Quem se dá ao trabalho de ler essas mal traçadas linhas
já sabe qual é a minha impressão sobre as CPIs que no
momento agitam o futebol brasileiro. Essas comissões
foram propostas pelo menos, a do deputado Rebelo já faz
muito tempo. Ficaram nesta repugnante gestação política
muito própria da maneira dos políticos encararem as
coisas que deveriam ser levadas a sério.
De uma maneira surpreendente, a Comissão Parlamentar da Nike foi
instalada justamente no momento em que o governo federal
se debatia para explicar sua ligação com um tal de
Eduardo Jorge. Além da CPI dos deputados ainda veio
de quebra sua comadre, a CPI do Senado. Hoje ninguém
mais fala naquele Eduardo Jorge, que mais algum tempo
poderá ser elevado à categoria de santo como aconteceu
recentemente com o Frei Galvão.
Aí, foi servido em
Brasília um grande maná, um mamão com açúcar, com
emissoras de rádio e televisão, mais jornais e revistas
procurando para entrevistas fotografando, colocando na
tela, deputados e senadores desconhecidos e inoperantes
que o povo brasileiro jamais conheceu. Deles não se
tinha notícia até essa época de um discurso inteligente
de um projeto de lei, que beneficiasse o sofrido povo
brasileiro. Viviam às escondidas, acabrunhados na sua
pasmaceira política, falando pelos corredores, tomando
cafezinho e jogando conversa fora. De repente, lhes foi
dada a oportunidade de entrevistar as grandes figuras do
esporte brasileiro, na passarela da CPI desfilaram
João Havelange, Ricardo Teixeira, J. Hawilla, estes do
primeiro time deslavadamente protegidos por perguntas
mal feitas de gente despreparada. Teve também o time das
figuras populares como Zagallo e Ronaldinho que deitaram
e rolaram face à incompetência na hora da argüição pelos
deputados.
Agora é a vez do baixo clero, o empresário
Juan Figer, um tal de Jimmy Martins, um coitado de um
jogador que veio do Maranhão. Esses deram pouco Ibope. O
que as CPIs queriam mesmo eram dois bois de piranha,
duas buchas de canhão, para chamar a atenção do torcedor
brasileiro.
A dupla escolhida é composta por Wanderley
Luxemburgo e Eurico Miranda. Depois de quatro meses de
acusações, nada se provou contra o técnico Luxemburgo
fora o fato dele ser réu confesso na dívida que tem com
o fisco brasileiro. Luxemburgo voltou a trabalhar e a
vida continua. Eurico Miranda agora é a bola da vez. Tem
dívidas a pagar, claro que sim, explicações a dar, sem
dúvida, vai ter que responder pelas irregularidades que
cometeu. Mas, no caso do dirigente vascaíno, a CPI
também foi incompetente. Ele só poderá ser cassado,
deixar a presidência do Vasco, ir para a cadeia por uma
única razão: brigou, desafiou, enfrentou a TV Globo.
Mas nesse caso, não é a CPI dos políticos, é a CPI
da televisão. Convenhamos, uma grande covardia.