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Novela destaca a fragilidade da fama e a futilidade do povo

‘Segundo Sol’ faz retrato do brasileiro que adora endeusar e desprezar seus ídolos

15 mai 2018 - 09h35
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“O meio mais eficaz para obter fama é fazer o mundo acreditar que já se é famoso”, escreveu o poeta italiano Giacomo Leopardi.

Beto Falcão (Emílio Dantas), o protagonista de ‘Segundo Sol’, descobre isso por meio de ‘fake news’.

Dado como morto em um acidente aéreo, o cantor de axé decadente acorda de um cochilo transformado no homem mais famoso do Brasil.

Beto (Emílio Dantas), se passando por Miguel, e Luzia (Giovanna Antonelli): um casal apaixonante.
Beto (Emílio Dantas), se passando por Miguel, e Luzia (Giovanna Antonelli): um casal apaixonante.
Foto: João Cotta/TV Globo

Os mesmos ex-fãs que o desprezaram dias antes, no auge do período de declínio de sua carreira, agora choram copiosamente pelo ídolo desaparecido.

Os canais de TV aproveitam a comoção nacional para ganhar audiência com a exploração da falsa tragédia.

Um fabricante de cerveja quer usar uma música do ‘falecido’ para promover a bebida e logo surge a proposta de filmar a vida e a morte do artista até então visto como um fracassado.

O cantor de axé Beto Falcão (Emílio Dantas) simboliza o artista na corda bamba entre o sucesso e o fracasso.
O cantor de axé Beto Falcão (Emílio Dantas) simboliza o artista na corda bamba entre o sucesso e o fracasso.
Foto: João Cotta/TV Globo

O irmão malandro Remy (Vladimir Brichta) e a ex-noiva ambiciosa Karola (Deborah Secco) se apressam em faturar com a desgraça do cantor.

Os golpistas só faltam cantar ‘Morreu, morreu, antes ele do que eu’ em cima do cadáver inexistente.

Na segunda-feira (14), no capítulo de estreia de seu novo folhetim, o autor João Emanuel Carneiro ressaltou a frivolidade em torno da idolatria de celebridades.

Expôs com precisão a realidade no meio artístico: o sucesso de hoje pode anteceder a derrocada de amanhã; o público de agora não terá pudor em desdenhar o herói de ontem.

Com ética flexível, e seduzido pela redenção instantânea produzida pelo boato de sua morte, Beto Falcão aceita a farsa.

“Tô valendo mais morto do que vivo”, diz, irônico.

Então isola-se numa ilha, onde conhece a ‘Gabriela Cravo e Canela’ local, Luzia (Giovanna Antonelli).

A doce personagem representa o oposto do que ele viveu até então: o desapego e a felicidade simples.

Competentes, belos e carismáticos, Giovanna e Emílio não precisaram mais do que meia dúzia de cenas para convencer como casal romântico. Impossível o noveleiro não torcer por eles.

No final do ágil primeiro capítulo, Luzia, uma ex-vítima de violência doméstica, se descobriu grávida.

Antes mesmo de contar a Beto, a quem conhece por Miguel, a marisqueira é vítima da armação de Remy e Karola.

A ex-garota de programa comunica à rival uma gravidez evidentemente mentirosa com o objetivo de separá-la de Beto e, assim, preservar a exploração da galinha dos ovos de ouro.

Com direção artística de Dennis Carvalho e direção geral de Maria de Médicis, ‘Segundo Sol’ teve um começo irrepreensível.

Apresentação eficiente e bonita de uma trama atrativa capaz de entreter e, ao mesmo tempo, refletir aspectos deploráveis que afamam o brasileiro, como o desejo de levar vantagem a qualquer custo e o sadismo diante da ruína do outro.

Arrisco-me a afirmar que nasce um novelão imperdível.

(‘Segundo Sol’, Globo, segunda a sábado, 21h15)

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