Brado inaugura operação comercial de contêineres na rota ferroviária mais longa do país
A Brado, transportadora de contêineres que tem a operadora logística Rumo como principal acionista, iniciou a operação comercial de contêineres da rota ferroviária mais longa do Brasil, com quase 3 mil quilômetros, ligando São Paulo ao Maranhão pela região central do país.
A operação utiliza 2.100 quilômetros de trilhos da malha da Rumo entre Sumaré (SP) e Porto Nacional (TO) e outros 634 quilômetros de ferrovia da VLI - que tem a gestora canadense Brookfield e a mineradora Vale como maiores acionistas - até terminal em Davinópolis (MA). No final da rota, Davinópolis está a cerca de 570 quilômetros de São Luís.
A rota, que utiliza a Ferrovia Norte-Sul, uma das maiores ferrovias das Américas, está em testes desde meados de julho e a Brado já realizou oito viagens, transportando um total de 504 contêineres carregados com mais de 10,9 mil toneladas de produtos.
"Queremos fazer mais duas viagens até o final do ano", disse o presidente-executivo da Brado, Luciano Johnsson Neves, em entrevista à Reuters. "Ano que vem prevemos cerca de 5 mil contêineres...2027 poderíamos ter o dobro disso, entre 5 mil e 10 mil", acrescentou, citando que o mercado na rota mostra demanda para cerca de 64 mil contêineres por ano.
Para a Brado, a rota representa uma diversificação para além do eixo Mato Grosso-São Paulo, com a empresa passando a atender também Norte e Nordeste do país. Também representa um ganho de estabilidade nas operações, uma vez que um dos principais produtos transportados pela Brado, pluma de algodão, passa por sazonalidades típicas da cultura.
"Abrimos horizontes...Começamos a conectar áreas onde nunca operamos", disse Neves. "Isso traz mais estabilidade para melhorarmos eficiência operacional", acrescentou, citando entre as possibilidades após 2027 uma eventual conexão da Zona Franca de Manaus por meio da ferrovia.
Para fazer a operação entre Davinópolis e Sumaré, que já conecta a Brado a Rondonópolis (MT), ao porto de Santos e ao porto de Sepetiba (RJ) via acordo acertado ano passado com a MRS, a companhia paga direito de passagem para a VLI, disse Neves, sem comentar detalhes. Todas as ferrovias estão conectadas em bitola larga.
Saindo de Sumaré, a composição da Brado chega em Davinópolis após sete dias, ante um prazo por rodovia de quatro a seis dias, disse o executivo. O custo do frete, porém, é "um pouco menor" que o rodoviário, afirmou, comentando que índice de avarias na carga é baixíssimo uma vez que ela vai dentro dos contêineres.
O prazo significa que, com um trem, a Brado consegue fazer duas viagens ida e volta, ou ciclos, por mês na rota. Por cabotagem, que assim como ferrovia é capaz de levar grandes volumes de cargas por vez, cada ciclo leva de 15 dias a 30 dias, disse Neves.
Como comparação, no serviço já estabelecido da Brado entre Rondonópolis e Santos, a empresa trabalha com uma capacidade de 5 mil contêineres por mês com ajuda de 40 trens, afirmou o executivo.
Com o crescimento da operação da Brado pela Norte-Sul, a empresa poderá colocar mais composições na ferrovia, hoje operada com vagões que transportam dois contêineres de 40 pés em linha. Neves disse que uma operação com contêineres empilhados, o chamado "double stack", é uma possibilidade.
Segundo a Brado, no fluxo de "subida", de Sumaré para Davinópolis, o serviço atende clientes de grande porte com produtos como materiais de construção, defensivos agrícolas e fertilizantes, nutrição animal, alimentos e bebidas. No fluxo de "descida", o transporte é de bens industriais, como lingotes de alumínio.
A Brado teve receita de R$680 milhões em 2024, 20% maior que 2023, disse Neves. "Até setembro deste ano, fizemos R$580 milhões...E essa rota nos ajuda a continuar crescendo", afirmou o executivo.