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Depressão como a de Beto provoca o suicídio de muitos homens

Quase 80% dos 11 mil brasileiros que se matam a cada ano são do sexo masculino

20 jun 2018 - 16h55
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Beto Falcão (Emílio Dantas) perdeu a própria identidade e não consegue ficar com a mulher que ama
Beto Falcão (Emílio Dantas) perdeu a própria identidade e não consegue ficar com a mulher que ama
Foto: Paulo Belote/TV Globo / Divulgação

Sentindo-se um fantasma por não viver a própria identidade e abatido pela distância da mulher que ama, Beto Falcão (Emílio Dantas) passa boa parte do tempo no quarto, deitado. Às vezes chora, dolorosamente.

O protagonista de Segundo Sol sofre de depressão. Não é um caso apenas ficcional. Milhões de homens padecem em razão do mesmo transtorno. A maioria sofre em silêncio por vergonha de pedir ajuda.

A sociedade exige uma postura insensível do macho ocidental: não pode demonstrar fragilidade, carência ou medo. Essa imposição cruel produz milhares de suicídios de homens deprimidos que não buscaram tratamento. 

O número de mortes relacionadas à deterioração da saúde mental cresce assustadoramente. A depressão é a principal causa de suicídio no mundo. A cada ano, cerca de 11 mil brasileiros se matam – destes, 79% são homens. Os dados são do Ministério da Saúde.

Na novela das 21h da Globo, Beto foi obrigado a viver uma existência mentirosa. Dado como morto num acidente aéreo, assumiu a identidade de Miguel, um falso primo do ‘finado’ cantor de axé transformado em ídolo póstumo na Bahia.

O dinheiro procedente do golpe proporciona conforto, mas não ameniza o drama existencial do rapaz. Ele se sente um morto-vivo e passa a hostilizar quem faz elogios a ele próprio – ou melhor, ao saudoso Beto Falcão. São quase 20 anos de farsa. Quem suportaria abrir mão de ser quem se é por tanto tempo?

A outra fonte de tortura emocional é Luzia/Ariella. Beto está mais apaixonado do que nunca. Depois de um caloroso reencontro com a ex-marisqueira, perdeu novamente contato com ela. Esse desencontro consome sua alma.

Poucos folhetins mostraram um herói sofrendo tanto por uma mulher. O músico de Segundo Sol está, aos poucos, morrendo de amor. Sua família acha que a cura está na reconciliação com a vilã Karola (Deborah Secco). 

Gravação de cena com Beto (Emílio Dantas) e Valentim (Danilo Mesquita): pai e filho apresentam problemas emocionais comuns ao homem da ‘vida real’
Gravação de cena com Beto (Emílio Dantas) e Valentim (Danilo Mesquita): pai e filho apresentam problemas emocionais comuns ao homem da ‘vida real’
Foto: Paulo Belote/TV Globo / Divulgação

Somente o filho dele, Valentim (Danilo Mesquita), igualmente sensível e também apaixonado por uma mulher de história complexa (a garota de programa Rosa/Letícia Colin), consegue compreender o sofrimento de Beto. Os dois são os ‘mocinhos’ mais martirizados na teledramaturgia recente da Globo.

O autor João Emanuel Carneiro usa Beto Falcão para conscientizar os telespectadores contra o tabu de que homem não pode sofrer. As causas de aflição são variadas: pressão no trabalho, insatisfação no relacionamento, crise financeira, impotência sexual e debilidade pelo envelhecimento estão entre as mais comuns.

A depressão não tem cura, mas possui tratamentos medicamentoso e psicoterapêutico capazes de restaurar a qualidade de vida do paciente, seja homem ou mulher.

Beto Falcão terá final feliz. Mas a vida não é uma novela. Por isso é tão importante discutir a depressão até mesmo em obras de entretenimento, feitas teoricamente apenas para afastar por algum tempo as pessoas de suas dores cotidianas.

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