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Como o acordo de Trump com a UE pode afetar o Brasil e o Mercosul? Veja o que dizem especialistas

Blocos da América do Sul e da Europa estão próximos de ratificação de acordo bilateral, mas os Estados Unidos exigem que europeus comprem mais produtos agrícolas deles e invistam mais no país

3 ago 2025 - 17h11
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Depois de 25 anos de negociações e da assinatura em dezembro de 2024, a União Europeia e o Mercosul estão próximos de assinar um acordo comercial. Para entrar em vigor, falta ainda a aprovação do Conselho da UE e do Parlamento Europeu, o que pode acontecer ainda este ano, segundo disse, em entrevista ao Estadão, o presidente da Comissão de Comércio Internacional (Inta, na sigla em inglês) do Parlamento Europeu, o alemão Bernd Lange.

No domingo, 27, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, fechou um acordo com a UE, que terá 15% de tarifas sobre suas exportações. O acordo foi anunciado após reunião com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, mas gerou polêmica no bloco, onde muitos políticos consideraram que havia muitas concessões a serem feitas.

A UE se comprometeu a adquirir energia dos Estados Unidos no valor de US$ 750 bilhões, como combustíveis fósseis, e a fazer investimentos adicionais de US$ 600 bilhões nos EUA em relação aos que já fazem atualmente.

A diferença hoje entre os investimentos diretos europeus no Brasil e o nos EUA não é tão grande, considerada a diferença de tamanho entre o PIB dos dois países. No ano passado, os EUA receberam € 20,8 bilhões contra € 12,2 bilhões para o Brasil, segundo dados da Eurostat.

A princípio, recursos e compras dos europeus redirecionadas para os EUA podem enfraquecer o impacto do acordo assinado com o Mercosul, mas especialistas acreditam que algumas exigências de Trump podem ser difíceis de serem colocadas em prática.

"Não sabemos exatamente como esse acordo vai funcionar, e se a Europa, de fato, vai gastar dinheiro com os EUA. O Trump criou um mundo sem precedentes", afirma o ex-embaixador Gelson Fonseca Jr, fundador do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri) e que foi representante permanente junto à Organização das Nações Unidas (ONU), entre 1999 e 2003.

"No passado, quando se fazia um acordo com um país socialista ou atualmente até mesmo com a China, se tinha um compromisso, porque o planejamento era estatal. Mas como a União Europeia vai exigir que a iniciativa privada compre mais e invista nos EUA?"

Cônsul-geral em Nova York e, depois, em Los Angeles entre 2005 e 2012, José Alfredo Graça Lima reconhece que há grandes desafios para colocar em prática as exigências dos Estados Unidos. Ainda assim, avalia que o impacto sobre o acordo com o Mercosul pode ser limitado, por diversas razões.

Trump exige, por exemplo, a isenção de produtos do agronegócio americano. "A Europa não será inundada por produtos americanos. O que garante que os europeus farão os investimentos? A União Europeia também não tem como obrigar os importadores do bloco a comprar mais dos EUA ou o consumidor a demandar mais", afirma o diplomata, que é vice-presidente do conselho curador do Cebri e foi responsável pelas negociações bilaterais do Brasil e do Mercosul, quando era subsecretário-geral para assuntos de integração, econômicos e de comércio exterior, entre 1998 e 2002.

Graça Lima também lembra que, a partir dos anos 1980, o Brasil se esforçou muito para abrir o mercado de arroz exportado para o Japão. Mas, os negociadores asiáticos insistiam que havia grande diferença no tipo de arroz produzido pelo País e o consumido no Extremo Oriente. "Não é com medidas como essas que o comércio vai se alterar. Existem diferenças culturais de consumo", diz.

José Alfredo Graça Lima foi um dos primeiros negociadores do Brasil nas conversas entre o Mercosul e a União Europeia (UE)
José Alfredo Graça Lima foi um dos primeiros negociadores do Brasil nas conversas entre o Mercosul e a União Europeia (UE)
Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil / Estadão

"A natureza das exportações do agro também tem uma característica de ser definida por cotas. Os produtos do Mercosul terão cotas para entrar na Europa, assim como os vindos dos EUA. E também envolvem produtos diferentes", diz.

Outro ponto que evita contato do acordo americano com o Mercosul envolve a própria natureza das tratativas relativas ao Brasil e a Europa. "O Mercosul também não vai inundar a Europa com seus produtos. A França está irredutível para evitar a chegada dos produtos agrícolas do Mercosul", diz. "E o próprio acordo assinado é muito modesto. Ele é muito importante institucionalmente, anima os investidores, mas em termos de comércio ele é tímido."

Estadão
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