Oportunidade em meio à incerteza: seguradoras globais adotam uma abordagem mais flexível
Mercados privados continuam a ganhar relevância: 30% das seguradoras planejam aumentar suas alocações e 58% preveem manter os níveis atuais
Seguradoras globais estão adotando abordagens mais flexíveis, como modelos híbridos e maior ênfase em mercados privados, para enfrentar incertezas econômicas, enquanto mantêm foco em sustentabilidade e transição energética.
As seguradoras preparam-se para mais um ano de incerteza, com a inflação novamente listada como um dos principais riscos macroeconômicos, de acordo com o 14º Relatório Anual do Setor Segurador da BlackRock. O relatório, baseado em pesquisas com 463 profissionais de investimento sênior em 33 mercados – representando US$ 23 trilhões em ativos sob gestão – mostra um setor que se adapta com cautela, mas que também busca aproveitar oportunidades tanto em mercados públicos quanto privados.
Apesar do apetite por risco permanecer baixo – apenas 12% das seguradoras planejam aumentar sua exposição geral ao risco de investimento em 2025 –, as alocações em mercados privados continuam a crescer. Quase um terço (30%) das seguradoras espera aumentar suas alocações privadas, enquanto 58% pretendem manter sua exposição atual. 79% dos entrevistados esperam que sua exposição a mercados privados mude entre 1% e 5%, 13% antecipam uma mudança entre 6% e 9%, e 1% espera uma mudança de 10% ou mais nos próximos 12 meses, influenciada por movimentos de mercado e alocação de ativos, o que indica uma contínua mudança estrutural em direção a ativos privados que persistiu ao longo dos ciclos de taxas. Crédito privado, infraestrutura e estratégias multi-alternativas continuam a ser as oportunidades mais citadas.
Ao mesmo tempo, os mercados públicos continuam sendo fundamentais para os portfólios: 73% das seguradoras planejam manter suas alocações atuais e 21% planejam aumentá-las.
“A história de 2025 é de cautela em meio à volatilidade, mas também de convicção nas oportunidades de longo prazo que os mercados privados podem oferecer”, afirma Mark Erickson, estrategista global de seguros do Grupo de Instituições Financeiras da BlackRock. “As seguradoras estão navegando neste ambiente com disciplina, enquanto muitas adotam novos modelos operacionais – como soluções híbridas para acessar ativos privados – e tecnologias de investimento, gestão de risco e inteligência artificial para reforçar seus portfólios.”
Como destaca o relatório, as seguradoras não buscam apenas gerenciar a volatilidade atual, mas também posicionar seus portfólios para reforçar sua competitividade de longo prazo. Muitas estão revisando suas estratégias de investimento e modelos operacionais. Crédito privado, infraestrutura e tecnologia continuam sendo pilares chave para apoiar suas iniciativas estratégicas.
“As seguradoras são alocadoras de capital sofisticado nos mercados públicos e privados, e operam em um ambiente altamente competitivo e regulado. Hoje, estamos assistindo a uma transformação acelerada, especialmente entre as seguradoras do ramo de vida, em direção ao investimento de longo prazo em capital privado, sobretudo em áreas como crédito privado e infraestrutura. Sua profunda experiência, seu foco disciplinado e seu horizonte de investimento de longo prazo as colocam em uma posição única para oferecer perspectivas valiosas a outros investidores institucionais que enfrentam desafios semelhantes,” afirma Charles Hatami, chefe global do Grupo de Investidores Financeiros e Estratégicos.
“Na América Latina, as seguradoras enfrentam o ambiente macroeconômico com uma dose de cautela superior à de outras regiões: mais da metade antecipa um cenário de hard landing (pouso forçado), em comparação com apenas 10% globalmente. Não obstante, essa visão prudente não reduziu seu apetite por ativos públicos e privados, que se mantém robusto, especialmente em ativos como crédito privado e infraestrutura. Em resposta à crescente complexidade do mercado, muitas estão adotando modelos híbridos de gestão que combinam capacidades internas com alianças estratégicas externas, buscando maior flexibilidade operacional e acesso eficiente a oportunidades emergentes,” assinala Aitor Jauregui, chefe da América Latina na BlackRock.
Uma das conclusões mais relevantes do relatório deste ano é a guinada para modelos operacionais mais flexíveis. À medida que a dinâmica competitiva e de mercado evolui, as seguradoras estão adaptando suas estruturas. Em relação ao seu modelo de gestão de ativos, 87% estão modificando sua abordagem: em vez de depender exclusivamente de suas capacidades internas, muitas estão adotando modelos híbridos que combinam sua experiência com a de parceiros externos, apoiados por um investimento significativo em tecnologia. Além disso, observamos uma crescente ênfase na gestão de capital em todos os tipos de seguradoras. Nos próximos 12 meses, 67% preveem utilizar sidecars de resseguro (estrutura financeira temporária que permite a uma seguradora ou resseguradora aumentar sua capacidade de assumir riscos sem comprometer seu próprio balanço), 54% esperam trabalhar mais com terceiros e 53% planejam ampliar suas capacidades internas de gestão. Essa maior ênfase na gestão de capital deve-se, em grande parte, à necessidade das seguradoras de diversificar as receitas do balanço através de uma maior captação de receitas por comissões, otimizar os balanços e as estruturas de capital, diferenciar as combinações de ativos por meio de sidecars e acessar fontes de capital não dilutivas.
As seguradoras também mantêm seu compromisso com o investimento sustentável e a transição energética. Pelo segundo ano consecutivo, infraestrutura de energia limpa (55%) se posiciona como a oportunidade mais atraente dentro do investimento sustentável e de transição, seguida por infraestrutura generalista (51%) e green bonds (títulos verdes) (38%).
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