"Toda
unanimidade é burra", disse o filósofo. Depende, pois quem é do
mar não enjoa. Tanto assim que multidões de brasileiros deixaram
o continente e foram para a beira do mar. Enfrentamos congestionamentos
intermináveis, formamos as dobras e curvas da serpente gigantesca
que desceu as serras em busca das ondas. Eu também, que não acredito
em nada disso, fui em busca das praias. Fui jogar flores no mar,
pedindo que o sal da vida e das águas levasse nas sete ondas meus
sete pecados capitais "quando a gente não repete que são mais".
Acho
que os pecados são muitos, muitos mais. Nem sei se as águas dos
mares são capazes de afogá-los. Que bom seria, assim começaríamos
todos o novo ano limpos, puros, imaculados como a túnica lavada
com anil. Seríamos todos ungidos apenas pelo pecado original.
Até
mesmo Eurico Miranda. Os juizes de futebol teriam suas mães respeitadas,
não haveria erros, pênaltis, impedimentos, gols duvidosos. As CPIs
se tornariam sérias e justas. Haveria até um segundo jogo entre
Vasco e São Caetano.
Isso
é que não. Seria injusto, seria nos tornar todos de novo impuros.
O que está feito, está feito. A sorte já foi lançada. São Caetano,
santo austero e puro na sua imaculada pobreza, que me perdoe, mas
um segundo jogo não está direito. Já vivemos um novo século, o primeiro
dia de uma nova era. O time do São Caetano faz parte do passado,
foi um sonho que acabou. Seus jogadores serão vendidos: Adhemar,
Claudecir, César e outros ficarão ricos, vão dizer adeus.
O sonho
acabou. Como um dia terminou o Santos de Dorval, Mengálvio,
Coutinho, Pelé e Pepe. O Botafogo de Garrincha, Didi, Quarentinha,
Amarildo e Zagalo. O Palmeiras de Julinho, Cervílio, Tupã,
Ademir da Guia e Rinaldo. O Corinthians de Cláudio, Luizinho, Baltazar,
Carbone e Mário.
Sobrou
do São Caetano o gosto único da vitória. Nunca mais haverá outro
São Caetano igual. Seus jogadores dirão adeus levados pelas asas
da glória. Seria o mesmo que pedir para os Beatles se reunirem de
novo e de novo entoarem canções.
Melhor
deixar quieto, ouvindo apenas os aplausos para o time que foi campeão
nas últimas horas do século que passou.