes com futebol não poderão ultrapassar 70% de sua receita, um regulamento que parece diluído em relação ao teto salarial rígido que há muito tempo era defendido pelo presidente da Uefa, Aleksander Ceferin. A Uefa organiza a Liga dos Campeões da Europa, entre outras disputas.

Ceferin debateu por pelo menos cinco anos a imposição de tetos salariais como forma de lidar com a crescente diferença de riqueza do futebol europeu. Mas, diante das complexidades da legislação trabalhista europeia e da forte oposição, a Uefa abandonou o conceito de definir um limite salarial e, de acordo com três pessoas familiarizadas com as propostas, optou por uma opção que - após um período de implementação de três anos - exige que os clubes mantenham seus gastos dentro de uma proporção rigorosa.

As regras serão adicionadas ao livro de regras da Uefa após uma votação de seu conselho executivo prevista para 7 de abril. Elas também receberão um novo nome, com a Uefa procurando se afastar do termo Fair Play Financeiro, um termo cunhado pelo antecessor de Ceferin, e adotar um nome mais prosaico: Regulamentos de Sustentabilidade Financeira.

Em mais de uma década de uso, o atual sistema de Fair Play Financeiro provou ser mais hábil em produzir críticas do que justiça. Clubes menores reclamaram que foram punidos por violações de regras, enquanto os maiores e mais ricos muitas vezes conseguiram evitar as penalidades mais severas e, por sua vez, se opuseram aos controles financeiros como um freio injusto às suas ambições.

Hegemonia inglesa continua?

As conversas sobre a mudança dos regulamentos se aceleraram durante a pandemia do coronavírus. Apesar de seu aceno à sustentabilidade financeira, as mudanças nas regras podem, de fato, consolidar a crescente hegemonia de times ingleses ricos, que se beneficiam não apenas das maiores receitas da televisão, mas também do acesso à riqueza de alguns dos proprietários mais ricos do esporte. Na Liga dos Campeões da temporada passada, Chelsea e Manchester City, se enfrentaram na decisão, marcando o segundo encontro entre finalistas ingleses em três anos.

A mudança será um desafio para muitos grandes times fora da Inglaterra, a grande maioria dos quais tem lutado para manter a disciplina fiscal ao tentar acompanhar os rivais que jogam no futebol inglês.

Na Itália, por exemplo, só os gastos salariais excedem frequentemente os propostos pela Uefa. Na Espanha, que tem algumas das regras financeiras mais rígidas do futebol, o Barcelona não conseguiu manter o craque Lionel Messi no ano passado porque isso violaria um limite imposto ao time pela liga.

Para permitir que os clubes se ajustem aos novos regulamentos, as regras serão impostas ao longo do tempo: os clubes poderão gastar até 90% de suas receitas antes que esse número atinja seu nível permanente de 70% em três temporadas. Os clubes podem, em certas circunstâncias, ter flexibilidade para gastar até cerca de US$ 10 milhões acima do limite, desde que tenham balanços financeiros saudáveis ??e não tenham violado as regras anteriormente.

Punições no novo regulamento da Uefa

Os críticos da Uefa há muito tempo condenam que, embora tenham implementado regras de controle de custos, muitas vezes falharam em punir os clubes maiores. Nos últimos anos, Manchester City e Paris Saint-Germain - financiados por ricos Estados do Golfo - conseguiram evitar penas severas por critérios técnicos.

Sob o novo sistema, a Uefa terá o direito de impor penalidades esportivas e financeiras para quem descumprir as regras, incluindo multas, ameaça de expulsão e, pela primeira vez, uma opção para "rebaixar" clubes entre as três competições que organiza atualmente. Um time da Liga dos Campeões, por exemplo, pode ser rebaixado para a Liga Europa por uma violação das regras financeiras.

Outra medida também pode incluir perda de pontos dentro do formato revisado da Liga dos Campeões e da Liga Europa: a partir de 2024, todos os participantes serão colocados em uma única tabela durante a primeira fase da competição. E os regulamentos também exigirão maior exame minucioso dos contratos de patrocínio em meio a alegações de que alguns clubes se beneficiaram de acordos inflacionados com empresas ligadas a seus grupos de proprietários.

A Uefa está conversando sobre as propostas com vários clubes que possuem registros financeiros ruins. Esses 40 times fizeram acordos com o órgão regulador para continuar participando dos torneios.

Estadão
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