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Mulheres reclamam de desigualdade de gênero na gastronomia

5 desconfortos que as mulheres enfrentam no mercado de trabalho

12 nov 2022 - 06h00
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Até na gastronomia a desigualdade de gênero afeta as mulheres. Ainda que as mulheres dominem as cozinhas domésticas de 96% dos lares do Brasil (PNAD, 2019), apenas 7% delas estão à frente dos restaurantes mais renomados do país (Chefs Pencil, 2022). 

A pesquisa nacional Juntas na Mesa, realizada por Stella Artois e Ipsos, mostra que são vários os desafios que as mulheres enfrentam na área nas cozinhas de restaurantes, bares, padarias e demais empreendimentos do segmento. 

Kátia Barbosa
Kátia Barbosa
Foto: Fernanda Tricoli / António Rodrigues

Capacidade questionada

35% das mulheres concordam que têm sua capacidade de cozinhar questionada só por serem mulheres. 

“Fui muito ignorada por ser mulher e uma situação que me incomodou bastante foi um dia em que um cliente não acreditou que o prato servido em um jantar havia sido criado e executado por mim, deixando claro que não esperava que uma pessoa com a minha história teria capacidade para aquilo. Tudo foi dito de forma aparentemente gentil, mas o preconceito estava ali”, relembra Kátia Barbosa, que começou sua carreira na gastronomia como ajudante de cozinha e atendente no Aconchego Carioca, restaurante no qual ocupa hoje o posto de chef, no Rio de Janeiro. 

Katita, como é conhecida carinhosamente pelos amigos, também lidera a cozinha do bar Kalango e atua, ainda, como jurada do programa Mestre do Sabor, da TV Globo.

Empreender custa mais caro para elas

Quase 1/3 das mulheres concordam que empreender na gastronomia custa mais caro para elas do que para os homens. Para Ieda de Matos, chef e proprietária da Casa de Ieda, que atua profissionalmente na gastronomia há 10 anos, a barreira financeira sempre foi marcante. 

“Quando o assunto é econômico eu acredito que a dificuldade que tive sempre esteve relacionada à minha condição socioeconômica, em primeiro lugar, já que os momentos em que pude provar renda eu tive acesso ao crédito que precisava. No entanto, o gênero foi o condicionante para que eu não tivesse condição de ter acesso aos postos de trabalho e salário digno e paritário com outros colegas de profissão homens, com o mesmo cargo” revela a chef da Chapada Diamantina, hoje instalada em São Paulo. 

A busca pela profissionalização

Quase metade das mulheres entrevistadas por Stella Artois e Ipsos busca por algum tipo de profissionalização. Elas desejam adquirir mais conhecimento, mas esbarram na falta de tempo e dinheiro. 

“Na minha opinião, o principal desafio para a equidade de gênero é a gente conseguir cada vez mais empoderar e capacitar essas mulheres. A carreira para um homem é muito mais fácil: ele tem muito mais oportunidade do que a mulher. Um homem não vai dar uma pausa na carreira por conta de uma gravidez, ou mesmo para cuidar da família, de um irmão mais novo… isso faz com que os homens tenham mais tempo para se capacitar e investir na carreira”, conta a chef nortista Amanda Vasconcelos, que traz o tempero e ingredientes da comida acreana para o restaurante Casa Tucupi, em São Paulo.

Pratos roubados na cozinha

35% concordam que muitas mulheres já tiveram suas criações e autoria de pratos roubadas na cozinha. Na visão da chef mineira Bruna Martins, visibilidade e oportunidade são as respostas para acabar com a desigualdade de gênero do setor. 

“Na estrutura patriarcal, a cozinha foi e é lugar de isolamento social, obrigação e trabalho compulsório feminino. E mesmo num cenário de machismo foi possível sustentar uma cozinha brasileira cheia de ancestralidade, afetos e técnicas. No cenário profissional, os chefs homens são protagonistas da cena, recebem os ‘louros’ das mídias e premiações e, com isso, mais dinheiro. E isso porque a gastronomia que eles vendem têm suas bases construídas a partir do trabalho feminino compulsório, muitas vezes sofrido”. 

A chef abriu o restaurante Birosca com apenas 22 anos e, hoje, comemora quase uma década de sucesso com o empreendimento em Belo Horizonte.

Michele Crispim
Michele Crispim
Foto: Fernanda Tricoli / António Rodrigues

Discriminação de gênero

29% das profissionais de gastronomia já sofreram ou presenciaram discriminação de gênero ou pensaram em mudar de profissão por falta de oportunidade. Elas só são maioria nos cargos mais baixos (caixa, atendente, auxiliar de cozinha, recepcionista e auxiliar de limpeza), enquanto os homens lideram em posições de maior visibilidade (proprietários, gerentes, chefs e bartenders). 

Michele Crispim, chef catarinense que ganhou projeção nacional com a participação no MasterChef, enfrenta o preconceito em dose dupla por ser uma mulher negra. 

“Eu me sinto estereotipada o tempo inteiro e a minha vida foi quebrar barreiras, entrar, estar e permanecer em lugares que teoricamente ‘não eram para mim’. Sempre tive a sensação de ter que ser melhor, mais forte e mostrar mais a minha capacidade para ser reconhecida. E, mesmo assim, diversas vezes fui desacreditada e desencorajada a seguir. Felizmente pra mim, desistir não é uma opção”, desabafa.

Redação Dinheiro em Dia
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