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'Futebol japonês sempre foi corrido, só que agora os atletas correm com inteligência', diz Zago

Técnico brasileiro do Kashima Antlers destaca evolução técnica dos jogadores asiáticos nos últimos anos

22 out 2020 - 08h10
(atualizado às 09h02)
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No comando do Kashima Antlers após deixar o Red Bull Bragantino no início do ano, o técnico Antônio Carlos Zago está na sexta colocação do Campeonato Japonês. O time chegou a emplacar sete vitórias consecutivas, mas tropeçou em algumas rodadas e briga por uma vaga na Liga dos Campeões da Ásia. Como atleta, o ex-zagueiro jogou no Japão nas temporadas 1996 e 1997.

Mais de duas décadas depois, o treinador avalia que o futebol do país mudou profundamente. "O futebol japonês sempre foi corrido, só que agora eles correm com inteligência. Eles conseguiram juntar esses fatores para que o esporte crescesse como tem acontecido nos últimos anos", diz aoEstadão. O treinador também analisou o atual momento do Bragantino e o clima no Japão para os Jogos Olímpicos.

Você chegou ao Kashima para implementar nova filosofia de jogo. Isso leva tempo. Existe algo de diferente no trabalho que já tenha surtido efeito?

Acredito que cada treinador tem seu método e trabalha em cima dele. Não que as coisas foram mais fáceis aqui no início. Creio que o período em que ficamos parados por causa da covid-19 ajudou os jogadores a assimilarem o que eu quero para o time. A obediência e atenção dos japoneses também ajuda. Não que eles tenham captado tudo, ainda falta. Qualquer trabalho leva tempo. Tem aquela frase do Jürgen Klopp (técnico do Liverpool): 'se os torcedores tiveram paciência, em três ou quatro anos ganhamos algum título'. Tudo precisa de tempo, principalmente no futebol, mas no Brasil as coisas são diferentes. Aqui tudo está andando bem. Perdemos alguns jogos que merecíamos ter ganho, mas o trabalho está sendo bem feito e bem aceito pelos jogadores.

O futebol japonês é pouco visto no Brasil. Quais são as principais diferenças entre esses dois países no que diz respeito ao estilo de jogo?

A diferença está na velocidade e na intensidade dos jogadores. Aqui o futebol é bem mais rápido. Essa com certeza é a maior diferença entre o futebol japonês e o futebol brasileiro. Tecnicamente, os jogadores aqui do Japão cresceram muito. Vários estão jogando na Europa. O futebol japonês sempre foi corrido, só que agora eles correm com inteligência. Eles conseguiram juntar esses atores para que o esporte crescesse como tem acontecido nos últimos anos.

No Brasil, existe a percepção de que a qualidade dos jogos caiu em decorrência do tempo que as competições foram paralisadas. Essa sensação é notada no futebol japonês?

Tudo mudou como a pandemia. O futebol em geral foi afetado. Talvez isso tenha acontecido no Japão, mas os impactos não são tão perceptíveis. Aqui as partidas são bem jogadas. Fizemos uma preparação para o restante de 2020 e houve uma interrupção. Tivemos que fazer um novo planejamento para seis meses, então sempre muda alguma coisa. O fator psicológico acredito que tenha mudado também. Mas como disse, no Japão isso não é tão nítido. Talvez no Brasil seja um pouco mais.

Houve algo que chamou sua atenção em relação ao enfrentamento da covid-19 por parte dos clubes no Japão?

Todas as precauções foram tomadas. Estou aqui desde janeiro praticamente. Desde então, o que foi pedido pelo governo foi cumprido pela população. Em relação ao futebol, a mesma coisa. Fazemos o teste para covid-19 praticamente toda semana. Quando começou o campeonato, disseram que as equipes que tivessem algum caso de covid-19 teriam que ficar sem jogar pelo período de quarentena do infectado. Isso aconteceu com o Sagan Tosu. O treinador deles contraiu a doença e o time inteiro ficou parado por cerca de 20 dias. Mas esse foi o único caso da J League. A rigidez em cima de cumprir tudo que é passado para os jogadores acaba fazendo com que nós não tenhamos tantos casos.

Como está o clima em relação aos Jogos Olímpicos? Você percebeu uma espécie de "balde de água fria" por causa do adiamento do evento?

Acho que por enquanto vale o balde de água fria. Não se ouve muito falar sobre a Olimpíada. Diferente de quando eu cheguei aqui em janeiro. Naquela época, eles não viam a hora de começar os Jogos. Houve um grande investimento e o país fez de tudo para conseguir sediar o evento. Agora, o cenário é outro, está tudo está tranquilo. Estão fazendo de tudo para que não tenha mais casos de coronavírus na população e há ainda uma restrição para a entrada de estrangeiros. Tudo isso visando a Olimpíada.

?Você já rodou por diversos países, mas em entrevista recente disse que viver no Japão era especial. Por quê?

O Japão é um país que sempre me interessou. Tive a oportunidade de jogar aqui em 1996 e 1997, o que me ajuda muito agora. Eu gosto de praticamente tudo aqui, da cultura, da educação e da comida. Não foi só no Japão que consegui me adaptar fácil. Em outros países que joguei também foi assim. Sempre procurei aprender muita coisa sobre a cultura desses lugares em que estive. Acho isso o mais importante.

No início do ano, havia expectativa em relação ao desempenho do Bragantino, mas isso acabou não se confirmando. Como você avalia a fase do time que comandou?

Chegaram vários jogadores neste ano. Tudo precisa de um tempo. Fico na torcida para que o Bragantino saia dessa situação, se encontre e consiga traçar o objetivo que traçamos no ano passado, que é permanecer na Série A. Acredito que eles ainda estejam trabalhando em cima disso.

Qual é seu principal objetivo no Kashima Antlers?

Aconteceram várias mudanças no Kashima. Troca de comissão técnica, chegada de novos jogadores, troca de filosofia e maneira de jogar. Nos últimos três anos, o clube optou por um futebol mais reativo. Neste ano, procuramos dar mais qualidade na saída de bola. É isso que estamos trabalhando. Procuramos dar mais experiência aos jogadores jovens também. Praticamente o que traçamos no início do ano está acontecendo. Continuamos brigando por uma vaga na Liga dos Campeões da Ásia, o que não é fácil, mas lutaremos por isso até o fim. Ano que vem, o clube completa 30 anos e será importante brigarmos por títulos. Espero que isso possa acontecer em 2021.

Estadão
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