Manchester City faz na Inglaterra o que o Flamengo não consegue no Brasil
Hegemonia do time de Guardiola na Premier League é fruto de poderio financeiro aliado a um sólido projeto esportivo
Há quem tente desmerecer o feito do Manchester City, único time tetracampeão consecutivo na história do Campeonato Inglês, sob o argumento da vantagem econômica, como se os Citizens não fizessem mais do que a obrigação devido aos bilionários investimentos do fundo dos Emirados Árabes que controla o clube.
Inegavelmente, o poderio financeiro foi fundamental para que Pep Guardiola conquistasse seis das oito edições de Premier League que disputou à frente da equipe inglesa. No entanto, não é a única explicação para a hegemonia estabelecida nos últimos anos, algo raro no futebol cada vez mais globalizado, competitivo e turbinado por dinheiro de mercados até então distantes do esporte.
Com média de 1 bilhão de reais em contratações por temporada em uma década, o City tem uma das cinco maiores folhas salariais do mundo, que também supera a casa de 1 bilhão de reais. Reúne jogadores espetaculares em todas as posições, titulares em suas respectivas seleções, como Éderson, Walker, Gvardiol, Rodri, De Bruyne, Haaland e Phil Foden, eleito o craque do campeonato.
Sem desmerecer o peso da grana, o período hegemônico no cenário inglês é fruto de alto investimento aliado ao sólido projeto esportivo capitaneado por Guardiola, que, em seu trabalho mais longevo como treinador, caminha para a nona temporada na Inglaterra.
Mais do que oferecer recursos, estrutura, respaldo e tempo de trabalho ao técnico, o Manchester City soube definir metas e uma identidade de jogo muito claras, sem se deixar abalar por tropeços no meio do caminho, como as seguidas decepções na Champions League até o título inédito na temporada passada. Um diferencial competitivo que não se conquista apenas com dinheiro.
Embora a concorrência tenha se acirrado, com clubes como Arsenal, Chelsea, Liverpool, Newcastle e Manchester United também investindo pesado em contratações, os Citizens continuam dominantes em todos os aspectos. Acumulam 35 jogos de invencibilidade, sendo nove vitórias seguidas na reta final da Premier League, fechando a liga com mais de 90 pontos pela quarta vez.
Desde a chegada de Guardiola, o City virou o time a ser batido na Inglaterra e, consequentemente, na Europa, juntamente com o Real Madrid. Guardadas as devidas proporções, soberania semelhante à que o Flamengo, clube mais rico da América do Sul e de maior torcida do Brasil, planejou estabelecer no futebol local, mas ainda não conseguiu.
Faturando anualmente mais de um bilhão de reais, valor que investiu em contratações nas últimas seis temporadas, o clube rubro-negro tem potencial econômico para impor uma hegemômia de títulos brasileiros e sul-americanos. Mas, embora tenha sido bicampeão nacional e da Libertadores desde 2019, falta justamente a excelência de um projeto esportivo para se tornar tão dominante quanto o City na Inglaterra.
Não é tão simples quanto parece transformar dinheiro em conquistas. Sem dúvida, a desigualdade econômica sempre tende a pesar a favor dos clubes mais ricos. O que os diferencia é a maneira como potencializam ganhos e investimentos com ideais realmente fora da curva, a exemplo do time de Guardiola.