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Segunda protagonista negra às 21h na Globo pode vingar massacre contra Taís Araújo

Barbara Reis tem a oportunidade de brilhar em ‘Terra e Paixão’ 14 anos depois da rejeição racista à única Helena preta

8 mai 2023 - 10h03
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Não, não é mimimi. O racismo estrutural se faz presente também na principal atração – a novela das 9 da Globo – do mais popular veículo de comunicação, a televisão.

A emissora líder de audiência está decidida a lutar contra essa discriminação execrável e contraditória no mais miscigenado país do planeta.

A sinopse de ‘Terra e Paixão’ entregue pelo autor Walcyr Carrasco à cúpula do canal indicava que a personagem principal da novela seria branca.

Decididos a ampliar a diversidade racial no vídeo, os diretores da Globo pediram que ele mudasse a origem racial de Aline.

A atriz inicialmente escalada, Agatha Moreira, que é branca, foi remanejada para o papel da vilã Graça. Após testes, a protagonista foi entregue a Barbara Reis.

Trata-se apenas da segunda atriz negra a liderar o elenco de um folhetim das 21h na Globo, o horário com intervalo mais caro da TV.

A precursora foi Taís Araújo, a primeira e única Helena preta do autor Manoel Carlos. Em ‘Viver a Vida’, de 2009-2010, ela era uma modelo famosa e rica.

Houve forte rejeição à personagem. Em uma live, três anos atrás, a artista analisou a situação.

"O Maneco teve um pensamento super de vanguarda naquele momento. Ele quis escrever uma personagem negra, rica, bem-sucedida, sem justificar o caminho dela. Simplesmente ela é. Só que naquele Brasil lá de trás, era muito esquisito.”

Na visão de Taís, parte relevante dos telespectadores não aceitou – mesmo sendo uma ficção para mero entretenimento – uma preta em posição social tão elevada.

“Como é que essa mulher não arrastou uma corrente, não passou fome, por que ela merece estar nesse lugar? ‘Ela é perfeita’, as pessoas falavam.”

Desde a inauguração da TV no Brasil, em 1950, os noveleiros se acostumaram a ver atores negros geralmente em papéis de escravos, empregados domésticos e criminosos. A teledramaturgia reforçou o estereótipo do preto subalterno e fora da lei.

Duramente criticada pelo público e uma parcela da imprensa, a Helena de ‘Viver a Viva’ se tornou um tormento para Taís Araújo. “Fiquei bastante frustrada”, admitiu. “Me deixou estruturalmente desestruturada.”

O abalo não acabou após o fim da novela. “Entrei de cabeça na tristeza e lá fiquei por uns dois anos. Pensei: ‘Minha carreira acabou’”, disse em entrevista à revista ‘Marie Claire’.

Em 1996, Taís havia conhecido o sucesso no horário nobre da TV Manchete interpretando Xica da Silva, a escrava que vira sinhá na novela homônima escrita por Walcyr Carrasco.

Na Globo, fez história como Preta na trama das 19h ‘Da Cor do Pecado’, de João Emanuel Carneiro, exibida em 2004. Tornou-se a primeira protagonista negra do canal sob elogios dos críticos e aplausos dos telespectadores.

Agora, 14 anos depois do massacre contra a atriz em ‘Viver a Viva’, Barbara Reis tem a oportunidade de fazer um desagravo.

Sua Aline, uma jovem viúva que luta pela terra manchada com o sangue do marido assassinado, apresenta credenciais para derrotar os racistas que se incomodam com a ascensão e o estrelato de artistas de pele preta na TV.

No ‘Fantástico’, ela foi entrevistada pela repórter Mariana Bispo. “Fico muito feliz, muito representada. Acredito que também outras mulheres negras e meninas do subúrbio por aí do Brasil, com essa sua oportunidade”, disse a jornalista.

“Colocar pessoas como a gente, negras, em lugares protagônicos, é histórico esse momento que a gente vem passando sobre a representatividade. Lá na frente, se torne natural”, comentou Barbara Reis, a novela estrela de novela da Globo.

A nova protagonista Barbara Reis e a precursora Taís Araújo: a TV precisa lutar contra o racismo que ajudou a propagar
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Foto: Fotomontagem: Blog Sala de TV
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