Empreendimentos priorizam lazer, segurança e economia de tempo
Projetos aproximam moradia e trabalho e oferecem espaços para atividades físicas e sociais, além de medidas de proteção
As empresas de loteamento e desenvolvimento urbano também têm apostado na ampliação de medidas que proporcionam qualidade de vida aos moradores. Assim como o investimento em sustentabilidade, isso tende a valorizar os empreendimentos e os imóveis.
"Medidas de melhor qualidade de vida geram valor econômico, social e simbólico para os empreendimentos e os imóveis", afirma Jorgito Donadelli, diretor de Relações Institucionais da Associação de Empresas de Loteamento e Desenvolvimento Urbano (Aelo).
As iniciativas têm várias vertentes. Um conceito importante é a proximidade com local de trabalho, centros comerciais, escolas e unidades de saúde.
"A qualidade de vida está na eficiência do uso do tempo, que hoje é o bem mais precioso das pessoas. Se você mora num local onde pode levar seu filho à escola, talvez a pé, onde um shopping center está a dois quarteirões, onde o seu trabalho fica a cinco minutos de carro, você tem muito mais tempo de qualidade, você não tem desperdício de tempo", diz Luiz Augusto Pereira de Almeida, diretor da Sobloco Construtora.
Nesse aspecto, ele cita como referência, entre os empreendimentos de sua empresa, o Espaço Cerâmica, em São Caetano do Sul, no ABC Paulista. "Fizemos prédios residenciais e comerciais e um condomínio fechado só para casas. Tudo se faz a pé ali no bairro."
Um espaço do empreendimento foi reservado para a construção de um shopping. O Espaço Cerâmica conta ainda com um hospital. "Hoje o empreendimento está 100% completo, com todos os lotes incorporados ou com edificações", diz Pereira.
Esse conceito de uso misto também é levado em conta pela ITV Urbanismo em seus projetos. "Buscamos criar bairros completos, onde o morador possa trabalhar, descansar, se divertir e ter acesso a serviços próximos, sem precisar de longos deslocamentos", comenta José Eduardo Ferreira, CEO da empresa.
Para permitir que mais moradores possam trabalhar perto de casa, os empreendimentos podem criar espaços como salas de reunião e de coworking, observa Jorgito Donadelli, diretor da Aelo.
O conjunto de equipamentos e estruturas de lazer para atividades físicas e espaços de convivência representa outra frente das iniciativas voltadas para a qualidade de vida.
As medidas adotadas variam de acordo com o grau de sofisticação e o público-alvo do empreendimento. Há casos, como aponta Donadelli, em que a estrutura de lazer pode ser o elemento central do projeto e a atração de compradores.
Exemplos disso são os lançamentos de empreendimentos com estilo praiano como o que a ITV Urbanismo está criando em Redenção, no Pará, na região amazônica, e os que a Conviver Urbanismo desenvolve em cidades do Nordeste nem sempre próximas ao litoral.
O projeto do Conviver Riviera em Barbalha, no Ceará, prevê piscina com estilo de praia, piscina de borda infinita, playground, praça de esportes, academia, espaço para pets e salão de festas. Em Parnaíba, no Piauí, a empresa implanta o Costamare, com estilo de resort e estrutura semelhante.
Em Mairinque, no interior de São Paulo, a ITV Urbanismo lançou o Reserva Mairinque, também com foco no lazer. Ele prevê infraestrutura de clube, com quadra poliesportiva e academia equipada.
Empreendimentos espalhados pelo País também contam, como aponta Donadelli, com quadras de tênis, campos de futebol, pista para corrida e caminhada e ciclovia. Para as crianças, são criados playgrounds e brinquedotecas.
Ele cita que, ainda na esfera da convivência social e do lazer, loteamentos erguem espaços gourmet, com áreas de churrasqueira, forno de pizza e adega, hortas comunitárias e até cinemas e bares. "É importante que toda essa infraestrutura atenda a diferentes faixas etárias e estilos de vidas, inclusive com acessibilidade", diz o diretor da Aelo.
Nesse sentido, começaram a surgir no País os senior livings, empreendimentos desenvolvidos especificamente para a população mais velha "Senior living é um conceito de moradia planejada para pessoas idosas, geralmente a partir dos 60 anos, que buscam qualidade de vida, conforto, segurança e socialização", explica Donadelli.
"Não é um asilo ou instituição tradicional, mas sim um formato moderno de habitação para a terceira idade, que combina independência, suporte, bem-estar e convivência comunitária."
Sensação de segurança
A qualidade de vida também passa pela sensação de segurança, fator valorizado por quem decide viver em condomínios e que leva as empresas loteadoras a adotar medidas de proteção. "A sensação de segurança permite viver com mais tranquilidade, o que impacta diretamente no bem-estar dos moradores e na permanência deles no empreendimento", diz Donadelli.
Ele cita uma série de soluções de segurança que podem ser implantadas: muros combinados com cercas elétricas e sensores de vibração; portaria blindada com sistemas de controle interno; cancelas e clausura de veículos com sistema de duplo portão; iluminação de pontos críticos com sensores de presença; câmeras de alta resolução com monitoramento 24 horas e reconhecimento de placas de veículos; drones de patrulhamento para cobrir áreas extensas; e controle de acesso biométrico, com reconhecimento facial ou digital para moradores e prestadores de serviço frequentes.
É possível, comenta o diretor da Aelo, fazer a automação integrada em uma central de monitoramento, com sistemas que conectam câmeras, sensores e alarme. "A instalação de mais ou menos itens depende do projeto de segurança do empreendimento e também da quantidade de unidades que irão compor o rateio da despesa. Uma taxa muito elevada da contribuição associativa pode vir a desvalorizar o empreendimento. Todos esses pontos precisam ser bem estudados e planejados na fase de desenvolvimento do projeto."
Na gestão e controle de acessos, diz ele, também é importante gerir as entregas e criar espaço de recebimento controlado para delivery, correspondências e encomendas.
As equipes de segurança, prossegue Donadelli, devem realizar rondas e receber treinamento contínuo sobre protocolos de segurança. É importante fazer a "integração com forças policiais e bases de dados de segurança pública e avaliar a instalação de um botão de pânico a ser conectado com a polícia ou empresas de monitoramento".
De acordo com ele, é necessário desenvolver a cultura de proteção entre moradores e trabalhadores do empreendimento por meio de palestras, comunicados e uso de aplicativos para comunicação. "De nada adianta um belo sistema de segurança sem que as pessoas tenham consciência de que a participação delas é fundamental para o plano ser executado com sucesso."
'Criar um bairro exige um longo prazo'
Um dos empreendimentos de referência no Brasil no setor de loteamentos e desenvolvimento urbano completa 46 anos em 2025. Voltada para a classe média alta, a Riviera de São Lourenço foi desenvolvida pela Sobloco Construtora em uma área de 9 milhões de metros quadrados na costa de Bertioga, no litoral paulista.
Trata-se de um bairro planejado, ou seja, um empreendimento mais complexo do que um condomínio. A população de cerca de 20 mil habitantes mais que triplica nas temporadas de verão.
"Existe uma grande diferença entre um condomínio fechado e um bairro planejado. Um condomínio é um empreendimento de execução rápida, definido por ele mesmo, com um número de lotes e uma portaria. Bairro planejado exige muito mais estratégia, muito mais área e prazo. Também enfrenta muito mais burocracia porque exige um número maior de aprovações junto ao Poder Púbico", afirma Luiz Augusto Pereira de Almeida, diretor da Sobloco Construtora.
"Geralmente é um empreendimento de longo prazo. É necessário fazer um planejamento de uso e ocupação daquela área para o decorrer do tempo", explica. "Você vai fazendo um mix de ocupações comerciais, residenciais e de serviços. O objetivo é trazer cada vez mais valor àquela área."
Na Riviera de São Lourenço, além de casas e prédios residenciais, há uma série de empreendimentos e equipamentos. "Hoje a Riviera tem shopping, tem escolas, tem atendimento médico-odontológico, tem todos os tipos de esporte que você queira praticar, de tênis a hipismo", diz Almeida.
Empreendimentos maiores criados na área do bairro planejado, como shoppings, são chamados de âncoras. Eles criam facilidades e oportunidades para moradores e ajudam a valorizar a área. "Você traz novas âncoras, e as pessoas ficam mais interessadas e compram imóveis. Elas estão dispostas a pagar um valor maior para estar naquele local porque há conveniências. A pessoa percebe que aquela região tende a se valorizar. E esse círculo virtuoso vai rodando", comenta o diretor da Sobloco.
Como é a gestão
A administração das áreas comuns do bairro fica a cargo da Associação dos Amigos da Riviera de São Lourenço, criada em 1982 com o impulso da empresa loteadora. "A associação tem 650 funcionários distribuídos em quatro setores: saneamento, segurança, manutenção e administração."
Almeida classifica a Riviera como "o maior projeto de desenvolvimento urbano sustentável" da empresa, que conta com outros empreendimentos no Estado de São Paulo.
"A Sobloco percebeu que as regiões de praia do litoral de São Paulo estavam num processo de deterioração. Então nós incorporamos no projeto da Riviera o planejamento de sustentabilidade, com atenção a questões como água, tratamento de esgoto, gestão de resíduos e manutenção de áreas verdes."
A Riviera é certificada desde 2000 com o selo internacional ISO 14.001 de gestão ambiental. "A Rivera já foi testada e aprovada inúmeras vezes com relação aos quesitos de sustentabilidade. É super consolidada, com mais de 45 anos de existência, 13 mil imóveis e uma população que no verão chega a 75 mil pessoas", diz Almeida.
A preocupação com a agenda ambiental também passa pela energia. "Há um ano, todas as lâmpadas de iluminação pública da Riviera que eram de mercúrio e sódio foram substituídas por LED. Então hoje temos uma eficiência energética muito maior. E também compramos energia limpa do mercado livre".
A Riviera adotou soluções tecnológicas e estruturais como fiação enterrada, cabeamento de fibra ótica e um aplicativo do bairro. "Temos no setor de segurança 1.000 câmeras instaladas, muitas delas com reconhecimento de placas e muitas outras com reconhecimento facial. E nosso sistema está interligado com o sistema Detecta, do governo do Estado."