Peter May é colunista do Boston Globe e do site da ESPN. Ele escreveu que os donos de todos os times da NBA deveriam enviar a Michael Jordan uma caixa de seus charutos preferidos. Seria uma modesta forma de gratidão pelo impacto causado por sua volta ao basquete, que representou milhões de dólares em ingressos, com ginásios lotados, e venda de merchandisings. Na verdade, ele merece muito mais.
Jordan teve um retorno brilhante e só não foi melhor devido aos problemas crônicos em seus joelhos, causados principalmente pela inatividade de três anos longe das quadras. "39 anos não são 29", percebeu com incrível astúcia o pivô Shaquille O'Neal, que entre outros apelidos também gosta de ser chamado de Grande Aristóteles.
Não é preciso ter a genialidade de Shaq para constatar que, não fossem os joelhos, Jordan poderia ir ainda mais longe, ou pelo menos chegar ao fim da temporada regular. A decisão de parar agora foi tomada com base em sua intenção de estar de volta na próxima campanha. Ao contrário do ano passado, desta vez ele terá até sete meses para conseguir a melhor recuperação possível para seus joelhos.
Em 2001, quando viveu o dilema volta-não-volta, Jordan sofreu várias lesões durante o período em que passou treinando. A mais grave foi uma fratura de costela, que o deixou um mês no estaleiro e comprometeu todo o seu processo de recuperação. Desta vez, o caminho parece ser mais fácil.
Jordan não precisaria se arriscar na reta final, onde o Washington Wizards não tem mais capacidade para buscar a classificação aos playoffs. Como era sabido, sem Jordan o time não é nada. Antes da cirurgia, em 27 de fevereiro, o Washington havia vencido 26 partidas e perdido 21. Depois que Jordan entrou na faca, a campanha passou para apenas 8 vitórias e 19 derrotas.
O esforço seria mesmo inútil e poderia causar danos físicos ainda maiores. Assim, nada melhor do que baixar a poeira e guardar forças para a próxima temporada, quando MJ vai entrar para o time dos quarentões.
As estatísticas mostram que Jordan teve uma campanha decepcionante, como o seu recorde negativo de pontos na última terça-feira, quando acertou apenas uma cesta. Dois pontos que causam uma impressão errada e injusta de seu memorável retorno. Com todos os problemas e o peso da idade, Jordan fez partidas inesquecíveis, como contra o Charlotte Hornets, quando marcou 51 pontos. Em pelo menos dois jogos garantiu a vitória com arremessos no último segundo. E a marca poderia ter sido ainda melhor, com um pouquinho mais de sorte.
Ver Jordan, mesmo aos 39 anos, foi um privilégio. Como diria Allen Iverson, ele ainda é melhor do que a maioria dos jogadores atuais da liga. Diria mais: poucos são capazes de fazer o que ele fez, ou ter a coragem de voltar a jogar nas circunstâncias em que se encontrava. Disse Jordan: "As estatísticas não me interessam". Todos sabem que ele voltou pelo prazer de jogar. Mas, Jordan, o prazer foi todo nosso. E esperamos poder apreciá-lo novamente na próxima temporada. Até breve!
Fernando Santos