Em 1970, quando os jornalistas brasileiros que cobriam a Copa do Mundo,
chegaram a Guadalajara, ficaram extasiados. Estávamos vindo de Irapuato,
depois Guanajuato, regiões quentes, semi desertas, onde a seleção tinha se
concentrado. Os jogadores tinham ficado isolados, sem a família, sem mulher,
sem festas, uma rotina de fazer inveja aos monges beneditinos. Guadalajara
era justamente o oposto. Cidade de cores vivas, repuxos e fontes de água que
pareciam bailar ao som dos boleros contados pelos "Mariachis".
A história começou com o Brasil levando um susto contra a antiga Checoslováquia
sofrendo o primeiro gol marcado por Petras, que vindo de um país comunista,
ajoelhou-se e fez o sinal da cruz. Como o Brasil também tinha fé, virou o
jogo, venceu com categoria e o resto da história todo mundo conhece: Brasil
campeão do mundo. Aquela seleção jogava tanto futebol que não tinha
vaidade. O orgulho de cada um se manifestava, na classe com que mostravam um
futebol, simples, objetivo, obediente, principalmente consciente da sua
força, sabedor do seu poderio. Não havia naquele time nenhuma disputa
imbecil, pessoal, fora de propósito.
Pelé que poderia cometer qualquer exagero, dava o exemplo. Cuidava da própria vida, treinava sem reclamar.
Sabia que o melhor pregador é Frei exemplo. Se alguém tentava se sobressair
de forma extravagante, os outros jogadores colocavam a casa em ordem. Foi
assim com o lateral Marco Antonio. Fez graça, saiu do time. Acima de tudo,
pairava a autoridade de Gérson, cérebro do tricampeonato. Eram outros
tempos, outro futebol, outra Guadalajara.
De lá, hoje, chegam notícias de que
a vaidade impera entre os cobras da seleção. Rivaldo, Roberto Carlos,
Romário são um poço de arrogância, nem se conversam, batem papo, apenas se
suportam. Difícil acreditar que no romper do novo século ainda exista
jogador mascarado. Dizem que a vontade de aparecer é tanta que até Emerson
Leão, extremamente vaidoso, fica inibido. Resta saber o que esses jogadores
vão mostrar contra o México. Que bom se esses profissionais se lembrassem de
que por essa Guadalajara, já desfilou uma seleção que virou lenda, cuja
maior qualidade era encarar a vida e o futebol com simplicidade.