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Marcos Caetano
Segunda-feira, 13 Maio de 2002, 00h54
terraesportes@terra.com.br

Natureza dos campeões


De que são feitos os campeões? Essa pergunta começou a rondar minha cabeça a partir do momento em que meus olhos incrédulos viram o tetracampeão mundial, recordista de vitórias e colecionador de recordes na Fórmula 1, Michael Schumacher, se valer de uma ordem dos boxes para ultrapassar o companheiro de equipe Rubens Barrichello – o legítimo vencedor do Grande Prêmio da Áustria.

Vaias, polegares voltados para baixo, xingamentos em seu próprio idioma, tudo isso poderia ter sido evitado pelo alemão – que foi o principal responsável por um dos mais lamentáveis episódios de falta de esportividade da história do automobilismo. Sim, ninguém foi mais culpado pela fraudulenta vitória de Schumacher do que ele mesmo. A equipe, com sua lógica fria e matemática, dificilmente deixaria de ordenar a inversão de posições. Entretanto, cabia ao próprio Schumacher acatar ou não tal ordem. E o campeão, mesmo com uma confortável distância para o segundo colocado na luta pelo título, preferiu cumprir a determinação.

Rubinho, cujo acordo com a Ferrari foi renovado há alguns dias, estava contratualmente obrigado a consentir a ultrapassagem. Na pista e nos elegantes depoimentos na entrevista coletiva, nosso piloto mostrou apenas uma coisa: maturidade. Schumacher bem que tentou consertar o estrago em sua imagem: pôs o brasileiro no topo do pódio, entregou-lhe o troféu de vencedor e disse que não estava contente com a decisão da escuderia. Tudo fingimento.

Com a banca que tem na equipe, ele poderia perfeitamente desacatar a ordem e terminar a corrida com a cabeça erguida. Ninguém, nem o comendador Enzo Ferrari, se vivo fosse, teria coragem de repreender um tetracampeão que teimasse em chegar ao penta apenas pelos próprios méritos.

Schumacher e a Ferrari não tiveram a grandeza de deixar Barrichello vencer a segunda prova de sua carreira. Grandeza que Ayrton Senna e a McLaren demonstraram há muitos anos, quando fizeram justamente o contrário: o brasileiro desacelerou e permitiu que seu escudeiro, Gherard Berger, conquistasse a primeira vitória. A enorme distância que observamos entre a altivez de Senna e a frieza de Schumacher só serve para provar que o alemão pode até quebrar todos os recordes da categoria, mas jamais conseguirá alcançar o brasileiro em sua dimensão de mito.

Os campeões não têm exatamente o mesmo estofo, pois há muitas sutilezas a diferenciá-los. O Corinthians de Carlos Alberto Parreira, que conquistou com todos os méritos o título da Liga Rio - São Paulo, por exemplo, se não chega a ter a aura mágica de Ayrton Senna ou a impressionante técnica de Michael Schumacher, ao menos possui de sobra dois atributos dos mais importantes num esporte como o futebol: coração e jogo coletivo.

Na pré-temporada, ao topar com nomes como Deivid, Gil, Leandro, Kleber e Rogério entre os prováveis titulares da equipe do Parque São Jorge para a disputa do Rio - São Paulo e da Copa do Brasil, pouca gente se atreveria a apostar que eles seriam finalistas dos dois torneios. Poucos também pareciam acreditar no sucesso do discreto Carlos Alberto Parreira à frente de uma equipe de massa, com um grupo de jogadores inexperientes – a exceção de Ricardinho, Vampeta e Dida.

Pois o Corinthians, com três atacantes, um toque de bola envolvente – tão envolvente que às vezes parece que o time gosta mais de trabalhar a bola do que fazer gols – está prestes a terminar o semestre com cem por cento de aproveitamento nos títulos que disputou. Quem considerava o time imaturo, precisou rever sua posição. Quem dizia que seu técnico era retranqueiro, teve que voltar atrás. Na verdade, os campeões da Liga Rio - São Paulo exemplificaram mais uma vez a velha máxima, tão cara a Parreira: no futebol, ganha o time que ataca com a máxima eficiência e se defende com a máxima eficiência.

Melhor ainda que campeonato foi decidido com gols – e não com regulamentos esquisitos, cartões amarelos, manobras de bastidores e cartolagem. Pena que na Fórmula 1 não seja assim. Não é mesmo, Rubinho?

 

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